Capítulo 5

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Uma noite de lua cheia, por volta das 23h20. O trajeto, inicialmente previsto para 40 minutos até a casa dos Albuquerque, se tornou palco de um desdobramento trágico que alteraria o destino de Miguel, Pietro e Isabela.

O impacto os deixou inconscientes, mergulhados em um sono profundo, enquanto a noite seguia seu curso implacável. Foi somente às 3h30 da madrugada que duas pequenas meninas, crianças turistas, explorando a capital no interior de um carro, testemunharam a cena desoladora. Correram para informar seus pais, que, alarmados, não hesitaram em chamar a ambulância com os olhos arregalados e surpresos.

A ambulância chegava com as luzes piscando em um lamento silencioso. Em meio a todo o processo meticuloso de preparo para serem levados, a família que testemunhara o evento trágico percebeu uma coincidência intrigante: os feridos eram os netos de uma apresentadora famosa, a figura pública Graziela Albuquerque. No entanto, a presença de Miguel permanecia como um enigma, uma figura desconhecida que pairava na penumbra de uma história ainda não revelada. Impulsionado pela sua fama, rapidamente se espalhou pelos noticiários, virando pauta por todo o país.

A celebração de Oliver e Caio foi impulsivamente interrompida com a chegada dos pais do antigo presidente do grêmio. O semblante dos anfitriões, anteriormente radiante, agora refletia a sombra da preocupação. Os pais, ao tomarem conhecimento do acidente, perceberam a proximidade do acontecimento com a Avenida Atlântica, situada a apenas 10 minutos do bairro. Uma inquietação silenciosa permeava o ambiente, enquanto os convidados começaram a se despedir e a festa se dissolveu antes do previsto. A notícia do acidente repercutiu não apenas entre os familiares diretamente envolvidos, mas também nas esferas sociais mais amplas. A mansão, que outrora pulsava com risos e música, agora testemunhava a transição para uma mudez cheia de apreensão.
— Bora, quero agora todo mundo vazando da minha casa, vamo! Vamo! — falou o pai do que ocasionou a festa com a pele vermelha em decorrência da fúria que tomava conta de seu corpo.
Quando ficou apenas o garoto ao lado dos pais, ele o questionou:
— Por que aqui tá parecendo um puteiro? Sei lá. Uma parada gay, algo do tipo. Um monte de cor, bandeiras arco-íris, etc, etc, etc. Que palhaçada é essa, Oliver?

Já pela manhã, Giovanna, ao atender a ligação da casa de saúde, sentiu uma onda de déjà vu, revivendo uma angústia — quando Pietro enfrentou outro acidente. A repetição do pesadelo agora ganhava novas dimensões, pois ele não estava sozinho.

Diogo, recebendo a notícia com um nó na garganta, agiu instintivamente. A preocupação o fez se dirigir rapidamente para o local onde sua ex-esposa enfrentava uma nova aflição. Agatha, em busca de alívio em uma xícara de café no corredor, o encontrou.
— Você já tá indo embora? Eu não te liberei para ir mais cedo. Espera... Meu Deus, Diogo! Que cara é essa?
— Meus filhos sofreram um acidente de carro, eu tenho que ir pro...
— Hospital agora. Ok. Deixa eu só pegar minha bolsa. Vou com você.

A repercussão fez com que a senhora de terceira idade, em sua mansão, se deparasse e recebesse a notícia através do relato na televisão. Ao perceber que os envolvidos eram seus netos, Pietro e Isabela, e Miguel, o até então desconhecido para o público, uma mistura de preocupação e mágoa a invadiu. Decidida a ir ao encontro da família, ela se dirigiu movida pela urgência de estar ao lado de seus entes queridos. Contudo, a tristeza por não ter sido informada previamente revoava sobre ela, adicionando uma camada de complexidade à situação já delicada.

Nas suas devidas macas, Pietro e Isabela despertaram, ainda sob o encanto do sono profundo. A intensidade do ambiente ambulatório os envolveu, os trazendo de volta à realidade de forma inesperada. Seus olhares se cruzaram, refletindo o susto compartilhado diante da desconhecida luminosidade. O zumbido dos equipamentos médicos criava uma trilha sonora que ecoava no quarto, intensificando a sensação de desorientação. Onde antes reinava o escuro do inconsciente, agora a realidade vinha se impondo com nitidez.
— Isa, onde que a gente tá?
— Ai, que dor de cabeça. Parece um hospital.
— Que que aconteceu? — se perguntaram ao mesmo tempo.

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