20.

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— Meteors —
Capítulo vinte


Uma história narrada por um ser onipresente talvez não seja o melhor tipo de história. Saber de tudo dentro de um conto pode causar mudanças de opiniões, você não pode ter certeza quem é o certo e quem é errado até o último ponto final da narração.

Kirishima se lembra de algo. Cerca de dois anos atrás, ele se vê ao encontro de um garoto na praia.

Ele estava em cima das rochas lá presentes, enquanto o outro, estava ja fundo na água.

Não era a primeira vez que ele o observava, e não era a primeira vez que o loiro tentava se afogar. De alguma maneira ele sabia o que ele tentava fazer, e de alguma forma, ele nunca conseguiria.

Algo lhe dizia que aquele garoto queria viver, mesmo com todo aquele sofrimento.

E ele estava certo. Kirishima sempre esteve certo. Katsuki queria viver, queria ser um grande astrônomo, ou em um sonho mais antigo ainda, ser um astronauta. Mas esses sonhos agora habitam em uma pequena caixa, escondida em sua mente, guardadas a sete chaves.

Katsuki Bakugou nunca teve o direito de viver, ele nunca teve o direito de sonhar.

Então, em seu leito de morte, ele nem sabia o que estava por vir.

Seu rosto estava coberto por sangue, ele não podia ouvir nada de seu ouvido esquerdo, e ele tinha dois furos em seu peito.

Ele estava certo que iria morrer. Ninguém que perdia tanto sangue assim conseguiria sobreviver.

Então, ele pensou em Eijirou. Ele tinha falhado com ele. Lágrimas teimosas caem pelo canto dos olhos, talvez essas sejam as últimas lágrimas dele.

O loiro pega o celular que estava escondido debaixo da cama de maneira totalmente desajeitada e olha para o plano de fundo do celular; uma foto de Kirishima que ele mesmo tinha posto lá. Apesar de ter reclamado com o ruivo, ele não retirou a foto, e ele estava feliz por isso.

Porque isso o fez lembrar que aqueles dois meses mostraram o que é viver. Ele pode ser um adolescente normal por um curto período de tempo. Ele pode conhecer pessoas, amar alguém, ver uma chuva de meteoros ao lado desse alguém.

Essa é a vida que ele queria ter, e ele não deixar ela escorrer por seus dedos.

Ele aperta o primeiro número da sua lista de contatos, o único número que ele discou durante dois meses.

O telefone toca, o silêncio no quarto é desesperador, ele queria poder ao menos se despedir.

E finalmente, Eijirou Kirishima atende o telefone.

— Katsuki! Meu deus você tá bem?! Eu tô tentando falar com a polícia mas-

O ruivo tremia, as palavras apenas saiam pela sua boca, ele obviamente estava preocupado, e isso tirou um sorriso do rosto de Bakugou

— Eiji, me desculpe. Me desculpe por te fazer passar por isso, você é simplesmente incrível e eu queria ter te dado algo além da minha presença — Ele sorri, enquanto se senta desconfortavelmente no chão.

— Do que você tá falando? Eu não preciso de palavras bonitas, eu preciso de você! — O ruivo gaguejou enquanto se aproximava da varanda e olhava para a janela do apartamento 012, assim como ele tem feito durante anos.

— Eu enviei pra sua mãe o vídeo, agradeça a ela por mim. Agradeça também os outros, liga pro Shouto também, ele e o Izuku salvaram minha vida tantas vezes— Ele tosse, ele não sabe se o sangue vem do seu rosto ou se ele saiu de seu peito — Eu sou grato demais por ter vocês comigo

Katsuki tenta se levantar, cambaleia, quase cai, mas se senta na cama em frente a janela

— Obrigada, Eijirou. Queria ter te dito um "eu te amo" antes. Espero que possamos nos encontrar em algum outro momento

Eijirou Kirishima está lá, na varanda do seu apartamento, com lágrimas nos olhos

— Eu devia ter te protegido. Eu não queria que você sofresse. Merda Katsuki só por favor aguenta mais um pouco! — Kirishima chorava, era doloroso demais vê-lo assim.

Ele só pode ouvir Bakugou sussurrando um "me desculpe" antes de fechar as cortinas, ele não queria que ele visse aquela cena.

A ligação é desligada, Eijirou apenas larga o celular e corre para fora de seu apartamento. Ele desce as escadas, tropeçando nos próprios pés, caindo no meio do corredor, mas se levanta e continua seu caminho para o 012.

Ele esmurra a porta, gritando com a mulher lá dentro, mas não obteve resposta. Ele então tenta derrubar a porta, falhando, seu corpo já não aguentava mais

Só então, ele vê um garoto de cabelos brancos e vermelhos atrás de si, ele estava totalmente ofegante enquanto observava a cena completamente incrédulo.

— Ele ainda está vivo? — o garoto diz enquanto toca no ombro de Kirishima, que concorda com a cabeça um pouco desnorteado — Se afasta da porta

Ele o obedece, e então o desconhecido se prepara e se joga rente a porta, que cai no chão de maneira bruta, e para a surpresa dos dois, não há ninguém na casa.

Eijirou não pensa duas vezes antes de correr para o quarto do loiro, o encontrando no chão. Aquela cena iria ficar para sempre na mente do ruivo

Ele o abraçou, manchando sua camisa, mas não era como se isso realmente importasse agora.

— Eu não deveria ter esperado mais uma hora, eu deveria estar com você. Você não pode me deixar, não dessa maneira. Eu te amo muito cara e se você me ama também então não me deixa sozinho porra! — Ele chorou enquanto olhava novamente para aquele rosto uma vez tão bonito e tão cheio de vida.

Os momentos a partir daí foram que nem flashes. Ele só se lembra de ser separado do loiro por um bombeiro enquanto uma equipe de primeiros socorros o levava em uma maca. Ele não sabia se aquela seria a última vez que viu o loiro respirando, mas ele rezou para que ele pudesse dizer "eu te amo" para ele de novo.

O garoto meio a meio tocou no ombro do ruivo claramente destruído, como se uma parte de si tivesse faltando. Aquele garoto nunca tinha sido bom com palavras, mas ele sentia que sabia o que deveria dizer naquele momento.

— Ele já sabia que isso ia acontecer. Ele me alertou, mas eu o disse que ele iria ser salvo antes que isso acontecesse. E de alguma forma, você salvou ele, Kirishima, de todas as maneiras que um ser humano poderia ser salvo.

Então, o ruivo chorou nos braços daquele estranho, até que desmaiou de exaustão.

Meteors - Kiribaku Onde histórias criam vida. Descubra agora