06. Boa sorte, loira

41 5 2
                                    

Eu não quero falar sobre quem fez isso primeiro
As it was; Harry Styles

***

— Estamos esperando alguém?

A voz de Mabel soou pela sala silenciosa. Ela entrelaçou os dedos no colo, inclinando levemente o corpo para frente para enxergar melhor o supervisor. Thomas Hickman, o qual ela conhecia há quase dois anos, estava mirando o relógio no pulso e tinha o corpo apoiado na mesa de madeira.

Ele continha um olhar impaciente em seu rosto, sobrancelhas levemente franzidas. Thomas murmurou em acordo, erguendo a cabeça até ela.

— Quem? — perguntou Mabel, alguns segundos antes que o sutil som de duas batidas na porta chegassem aos seus ouvidos.

Thomas olhou para o relógio uma última vez, desencostando-se na mesa.

— Entra.

A porta produziu um ruído baixo quando foi aberta devagar, as dobradiças enferrujadas e gastas. E, se Mabel soubesse de antemão o que estava por vir, talvez tivesse enrolado na cama e se atrasado propositalmente.

Mas isso não se parecia em nada com ela, porque depois da noite conturbada, Mabel acordou às sete com o despertador.

Seus olhos estavam pesados. E as engrenagens do corpo estavam doloridas e enferrujadas enquanto ela caminhava com os pés cobertos por meias brancas que iam até o tornozelo em direção ao banheiro.

Mabel passou por Samantha, que dormia com os fios de cabelo espalhados pelo travesseiro e que provavelmente só acordaria às onze.

Suas meias impediam que as solas do seu pé entrassem em contato com o chão frio, e ela se olhou no espelho, encarando seu reflexo. Os cachos estavam bagunçados, cheio de fios pro alto e suas bochechas estavam inchadas. Ela mirou seu reflexo por um tempo maior do que o necessário, antes de começar a escovar os dentes.

A lembrança se esgueirou sobre os seus braços nus, criando forma e potência, fazendo com que ela quase pudesse sentir que havia retornado para a noite passada. Porque, enquanto seus pés ainda estavam firmes no chão e Mabel se viu sozinha dentro daquele lugar que não lhe pertencia, seu estômago se revirou e ela se perguntou o que diabos tinha na cabeça. Questionava o que Oliver tinha para conseguir lhe tirar do controle tão rápido, fazendo-lhe perder o controle das ações e agir daquela forma imprudente.

Mabel encarou seus olhos castanhos, enquanto a escova deslizava pelos dentes e sua boca enchia de espuma.

Maldito Oliver Cooper e sua guitarra estúpida.

Às oito e dez, saiu do dormitório com a camiseta uniforme da ONG e com uma jardineira jeans. No final do corredor do dormitório, dentro do elevador, encontrou duas garotas com sacolas de roupas sujas. O que era comum de se encontrar quando a palavra ''sábado'' estava circulada por canetinha vermelha no calendário e era dia de lavanderia.

Segundo as informações de Thomas, diferente da inauguração, eles se ambientaram num pet shop nas ruas da praça que faziam parceria com a causa e começaria às nove.

Quando Mabel chegou na organização com passos acanhados, Thomas já se encontrava. Ela ergueu a mão para ele em um aceno, e ele respondeu indicando o escritório com um sinal de mãos.

E agora... Só podia ser brincadeira.

— Oliver — a voz de Thomas soou casual e tranquila, seu cumprimento vagando entre as estruturas e paredes da sala. Mabel soltou um suspiro doído, seus ombros caindo com a quebra de expectativa e o remorso. Ela não se atreveu a olhá-lo, recusando-se a ter que lidar com Oliver logo pela manhã.

Entre competições e acordes de guitarraOnde histórias criam vida. Descubra agora