Capítulo 4 - "𝐈𝐧𝐟𝐚̂𝐧𝐜𝐢𝐚 𝐌𝐞𝐭𝐤𝐚'𝐲𝐢𝐧𝐚"

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"𝐀̂𝐬 𝐜𝐫𝐢𝐚𝐧𝐜̧𝐚𝐬 𝐜𝐫𝐞𝐬𝐜𝐞𝐦 𝐫𝐚́𝐩𝐢𝐝𝐨 𝐝𝐞𝐦𝐚𝐢𝐬"

~*~

- 𝐹𝑢𝑡𝑢𝑟𝑜𝑠 𝑗𝑜𝑣𝑒𝑛𝑠 𝑔𝑢𝑒𝑟𝑟𝑒𝑖𝑟𝑜𝑠.

Clã Metka'yina - recife, nove anos atrás...

A felicidade é simples.

Coisas simples, simplesmente simples, podem deixar qualquer um feliz, satisfeito e confortável. Um beijo na testa de quem você ama, a praia, pôr do Sol, o céu, conversar com alguém que gosta.

A felicidade é simples. E coisas simples são felicidade.

- Kiary! - a mulher gritou, olhando de um lado para o outro. O colar de conchas em seus pescoço fazenda barulhos satisfatórios ao procurar sua filha. - Kiary, venha aqui agora, ou vou jogar você para os skiwmings!

A voz dela era fria, rígida, séria. Como a Tisa'hik que ela era.

Ronal andou alguns passos pela a costa, acenando para todos os Metka'yina que a olhavam e faziam uma reverência com a cabeça para sua Tisa'hik. Ronal era uma líder respeitada. Uma líder fria e rígida, mas respeitada pelo seu povo, assim como ela os respeitava.

A alguns metros longe do marui da família líder, uma garotinha estava nadando. A água chegava a base de seu pescoço, mas isso não parecia incomodá-la ou atrapalhar seu nado. Ela gargalhou quando um ilu fez carinho em seus pés, logo aparecendo na superfície ao lado dela.

Kiary e Tsireya.

Ronal as observou. Observou elas brincarem com a roda de cinco ilus em volta delas, as observou jogarem alimentos para eles e brincarem com cada um. Ela observou as garotinhas. Suas filhas.

Ambas tinham uma conexão com a água. Mas, embora Ronal nunca fosse falar isso em voz alta, ela sentia dentro de si que Kiary sempre teria a ligação mais forte. O Tsaheylo mais intenso.

A forte conexão que ela tinha com o Recife, com a água e com os animais. A forma como ela atraia os animais e como ela os entendia, como seus olhos brilhavam para cada um deles, absorvendo cada som, cada gesto e cada movimento deles.

- Kiary! - chamou, agora o tom mais suave.

O sorriso da garotinha se desfez ao ver a mãe, dois dos cinco ilus foram embora, enquanto ela fazia carinho nos outros três. Tsireya, ao lado dela, parou de brincar ao olhar para a mãe. O sorriso idêntico ao do pai morreu em seu rosto.

- Sim, mamãe? - perguntou a garotinha. A voz era baixa, calma, mas havia uma pitada de nervosismo ali.

- Venham - chamou Ronal, fazendo um sinal para a garota. - Agora.

Kiary mordeu o lábio, cabisbaixa. Fez carinho nos três ilus e saiu lentamente da água. Kiary era conectada a água. Ela era parte do mar e o mar era parte dela. Um só.

Como o Tsaheylo, a ligação eterna.

Ela saiu a contra gosto da água, fazendo um biquinho enquanto segurava na mão de Tsireya, cujas orelhinhas abaixavam lentamente.

Seus cabelos eram cacheados, como os da mãe, grandes e brilhantes ao sol. Ronal tentara corta-los uma vez - mas a garota simples gritou em protesto e saiu correndo pela a vila e só voltou muitas horas mais tarde, depois de Tonowari procurá-la em cada um dos marui da vila. A segunda tentativa de Ronal foi quando Kiary estava dormindo - e é claro que ela falhou.

A garota acordou, gritou e saiu correndo do marui, acordando metade da vila e ameaçando fugir do Recife com um ilu. Ronal sabia que ela não faria isso, mas Tonowari ficou tão  abalado que convenceu a mulher a não cortar mais o cabelo de Kiary e deixou Ronal longe de adagas e coisas afiadas por semanas.

Não Me Deixe - Neteyam Sully Onde histórias criam vida. Descubra agora