Capítulo 11

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ANOS ANTES

Era um dia das férias de verão e eles tinham 7 anos. Estavam brincando no quintal da casa de Pietro, sob a sombra de uma grande árvore que havia naquele ambiente. O garoto de cabelo loiro escuro, quase castanho, tinha uma pequena caixa de lápis de cor e um caderno em branco, enquanto Alice, a garota de mesma idade de pele branca e olhos escuros que destacavam seu rosto e que estava com um penteado de trança em seu cabelo ondulado preto, segurava um ursinho de pelúcia.

Pietro começou a desenhar algo no caderno, concentrado e com a língua levemente para fora, como fazia na época quando estava focado. Alice olhou curiosa para o desenho e perguntou:
— O que você tá desenhando?
— Desenhando um mundo perfeito — respondeu com um semblante travesso.
Alice inclinou a cabeça, colocou a mão em seu queixo e intrigada, continuou:
— Mundo perfeito?
Pietro pensou por um momento e depois disse:
— É um lugar onde a gente pode brincar o dia inteiro, eu e você, e todos os dias são de verão.

Ele terminou o desenho e mostrou a ela. Era um simples, mas cheio de cores vivas e alegres, com os dois segurando as mãos, o sol brilhando no céu e um arco-íris ao fundo.
— É o nosso mundo perfeito — disse Pietro com um brilho nos olhos e sorrindo para Alice.
— Eu gostei muito.

Pietro pegou uma das câmeras de seu avô que estavam em sua casa e disse que iria registrar o momento para sempre. Ao fazer isso, ela disse:
— Ficou muito bonito. O desenho, a foto e... Você é o pega, seu bobão!
Eles começaram a brincar de pega-pega, fazendo círculos ao redor da árvore, após criarem um momento que se tornaria uma lembrança preciosa ao longo de suas vidas.

ATUALMENTE

Após Graziela, questionar o que estava acontecendo em sua casa, Miguel sussurrou para Rafael:
— Eu prometo que vou te explicar tudo, mas agora não posso. Por favor, Rafael, vai embora.
O cozinheiro ficou sem entender nada e fez o que foi pedido. À medida em que se despedia, Giovanna não tinha palavras para se expressar e sua mãe ia até a mesa, com o intuito de procurar seu charuto, quando encontrado, o acendeu e colocou em sua boca:
— A senhora não sabe se controlar? Não consegue parar de fumar um momento sequer, mãe?
— Você é gay, Miguel?
— O quê?
— Responda a minha pergunta.
— Se eu fosse, acho que não teria namorado com uma garota no meu último ano no colégio.
— De qualquer forma, acho que você gostou mais da fruta que eu gosto.
— Não coloque palavras na minha boca, por favor.
— Então responda a minha pergunta.
— Não, mãe. Eu não sou gay. Na verdade, eu não sei bem o que eu sou e isso não me faz gostar menos de mulher do que sempre gostei.
— Na verdade, faz sim. Você sabe que faz.
— Não, não faz. Sinceramente, não sei porque estou me justificando. Minha sexualidade é uma coisa só minha, algo só meu e não preciso lhe dar satisfações, mamãe.
— Não me chame assim. Estou muito decepcionada.
— Te chamar de quê? De mãe? Realmente, chamar como todo mundo chama, de Graziela Albuquerque, combina mais com a nossa relação. Já que nunca foi uma mãe de verdade.
— Repita.
— Eu não preciso repetir, acho que a senhora me escutou bem.
— Saia da minha casa.
Miguel ao escutar isso, olhou para trás e Giovanna apenas sorriu para ele e disse:
— Me espera no carro.
Seu irmão fez isso, com toda a decepção e incompreensão disponíveis no estoque percorrendo por todo o seu sangue. Ao se retirar, a advogada apenas tocou no ombro dela e falou:
— Nem tudo acontece como a gente imagina, mamãe. Principalmente sobre o encerramento de um ciclo, sobre dois homens amarem tanto uma mulher a ponto de um precisar matar o outro se isso significar não sentir mais seu território ameaçado. Depois vai entender bem o que digo, mas o que importa, nesse momento, é outra coisa. A senhora levou a situação para outro rumo. Um rumo que não precisava ser tratado com tanto drama assim.

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