𝕯𝖊𝖋𝖎𝖓𝖎𝖙𝖎𝖔𝖓 𝖔𝖋 𝖚𝖌𝖑𝖞 𝖎𝖘 | Woosung

DEFINITION OF UGLY IS

Você deve estar se perguntando porquê Milla, uma garota de 27 anos, chora religiosamente, todo domingo, enquanto devora um pote de sorvete de pistache, sem saber que em seu coração a senhorita Kang guarda mágoas e segredos que nunca contou a ninguém.

Não sabia dizer ao certo quando tudo isso começou, mas desde sempre sentiu que não pertencia a lugar nenhum. Por ter pais de nacionalidades diferentes, era brasileira demais para os coreanos e demasiadamente coreana para os brasileiros. Não se encaixava, por mais que tentasse.

No colégio sempre pareceu invisível e por isso não viveu um amor escolar ou recebeu correios elegantes e presentes de Dia dos Namorados. Nunca foi cortejada, desejada, amada. Não que soubesse, e se de fato algum dia alguém a tivesse amado, esse segredo devia estar guardado a sete chaves e nunca chegou ao seu conhecimento.

O seu primeiro beijo foi um desastre, uma decepção. E só aconteceu para que tirasse pelo menos uma coisa da imensa lista de coisas que gostaria de fazer antes de morrer. Mas, não significou nada para ela. Aconteceu em um dia qualquer quando passou as férias no Brasil com os seus pais. E ainda por cima foi numa festa, com alguém que não conhecia, nada como imaginava que seria. Ainda conseguia se lembrar do gosto de cerveja na boca dele e do vazio que sentiu depois.

Agora já não era mais uma adolescente cheia de sonhos, mas nada mudou. Não tinha ninguém com quem contar, a não ser com seu cachorro Candy e os personagens dos seus livros e séries preferidos.

Quando parava para pensar em sua vida sem graça, tinha mais razões para chorar do que para sorrir. Mas não podia chorar no meio do expediente, pois ainda lhe restava um mínimo de dignidade, então escolheu os domingos como os dias fatídicos em que derramava o maior número de lágrimas que podia, esperando que a sua má sorte fosse embora com elas.

Na verdade, queria que as suas lágrimas pudessem lavar todas as memórias ruins que tinha da sua adolescência. Todas as vezes que zombaram do seu cabelo cacheado e das suas coxas grossas. Ou quando a fizeram tropeçar na frente de toda a escola e todas refeições que fez sozinha, que ficavam sempre ensopadas, pois costuma chorar enquanto se esforçava para engolir a comida.

Chorar era um costume antigo seu. E depois de tantos anos chorando e tantas lágrimas derramadas, Milla se perguntava como ainda existia água no seu organismo. Também por esse motivo escolheu os domingos como o único dia da semana que podia chorar. Tinha só um dia para desabar e sentir pena de si mesma. E nos outros, fingia que era forte até que conseguisse ser. Pensava pesarosamente que ainda não tinha conseguido nenhuma vez, mas estranhamente continuava tentando, sem nunca desistir e sem saber que aquilo já era ser forte.

Chorava sempre escondida, pois se sentia a própria definição da feiura e ainda mais repugnante enquanto e depois que o fazia, o que deixava seus olhos e bochechas ainda mais inchados do que eram. Sem saber ou sequer imaginar que alguém tinha visto beleza nela, coisa que ela nunca foi capaz de encontrar em si mesma. O que era uma pena, pois era linda, por dentro e por fora.