013: o tesouro mais precioso

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Moon Jiwoo

Abro os olhos de repente e sinto minha face molhada por lágrimas. Elas ainda estão descendo e há uma sensação angustiante em meu peito, porém não lembro com o que sonhei. Parece ter sido algo triste e não um pesadelo, como ocorreu da última vez. Bem, já estou acostumada com essas situações e, sinceramente, prefiro quando não recordo o conteúdo do sonho.

Seco minha face e, só então, noto a movimentação incomum do Lua Sombria. O mar está agitado essa madrugada. Assim, pego meu relógio na mesa de cabeceira da cama. Com custo, enxergo os ponteiros indicando que são por volta das três da manhã, então ouço o som da chuva começando a cair. É a primeira vez que chove enquanto estou no navio. Então, levanto-me do colchão, vou em direção à janela e ajoelho-me na bancada, olhando pelo vidro as gotas indo de encontro ao mar.

A chuva começa a se intensificar e, apesar de não haver muito vento, o oceano não está exatamente calmo. No entanto, o que mais me preocupa são os raios e não demora para que eles apareçam. O primeiro trovão ressoa baixo e grave pelo céu, mas já é suficiente para me afastar da janela. Com o medo começando a invadir-me, volto rapidamente para a cama e enfio-me debaixo das cobertas.

O som da chuva fica mais forte e cenas daquela noite surgem em minha mente, apesar de eu tentar esquecê-las. As pesadas cortinas esvoaçando, as portas abertas da varanda batendo contra a parede, a ventania gélida atingindo-me, as grossas gotas de chuva caindo no chão, os relâmpagos rompem o céu e as trovoadas fazendo tremer a vidraçaria do quarto. Lembro-me de tudo isso com mais clareza do que eu gostaria.

Subitamente, um raio forte ilumina a tempestade e o estrondo do trovão preenche toda a minha audição, levando-me a soltar um grito pelo susto e subir a barra do cobertor até tampar meu rosto. Pressiono minhas pálpebras uma na outra, com a respiração acelerada e o coração na mão. Então, algo faz meu corpo todo ficar arrepiado: três batidinhas na porta. Penso na silhueta da minha memória, delineada pelos relâmpagos atrás de si, e um arrepio sobe pelas minhas costas, com a adrenalina correndo em meu sangue.

— Meu bem?

Eu nunca conseguiria descrever a onda de alívio que tomou conta de mim ao ouvir a voz dele e essas duas palavras. Desço as mãos com o cobertor para desobstruir minha visão e vejo a porta entreaberta, com metade do rosto do Lee e uma lamparina acesa na sua mão para dentro do meu quarto.

— Heeseung... — Solto em volume baixo, inconscientemente, e tiro as cobertas de cima de mim, levantando do colchão enquanto o moreno termina de adentrar o cômodo.

— Jiwoo, o que- — Interrompo a pergunta dele ao lançar-me em seus braços, rodeando o tronco dele com os meus.

Eu não quero que ele me veja chorando, logo escondo meu rosto no peitoral do Lee, que parece estar sem reação, e tento controlar as lágrimas escorrendo dos meus olhos lentamente. Enfim, Heeseung deixa a lamparina na mesa de cabeceira da cama e retribui o meu abraço, em silêncio. Antes que um de nós falasse alguma coisa, outro relâmpago cai e eu estremeço com a trovoada alta, aproximando-me um pouco mais do capitão.

— Não se preocupe. Eu estou aqui. — Ouço o Lee dizer, após começar um carinho nas minhas costas.

O sentimento reconfortante e nostálgico invade-me mais uma vez. Dessa vez, como em uma epifania, consigo compreender o que ele é. É a sensação de ser cuidada por alguém, a qual há tanto tempo eu não sentia. Quase a mesma que eu sentia quando, ainda criança, acordava assustada durante tempestades e a Tia Hye, minha ex-governanta, adentrava meu quarto com pressa, pronta para acalmar-me e me dizer que eu não estava só.

E é essa segurança e esse conforto que sinto toda vez que o Lee cuida de mim, o que não é a primeira vez que acontece. A partir do momento que nos conhecemos até hoje, é sempre Heeseung e sua forma de fazer-me sentir como o tesouro mais precioso dos sete mares. Assim, deixo as lágrimas descerem livremente por meu rosto, liberando o turbilhão de sentimentos, alguns recentes e outros que carrego comigo desde a infância.

run away; heeseungOnde histórias criam vida. Descubra agora