Crucified - Midnight Light

𝐂𝐚𝐩𝐢𝐭𝐮𝐥𝐨 27 - Crucified

Eu estou sendo Crucificada.
Crucificada como meu salvador.
Por uma vida inteira eu rezei, o céu está cada vez mais distante

É irônico pensar nisso, passei minha vida inteira, literalmente, me preparando para ser freira e me casar com Jesus para certo dia conhecer um homem e me apaixonar por ele, e agora estou presa em uma cruz tomando banho de sangue apenas por me entregar a esse homem, isso é tão errado? Porque eu estou pagando por algo que fui feita para fazer? Deus me fez assim, fez todos assim, fomos feitos para errar e amar, porque eu estou pregada em uma cruz se eu só errei e amei? Porque estão me julgando por isso sendo que sou feita de carne e tenho tendência a pecar?
As vezes o clero não é justo, principalmente com nós, irmãs. Um dia eu sonhei em alcançar a Deus, a amar como cristo e espalhar sua palavra, mas nunca achei que acabaria amarrada em uma cruz como ele. Injustiçado. Odiado. Julgado por um crime que não cometeu.

Lembro quando meu avô morreu e minha vó disse que ele está com Deus, eu quis alcança-lo para estar mais próxima ao meu avô, agora vejo que não importa o quanto eu tente ser perfeita, nem o quão religiosa eu seja para alcança-lo e fazer tudo exatamente como querem, mais cedo ou mais tarde serei crucificada.

Crucificada. Crucıfıed. Crucificada.
Fecho os meus olhos e respiro fundo notando que o sangue parou de cair e suspiro, eu quero ser melhor de agora em diante, e Deus há de me ajudar. 

Quando me tiram da cruz minha primeira reação foi massagear meus pulsos que agora doem muito, todos da igreja já se retiraram e fui deixada sozinha ali.

– Na mesa há um par de roupas limpas e na saída, suas malas. Tome um banho e vá embora. - É tudo que a irmã Elizabeth diz antes de me deixar completamente sozinha na igreja.
Deito no chão ainda vermelho e choro como uma criança, uma criança que foi tirada da mãe, uma criança que apanhou do pai. Quando tomo coragem para me sentar, ouço passos atravessando o salão vindo até mim, quando menos percebo um corpo me abraça forte me segurando como se eu fosse de vidro, só de sentir o cheiro dele - o cheiro do Tyler - meus neurônios já começam a funcionar novamente.

– Eu vou matar os filhos da puta que fizeram isso com você. - Ele diz acariciando meu cabelo e tudo que eu sei fazer é chorar. – Eu deveria ter cuidado de você. - Levanto minha cabeça para encara-lo

– Não foi culpa sua.

– Se eu soubesse que fariam uma atrocidade dessas eu jamais teria permitido. Eu deveria ter lutado ao seu lado e ter passado por isso com você.

– Tyler. - Me sento direito e olho para ele – Você protegeu seu irmão. O que eu fiz foi absurdamente errado e eu sinto muito. Você não tem culpa, você estava apenas sendo bom e perfeito como sempre. Eu sei que você jamais deixaria isso acontecer comigo.

– Eu deveria ter protegido você. - Ele acaricia meu rosto na tentativa de limpa-lo. – Agora vem, eu vou te dar banho. - Ele se levanta segurando minhas mãos me ajudando a levantar, me apoio a ele e com dificuldade caminho até a porta.

Ao menos, o pior já passou.