"𝐒𝐞𝐠𝐮𝐢𝐧𝐝𝐨 𝐨 𝐜𝐢𝐜𝐥𝐨 𝐧𝐚𝐭𝐮𝐫𝐚𝐥 𝐞 𝐢𝐧𝐟𝐢𝐧𝐢𝐭𝐨 𝐝𝐞 𝐢𝐦𝐢𝐠𝐫𝐚𝐜̧𝐚̃𝐨, 𝐨𝐬 𝐭𝐮𝐫𝐥𝐤𝐮𝐧𝐬 𝐫𝐞𝐭𝐨𝐫𝐧𝐚𝐫𝐚𝐦"
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- 𝐼𝑟𝑚𝑎̃, 𝑒𝑢 𝑣𝑒𝑗𝑜 𝑣𝑜𝑐𝑒̂.
Ilha de Awa'tlu, vila Metkayina - seis dias depois...
Kiary apertou as rédeas de sua ilu com força, observando atenta e desconfiada o mar calmo a sua volta. As ondas pequenas e leves, o mar maravilhosamente calmo e equilibrado.
Se ela não conhecesse o Recife como a palma de sua mão, poderia se convencer facilmente que não havia nada ali.
Kiary protegeu os olhos do Sol com uma mão, a aljava de guerreira que usava deixava a mostra o cabo de uma pequena faca que ela guardava ali. Um murmúrio inquieto abaixo dela tirou sua atenção do oceano.
- Você está com fome, garota? - ela perguntou a Creia, que estava inquieta. - Tudo bem, vamos alimentar você.
- Kiary! - alguém a chamou, a alguns metros de distância.
Ela virou-se para encarar Anoung a uma certa distância, acenando para ela em seu ilu, chamando-a de volta.
- O pai mandou a gente voltar! - gritou o garoto. - Anda, estamos a muito tempo fora do Recife!
Ela suspirou, dando um comando mental para que Creia fosse até eles. Olhando uma última vez os arredores calmos e silenciosos, Kiary voltou lentamente até o grupo de guerreiros Metkayina, desta vez, liderados por ela.
Embora tivesse antecipado o ritual de passagem de maior-idade, Kiary ainda não estava oficialmente autorizada por seus pais a usar uma montaria de guerreiro sem treinamento. Mas eles sabiam que, uma vez que a ligação é feita, não pode ser desfeita. Kiary tinha um skiwing, e, apesar de ter quebrado o tempo cronológico e tradicional do ritual, era uma montaria de guerreiro para uma guerreira.
- Tudo bem, vamos voltar.
A quatro dias atrás, quando voltou dos Três Rochedos com Neteyam, logo depois da visão que Eywa havia lhe dado, Kiary não poupou detalhes. Ela teve sorte de encontrar seus pais juntos quando voltou ao maruí.
Ela estava pronta - e desesperada - para a recepção de sermões e abraços que Tonowari lhe daria. Mas no momento em que as palavras "Eu me conectei a Árvore das Almas" saíram de sua boca, Kiary foi arrastada por Ronal até o fundo do maruí, onde ninguém poderia ouvi-los e ordenou que a filha falasse absolutamente tudo.
E Kiary falou. Porque não era uma coisa que, de jeito nenhum, naquelas circunstância, ela guardaria para si. Ela precisava de uma interpretação clara e fiel do que quer que Eywa - e aquela Na'vi - estivessem querendo lhe dizer.
Naquela noite, Ronal quase chutou o marido e os dois filhos mais novos para fora do maruí, apenas para se dedicar ao relato detalhado das visões de Kiary. Ela ainda sentia umas pontadas de dor de todas as agulhas que sua mãe usou para espeta-la no meio do ritual de interpretação e oração a Eywa.
Kiary contou-lhe da visão que teve na última comunhão, a três anos. Contou sobre a visão que teve aquela noite, o sonho que a assombrou no tempo em que ficou desacordada (o que levou ela a explicar que tinha quebrado o ritual de passagem e agora tinha uma montaria de guerreiro um ano antes do esperado). E percebeu como aquela visão sempre permaneceu intacta na sua mente, como se ela a tivesse visto apenas a algumas horas atrás.
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Não Me Deixe - Neteyam Sully
Fiksi PenggemarQuando a família Sully decide deixar seu povo, seu lar, sua casa, na esperança de a guerra parasse e os deixasse ter uma vida pacífica e feliz em outro lugar, eles vão para o Recife. Para o povo Metkayina. Em busca de um lar, de uma nova vida em paz...