Qual mal se deve temer?

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Novamente sozinhos, corei ao me ver mais ciente de minha situação, morrendo de vergonha de ficar a sós com o desconhecido que, supostamente, era minha alma gêmea. Não importava o quão bem me sentisse perto dele, racionalmente tinha que ficar alerta e envergonhado.

— Sente-se mal? — perguntou o alfa, notando como eu estava corado. Estremeci com suas palavras, pois tinha esquecido da proximidade em que estávamos. — Você quer alguma coisa?

— Não… e não. — Observei-o levantar-se para caminhar até uma escrivaninha; a senhora que entrou com o médico havia deixado uma jarra com água sobre ela. 

— Sinta-se à vontade para pedir, se precisar de algo. A mulher de mais cedo é Sina, ela é a governanta, cuida da casa e de mim, pode pedir qualquer coisa à ela; Roger é um amigo, está sempre por aqui, pode confiar nele; Ivan é como um irmão, também não sai dessa casa, assim que possível apresentarei vocês. — Bryan falava calmamente, tentando soar amigável, enquanto retornava para sentar o meu lado com o copo em uma mão; com a outra, escorou minha nuca, ajudando-me a beber água. — Jiwon, eu sei que não nos conhecemos, e que não podemos apenas nos deixar levar pela conexão, mas… quero… que fique aqui. — Tossi um pouco, engasgando-me com a água ao ouvir suas palavras; devido minha reação, Bryan passou a mão em minhas costas, ajudando-me a me recompor, e sua expressão, que observei de soslaio, possuía certa apreensão. — Pelo menos para nos conhecermos melhor e esclarecermos tudo. Por causa da conexão, ficará difícil mantermos distância por muito tempo, e desde o encontro no parque... sinto como se nos conhecêssemos desde sempre. — Respirei fundo e, ainda com a cabeça baixa, olhei-o em silêncio, não conseguindo entender se ele realmente queria dizer aquilo por algum possível sentimento desencadeado pelo que passamos, ou se estava, como eu percebi, preocupado que nos separássemos e ele tivesse problemas depois; afinal, ninguém se apaixona de uma hora para hora. — Meus pais também eram Destinados e eram uma coisa só; eu vi o que a conexão os tornou — continuou, agachado-se ao lado da cama. — Era algo mágico e profundo, mas quando meu pai perdeu minha mãe, isso o destruiu e eu… eu me tornei um insensível. — Algo em mim dizia que o alfa estava se esforçando para me contar aquela história. — Eu nunca soube o que era estar ligado a alguém, muito menos como era perder isso, mas, por ironia, ou seja o que for, acabei tendo o mesmo tipo de ligação que eles. Talvez, agora eu entenda melhor o que os meus pais tinham, talvez eu entenda o que é ter sentimentos. — Ele suspirou e desviou o rosto, ficando calado por alguns segundos. — Por agora, imaginar você saindo daqui... me assusta — confessou, voltando a olhar em meus olhos. — Isso não é normal para mim, acredite — disse, levantando-se e pegando o copo de minha mão. — De qualquer forma, não posso obrigá-lo a ficar, mas gostaria que pensasse bem no caso.

Grigory começou a andar até o móvel, onde deixou o copo; sei que não era intenção dele me assustar, porém, senti-me quase induzido a não contrariar, como se fosse haver uma consequência se deixasse a residência; claro, boa parte da minha apreensão e receio eram por eu, um ômega, estar sozinho na presença de um alfa dominante.

— Eu não sei nada sobre parceiros do destino… Nunca conheci ninguém que tenha passado por isso. Sentir-se tão bem com alguém que acabou de conhecer, realmente não é normal. Sinceramente... estou assustado — confessei, estremecendo e unindo minhas mãos, mexendo em meus dedos. — Estou estranho desde ontem, sentindo coisas que nunca senti, e agora... isso. Mas… também sinto como se já nos conhecêssemos. — Atropelei as palavras em um súbito ímpeto de coragem que não sei de onde veio, sorrindo envergonhado com os olhos marejados. — Não sei por que me sinto bem perto de você.

Eu não fazia ideia do que pensar ou sentir, estava confuso, mas, do fundo do meu âmago, não desejava afastar-me tão cedo do alfa. Confiar em Roger? Ele havia dito ao médico que o tiroteio em que esteve envolvido era porque atacaram Bryan, então, talvez Roger fosse algum tipo de segurança também. O que será que Bryan Grigory faz da vida para ter gente querendo feri-lo? Ficar por perto de um homem como ele é realmente seguro?

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