Os Albuquerque

Capítulo Final

1976

Em uma exposição de arte contemporânea na galeria da faculdade, a futura apresentadora admirava uma pintura intrigante, composta por luzes vibrantes e espelhos distorcidos, quando encontrou Henrique do outro lado da sala, segurando sua câmera, observando intensamente as obras com uma expressão de fascínio. Graziela sentiu um arrepio percorrer sua espinha. Esqueceu as pessoas ao seu redor, as pinturas, os cheiros, os sons, os rostos, a não ser o dele. O fato de Henrique estar encantado refletia sua profunda apreciação e curiosidade para saber mais sobre as artes. Enquanto ela o observava, notou a maneira como segurava a máquina com confiança, parecendo estar pronto para capturar cada detalhe do diante deles e da futura história que viriam a escrever juntos.

Sem quebra de contato visual, sentiu um impulso inexplicável de se aproximar daquele com os cabelos cacheados na época. Movendo-se com uma graciosidade quase hipnótica, a de cabelos loiros sedosos atravessou a sala até chegar ao lado dele, tendo seus passos reverberando sutilmente no chão polido da galeria.
— É bem bonito, não acha? — ela murmurou melodiosa, rompendo a mudez entre eles.
Henrique virou-se para ela, surpreso por sua proximidade, mas seu rosto se iluminou calorosamente quando seus olhares se encontraram novamente.
— Sim, é realmente fascinante. Nunca vi algo assim antes.

Apesar de anos depois se encontrar dividida entre dois homens, Graziela nunca deixou de amar nenhum deles em um labirinto emocional onde cada caminho a levava mais fundo em seu dilema. Henrique, com sua serenidade reconfortante, representava a segurança de um lar estável, mas Paulo, com seu magnetismo envolvente, trazia na bagagem uma paixão avassaladora. Ela se via dividida entre a calmaria e a tempestade, entre a segurança e a emoção pura, incapaz de escapar das garras do amor que nutria por ambos. Cada olhar trocado, cada toque compartilhado, era um lembrete doloroso de sua incapacidade de escolher, a deixando em um estado de agonia constante, lutando para encontrar clareza em meio ao caos do seu coração dividido.

1980

Enquanto se preparava para o momento mais significativo de sua vida, cada segundo parecia se esticar como uma fita de cetim, lenta e doce. Graziela podia sentir a delicadeza do tecido do vestido de noiva contra sua pele, cada renda e cada bordado como uma obra-prima meticulosamente elaborada. Cada detalhe, desde os botões de pérola até a cauda que se arrastava em câmera lenta pelo chão, era uma promessa de elegância e romance. Enquanto seus dedos tremiam levemente ao ajustar o véu sobre seus ondulados loiros, fechou os olhos por um momento, lembrando da face do por quem entregava tanto amor.

Ela se sentia como se estivesse flutuando em um sonho ao entrar na igreja. O perfume suave das flores frescas impregnava no ar, misturado com o aroma de incenso, criando tranquilidade e solenidade.

Quando finalmente viu Henrique a esperando no altar, aquela sinfonia de ansiedade e excitação que vinha sentindo desvaneceu e uma onda de calma a envolveu. Aquele sorriso, radiante e amoroso, era um farol de esperança para ela. Uma esperança de que ele seria o pai dos seus futuros filhos, de que seria o melhor esposo na face da terra e que a faria se sentir completa a cada segundo que se passasse.

Ao alcançá-lo, sentiu como se o mundo inteiro tivesse desaparecido ao seu redor ao perceber as pupilas cheias de amor, admiração e compreensão. Ali, diante de Deus e de seus entes queridos, trocaram votos de amor eterno. Envolta por uma aura de paz e plenitude com apenas ela e o primeiro dos dois amores de sua vida, unidos pelo vínculo sagrado do amor, prontos para enfrentar juntos os desafios e as alegrias que a vida lhes reservava. Trocando olhares cheios de promessas para o futuro, Graziela soube que estavam prontos para iniciar uma nova jornada, um passo de cada vez, em direção a um horizonte iluminado pela certeza do amor verdadeiro e pela expectativa de uma felicidade duradoura.