Capítulo 1

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Para minha mãe, Gilda Passos,
meu farol, que brilha em qualquer lugar até mesmo em meio à escuridão mais intensa que existe.

Aquelas pessoas cheias de segredos e personalidades tão distintas partiram, carregando consigo o reflexo de um destino quebrado em direção ao misterioso desconhecido.

A família Albuquerque se despediu de sua residência em Florianópolis para embarcar em uma mudança em direção ao Rio de Janeiro. A decisão surgiu devido à falta de contato de Giovanna e seus filhos adolescentes, Pietro e Isabela, com sua mãe Graziela e pela nova oportunidade de trabalho ao seu esposo, Diogo. Enquanto todos estavam ansiosos para a nova fase de suas vidas, o garoto de 16 anos de cabelo loiro escuro e marcantes olhos esverdeados que herdou de seu pai, não compartilhava do mesmo entusiasmo. Sua repulsa se dava pela relação distante com a avó desde que ela foi morar na capital e se tornou apresentadora após a morte do cônjuge, Henrique, o qual era extremamente próximo do menino. Ele sabia que iria sentir falta do que aquele lugar sempre lhe ofereceu: o sussurro tranquilizador de cada onda do mar e cada pedalada por aquela orla que era sua válvula de escape.

A viagem rumo à famosa cidade era uma mistura de expectativa, receio, nostalgia e ansiedade. Enquanto o carro avançava pelas estradas sinuosas, Diogo, não dialogava tanto, tentando trazer mais racionalidade, preocupando em se manter concentrado no volante, guiando com segurança, mas com um brilho de empolgação nos olhos, já que sabia que seu lado profissional só tinha a crescer cada vez mais no mundo carioca. Giovanna, apesar da mudança, pensava em tudo o que deixavam para trás e com esperança de que seria tão ou até mais feliz do que era. Isabela, também não se mostrava contente, mas via aquilo como uma chance de explorar um novo mundo. Ela que como a mãe, tinha cabelo longo moreno, estava com ressalvas, mas ainda assim curiosa e entusiasmada para conhecer o que ainda era, naquele momento, oculto. Pietro, tentava ficar mais quieto, na sua, observando a paisagem passar pela janela, trazendo um misto de melancolia e preocupação. A cada quilômetro que passava, ele sentia a crescente distância do seu eu do passado. Apesar de serem diferentes, todos compartilhavam o nervosismo e a incerteza, cada um expressando de sua maneira.

O cenário mudou e passou de ser apenas estradas tranquilas e paisagens naturais para a agitação urbana e a imensidão de prédios que se erguiam à frente da família. O trânsito intenso, as cores vibrantes e a movimentação de pessoas. Aquilo e mais um pouco traziam a energia singular e a essência do local. Enquanto o advogado seguia atentamente as instruções do GPS, a apreensão aumentava.

O veículo parou diante de um imponente e alto portão, o que revelava uma fachada impecável. A casa exibia uma arquitetura modéstia e discreta com suas janelas amplas, uma varanda no primeiro andar frontal, aberta e espaçosa que avistava ao longe o azul cintilante da praia e o reflexo dourado do Sol sobre o mar. Nos fundos, era acolhedora com sua decoração elegante. Uma experiência única e inesquecível de ser apreciada.

Apesar dos outros ficarem familiarizados com o novo lar, Pietro não queria demonstrar seu nervosismo. Vestindo um moletom marrom, calçando seus tênis brancos e pegando sua bicicleta, através de um sorriso forçado, decidiu explorar o bairro. A brisa suave do entardecer suavizava e acariciava seu rosto, em meio aquelas árvores imponentes que mesclavam às casas que traziam o ar de familiaridade e elegância. O céu estava passeando por cores douradas, enquanto ele buscava refúgio em meio ao que ainda não conhecia, sem se dar conta de que o tempo passava.

Simultaneamente, Giovanna e Diogo, começaram os preparativos para o jantar, ansiosos para o momento inaugural da casa. No momento em que Diogo foi ao banheiro, a adulta de pele parda e olhos castanhos, subiu as escadas em direção ao novo quarto da filha e a perguntou:
— Tô vendo que já escolheu seu quarto — falou rindo discretamente.
— Tenho que aproveitar enquanto o Pietro tá fora de casa — também compartilhou o
clima leve.
— Acha que ele vai demorar muito, Isa?
— Mãe, eu não faço ideia. A senhora sabe que quando ele sai assim pra espairecer, perde a noção do tempo.
— Nunca vi um garoto gostar tanto de andar de bicicleta.
— Olha, ele não quer demonstrar, mas eu sei que ele não tá muito contente com tudo isso. Eu também não, mas acho que vai ser melhor assim.
— Ai, filha, eu sei. Tomara que com o tempo, tudo isso melhore.

Os AlbuquerqueOnde histórias criam vida. Descubra agora