009: os vagalumes do mar

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A garotinha levou o garfo à frente da boca e entreabriu os lábios, desanimada apesar de estar comendo seu bolo favorito. Subiu o olhar para a longa mesa de jantar, repleta de cadeiras vazias. Elas sempre estavam vazias. Perdida em seus pensamentos, a pequena desceu a mão que segurava o talher e colocou-o ao lado do prato, o som do tilintar das louças ecoando na vasta sala de jantar.

— A sobremesa não é de vosso agrado, Minha Dama? — A governanta aproximou-se preocupadamente da menina, após observar as atitudes estranhas dela.

— Tia Hye, tem certeza de que hoje é meu aniversário?

— Claro que sim, Minha Dama. — Confusa com a pergunta, a mais velha falou. — Hoje, Vossa Senhoria completa seis anos de idade.

— Então... onde estão o papai e a mamãe? Por que eles não me deram parabéns, que nem os outros? — A garotinha perguntou, inocentemente, e olhou para a criada.

— Eles estão ocupados, Minha Dama. — Ela respondeu com muito esforço para conter a vontade de chorar entalada em sua garganta, diante da vista da inocente menina.

— Eles nunca vem... — A pequena ficou cabisbaixa, sentindo uma dor no coração que ela era nova demais para compreender. — Por que eles nunca vem, tia Hye?

— E-Eles... Eles enviaram um presente para Vossa Senhoria, lembra? Quer que eu vá peg-

— Eu não quero aquele presente! — Gritou a criança, externando o aperto que sentia no peito e não entendia em forma de lágrimas pesadas e cheias. — Eu quero ver o papai e a mamãe, tia Hye!

— Minha Dama... — A criada não aguentou mais e envolveu a menina em seus braços, sentindo seu coração doer junto ao dela.

— Eu só quero o papai e mamãe! — Exclamava a pequena entre soluços sofridos e agarrava com suas mãozinhas a saia da mais velha.

E ela permaneceu nessa posição por longos minutos, pois, no fundo, sabia que seus pais não viriam, assim como ocorria todos os anos.

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Lee Heeseung

Chegamos ao acordo de que, a fim de chegar mais rápido na Ilha da Esperança, navegaremos também durante a madrugada com revezamentos de turnos. Jungwon ficou com o primeiro e, agora, é a minha vez, então aqui estou. Para nossa sorte, não há uma única nuvem e a Lua cheia reluz forte no céu, iluminando as águas à frente. Respiro fundo e preencho meus pulmões de ar puro, sempre gostei da calmaria de navegar à noite. Éramos só eu, os astros do céu e o mar.

Então, um quarto elemento surge nesse cenário quando uma moça entra no convés. Reconheço seus longos e sedosos fios da mesma cor que o céu noturno, junto ao sobretudo sofisticado que apenas a senhorita Moon poderia bancar.

— Meu bem! — Digo e isso faz com que ela se vire na minha direção, seus olhos cor de mel similares aos de uma raposa fitando-me.

Em silêncio, Jiwoo sobe as escadas para onde estou com o luar adornando sua bela face, parecendo uma pintura do mais talentoso e genial artista.

— Ficou com sede de novo? — Comento, relembrando a noite em Jeongdan.

— Gostaria que fosse isso, mas não. Tive um pesadelo. — A Moon responde, chamando minha atenção.

— Sobre o quê, se permitir a pergunta?

— Eu não lembro. Isso acontece na maior parte das vezes que tenho pesadelos, mas talvez seja melhor assim. — Ela quase sussurra a última parte e não parece querer falar sobre, então concluo que esse assunto pode ficar para outro dia.

— A senhorita tem pesadelos com frequência? — Finjo que não ouvi seu comentário adicional e Jiwoo caminha até a borda esquerda do navio.

— Tenho. Isso é anormal? — Diz ela, enquanto corre suavemente os dedos pela madeira polida.

— Acho que anormal seria não os ter, senhorita Moon. Todo mundo possui medos e experiências desagradáveis, para dizer o mínimo.

— Sério? Isso inclui o todo-poderoso e onipotente capitão do Lua Sombria? — Jiwoo pergunta com ironia e vira o rosto apenas para lançar-me um olhar travesso.

— Acredite ou não, inclusive ele. Até demais, na verdade. — Respondo, de forma cômica e descontraída, levando a Moon a soltar uma risadinha.

— Devo ficar com pena?

— É melhor rir, vá por mim...

Após minha fala, a Moon apoia os braços na borda do navio e deita-se neles em seguida. Assim, instaura-se entre nós um silêncio confortável que permanece por alguns minutos, até que ela o quebra dizendo:

— Lee, o que é aquela luz na água?

— Ah! Não sabia que estávamos tão perto. — Comento e prendo o leme para continuar em linha reta.

— Do quê? — Confusa, Jiwoo pergunta e levo-a pela mão até o convés, descendo com pressa as escadas.

Então, alcançamos a larga mancha de brilho na água e a Moon fica de queixo caído ao ver o fenômeno.

— Meu Deus! — Ela exclama e debruça-se quase que completamente sobre a borda do barco, na ponta dos pés, preocupando-me que pudesse cair. — O que são?

— São águas-vivas que brilham sozinhas. — Respondo e observo os milhares, talvez milhões, de animais que nadam em grupo e produzem luz própria para afastar predadores, provavelmente achando que o navio é uma ameaça.

— Tipo... vagalumes do mar?

— Sim, é uma boa comparação. — Dou uma leve risada de seu comentário criativo e observo-a empolgada com o fenômeno, sorrindo largamente.

Apoio-me também na borda e fico satisfeito por seu semblante estar mais alegre, já que ela parecia desanimada quando chegou. Depois da euforia passar, a Moon desce da ponta dos pés e prende uma mecha de cabelo atrás da orelha, enquanto o vento insistia em bagunçá-los. A Lua continua iluminando seu rosto delicado e os cantos de seus lábios estão puxados levemente para cima, expressando tranquilidade e paz.

— Uau... essa é uma das coisas mais lindas que eu já vi. — Jiwoo fala sob a luz do luar e sobre a das águas-vivas.

— É, eu também. — Respondo ao ver seus olhos brilhando como nunca, o que fez os meus brilharem da mesma forma.

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notas!

oi, vidas! sobrevivi às coisas da faculdade 🙏 passando para desejar um feliz Natal atrasado e agradecer pelas 1k de leituras 😭 sou muito grata a cada um de vocês que acompanha Run Away e faz toda essa experiência mais especial! ❣️

como esse é o último capítulo de 2022, feliz ano novo! beijinhos, não se esqueçam de votar e até ano que vem 😽✨💗

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run away; heeseungOnde histórias criam vida. Descubra agora