Capítulo 4

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Na festa de aniversário dos gêmeos Pietro e Isabela, a ausência do pai se projetava como um vazio positivo sobre a celebração. Havia duas semanas de sua saída do lar, impondo um desconcerto à família.

Os convidados se entregavam a diálogos e os aniversariantes aguardavam ansiosos, se questionando se Sophie faria presença para marcar o momento especial. Repentinamente, gritos chegavam através da entrada da casa, quebrando a normalidade da noite.

Diogo, visivelmente embriagado, assegurava não ter esquecido a data especial e estava decidido a não perder a festa. O choque se instalou nos filhos, da mesma forma como em Giovanna e nos demais, ao testemunharem a cena caótica. O advogado, entre desespero e ousadia, declarava a necessidade de esquecer desavenças e reatar, ignorando a clara aversão da ex-esposa, que com firmeza, tentava contornar a situação, o expulsando da celebração.

Ao término do momento, ela relembrou as memórias, já que tinha recebido uma notificação em seu celular, revelando lembranças de uma viagem feita com ele há quatro anos. Visualizando as fotografias, as lágrimas fluíram, testemunhas da mudança abrupta na sua vida e na relação com seu ex-marido.

No dia seguinte, Isabela, acompanhada por Arthur, se deparou com uma surpresa inesperada no trabalho, proporcionada por Caio. Um cupcake adornado por uma vela de aniversário e um par de brincos. As confusões se refletiam no rosto do namorado, optando por não manifestar desconforto.

Simultaneamente, Pietro, a caminho do trabalho, foi envolvido em uma celebração organizada por Sophie, Samuel e os outros funcionários. Os parabéns não eram apenas pelo seu aniversário, mas também pela dedicação incansável. A garota expressava um reconhecimento profundo, transformando a surpresa em um gesto de apreço genuíno.
— Parabéns Pietro, pelo seu aniversário, esforço e por tá aqui comigo esses últimos tempos. Você me surpreendeu muito e é muito dedicado, meu funcionário do mês.
— Espera, quê? Eu sou o funcionário do mês?
— Aham, é sim.

No tempo em que ela respondia às perguntas do adolescente com um sorriso cúmplice, Samuel entrava, carregando uma bandeja repleta de batatas fritas douradas e suculentos hambúrgueres. O aroma se fragmentava quando outro membro da equipe surgia, equilibrando com agilidade uma seleção tentadora: sorvetes cremosos e fatias generosas de pizza, tudo meticulosamente escolhido para agradá-lo.
— Meu Deus, que que aconteceu? Isso é pra mim?
— Se quiser, eu levo tudo de volta — Samuel ria em tom descontraído.
— Não, não precisa, Samuel — respondeu na mesma intensidade.
— Eu sabia que você não ia rejeitar essas coisas. Aproveita teu dia, garoto. Presente nosso.

Cada mordida prometia uma explosão de sabores reconfortantes, uma celebração culinária para complementar o ambiente descontraído. Os detalhes, desde a crocância das batatas até a mistura perfeita de coberturas sobre a pizza, eram percebidos pelos sentidos aguçados. Sorvetes derretiam gradualmente, proporcionando um doce que se unia ao calor das conversas e risadas compartilhadas. À medida em que o dono da lanchonete bagunçava o seu cabelo loiro escuro, ele e Sophie deram sorrisos suaves um para o outro e também aproveitou a situação:
— Falando em presente, eu tenho uma coisa. Não é nada demais, mas espero mesmo que você goste.

Ela o entregou um pequeno caderno, com uma capa marrom, contendo páginas embelezadas com memórias impressas dos dois juntos que davam vida às páginas. Cada uma era peça do quebra-cabeça da história deles. Entre as fotografias, delicadas frases pontuaram o carinho compartilhado. Expressões simples, mas profundas, como "Você é especial :)" e "Te adoro cada dia mais" pareciam promessas sussurradas ao vento. As palavras, imortalizadas no papel, criavam um refúgio de afeto eternizado.

Ao Arthur voltar do vestiário, Caio o pediu para fazer um pedido:
— Atende aquele casal ali, Arthur, enquanto eu falo aqui com Isabela.
— Por favor, ainda se usa e você pode muito bem fazer isso.
— Eu sou seu chefe, pra sua tristeza e você deve tratar as coisas de forma profissional.
Arthur realizou o atendimento, mas o senhor em que estava na mesa, o confessou:
— Esse restaurante aqui, Cal... Calzone? É ótimo! Digno de fazer refeições aqui! Você... É... Um garoto como você realmente deve me atender e me servir...
— Como assim? É o quê, senhor? Perdeu o juízo?
— Ué, só falando a verdade? O que não estou entendendo, é a causa daquela moça estar ali no balcão, tão bonita, branca, cheia de vida. O que ela está fazendo aqui? Ela não precisa disso, tanto quanto você. Deveria arrumar um emprego digno.
— Por que eu preciso tanto estar aqui e ela não? Somos iguais.
— Ah, meu filho, você não é igual a ela e nunca será.
— O que está querendo dizer?
— Resumindo, você parece um macaco e ela não. Os negros são incompetentes, exceto pelo fato de servirem aos brancos.
— Como é, velhote? Me respeite!
— Tá vendo só, amor? Todo preto é mal educado, não presta. Vocês nunca serão respeitados se forem tão agressivos.

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