Capítulo 17

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A igreja estava silenciosa, iluminada pelo brilho das velas que pontuavam o altar. As pessoas começavam a chegar aos poucos, cumprimentando-se com gestos silenciosos de solidariedade e condolências. Entre elas, estavam Giovanna, Miguel e Rafael, todos ali para honrar a memória de Edgar Cordeiro.

Rafael segurava a mão do amado com firmeza, buscando conforto em seu toque enquanto observavam as pessoas se reunindo. Tinha convicção que aquele dia seria emocionalmente difícil, mas estava grato por ter o namorado ao seu lado para oferecer apoio.

A missa iniciou, e o som dos cânticos preencheu o espaço sagrado. Enquanto o padre conduzia a cerimônia, os presentes fechavam os olhos em oração, honrando a vida e legado dele.

Miguel vivenciou uma junção de sentimentos enquanto recordava os momentos que compartilhara com ele no lar de idosos. As conversas tranquilas e dos sorrisos gentis do homem que agora estava sendo lembrado com carinho por aqueles que o amavam.

Giovanna observava a cena com um misto de tristeza e gratidão. Ela tinha conhecimento do quanto Edgar significava para os dois ao seu lado e o quanto ainda era lembrado e amado por todos que o conheceram.

Seu neto observava a congregação com olhos atentos, com a lembrança do avô querido. De repente, viu uma figura familiar no fundo da igreja. Era seu pai, Marco, acompanhado por sua nova família, o fazendo sentir um aperto no peito ao vê-los.

As velas foram acesas em homenagem a Edgar, iluminando a igreja com uma luz suave e reconfortante. As lágrimas escorriam pelos rostos dos presentes. Giovanna estava emocionada ao lado de Miguel e Rafael que permaneceram juntos por um momento, compartilhando um abraço silencioso.

HORAS ANTES

— Eu disse a você na época em que descobrimos: "Não tem o que fazer. Os dois já estão mortos." A gente vai ficar remoendo uma coisa que já aconteceu e que não podemos fazer nada a respeito?
— Não é isso. Não falamos sobre os nossos sentimentos em relação ao assunto.
— Porque eu pelo menos, tento não pensar nisso. É uma coisa que me machuca e me arrepia. Quem gosta de lembrar de quando encontrou o corpo do próprio pai largado daquele jeito no chão com um tiro na cabeça? — Seus olhos começaram a encher de lágrimas. — Então é realmente melhor não falarmos sobre isso.
— Desculpa. — Se levantava da cadeira para abraçá-la. — Desculpa mesmo. Não quis ser insensível. Eu só acho que devíamos ter falado pra mamãe.
— Ela tá sem falar com você desde que se assumiu. Tentamos falar pra ela naquele dia e você sabe.
— Se ela for ao funeral do Arthur, eu falo.
Giovanna desesperadamente tentou encontrar uma forma de mudar de assunto. Remoer o assunto da morte do seu pai era demais para si própria.
— Amanhã de manhã é a missa de um ano da morte do senhor Edgar e à tarde o funeral do Arthur, não é isso?
Miguel acenou com a cabeça e continuou:
— Coisas relacionadas à mortes acumuladas num dia só. Ótimo. Vem. Vamos deitar.

ANOS ANTES

Edgar notou a tristeza no rosto de Rafael, com pensamentos claramente distantes e não gerava dúvidas de que era devido à ex-esposa que havia falecido recentemente. Ele vinha sofrendo calado, pensando no fato de não ter aproveitado o tanto que deveria, sentia que não a conhecia na medida que queria.
Com um sorriso gentil, o idoso se levantou e caminhou até uma caixa de fotos antigas que guardava com carinho em uma das gavetas da cômoda de seu quarto. Aquele momento era uma oportunidade de compartilhar algumas lembranças especiais com seu neto.
Sem dizer uma palavra, sentou-se no banco da varanda novamente com o objeto marrom na mão.
— Vovô, o que é isso?

Edgar selecionou uma fotografia em particular e a segurou com firmeza. Era antiga, desgastada pelo tempo, mas ainda repleta de significado. Olhou para a foto por um momento, passou as mãos pelos cabelos de sua esposa, se lembrando de sua textura e beijou seu rosto no retrato, perdido em suas lembranças, antes de passá-la cuidadosamente para Rafael, que pegou a imagem, com os olhos iluminados ao ver os avós jovens, sorrindo felizes para a câmera.
— Esta é uma foto de quando eu e sua avó éramos recém-casados — falou com sua voz emocionada.

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