08. Sexta-feira às onze e embrulhos no estômago.

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E se eu não conseguisse ganhar a fita azul
Como eu poderia ser perdoado
Diga-me que amor ainda seria dado
De você
top of my school; katherine lynn-rose


***

As vitrines de vidro transparente refletiam o reflexo de Mabel de forma suave, a silhueta do corpo e o formato dos cachos dourados.

Almoço de noivado, sexta-feira, às 11h.

Eram as informações das mensagens que recebeu ontem a noite, naquela notificação imprevista, um pedido de desculpas pelo esquecimento e o convite informal direcionado a ela. Pelas mensagens, seu irmão havia dito que seria só um almoço simples com parentes e amigos. Mas enquanto Mabel observava o grande edifício, que supostamente deveria ser apenas um restaurante, ela não tinha mais tanta certeza.

O ar frio a comprimentou com uma rajada de vento quando ela colocou os pés para dentro.

Mabel disse à recepcionista que tinha reserva em nome de Ethan Campbell, mas quando disseram que não havia ninguém com o nome "Ethan" na lista, Mabel enrugou o cenho por alguns segundos. Arriscando, ela falou o nome da mãe. E a reserva estava lá.

Mabel enfiou-se dentro do elevador com mais duas pessoas que ela não conhecia. O silêncio era inquietante, e a música baixinha que saía do alto falante era familiar e genérica.

Quando a porta de metal foi aberta, ela saiu com os olhos ansiosos percorrendo por todas as direções e passos pesados e temerosos. A caixa torácica, aquela que alojava seu coração surrado e maltrapilha, retumbava ferozmente num ritmo desconexo e desesperado.

Olhando ao redor, ela percebeu que alugaram todo o andar e boa parte dos convidados eram de sua mãe. Honestamente, deveria ter previsto.

A jovem sufocou um suspiro, sentindo-se exausta antes mesmo de começar.

Ela tentou manter a calma e ignorar as mãos que suavam e aquele sentimento gelado no estômago enquanto avançava pelo salão. Ela encontrou o cabelo castanho e liso de Ethan, idêntico ao de sua mãe, de pé perto de uma mesa. Aquela era uma diferença entre os três que, nos dias de hoje, davam-lhe uma sensação estranha de que não fazia parte da família, ou não se encaixava. Seus fios loiros e cacheados foram herdados do seu falecido pai, enquanto Ethan puxou a mãe.

— Mabel! — ele disse, abrindo um largo sorriso assim que a viu. Ela se esquivou dos convidados e se aproximou em passos calmos, mesmo que seu coração tamborilava de saudade do irmão. Ele estava todo socialmente vestido, calças e sapatos de alfaiataria e blusa branca. Os olhos castanhos idênticos aos de Mabel, como o sorriso que puxaram do pai.

Os braços de Ethan a envolveram em um abraço caloroso, e Mabel o abraçou de volta, um pouco hesitante, mas feliz por vê-lo.

— Tudo bem? — ele perguntou com aqueles olhos cheios de ternura, depois que se afastaram. Ethan segurou as mãos de Mabel, passando os polegares sobre as juntas dos dedos. — Tô muito feliz que você veio.

Ela assentiu com a cabeça.

— Está tudo bem.

Ethan sorriu.

— Vamos encontrar Lauren, ela está doida para te ver.

Lauren Smith tinha aquele tipo de beleza natural, com seu cabelo escuro como carvão e curto até os ombros. Ela era engraçada e radiante. E a noiva do seu irmão, assim que a viu, abriu um sorriso de ponta a ponta.

— Como você cresceu! — ela exclamou, segurando as mãos da loira.

— Não tem tanto tempo assim que não nos vemos, Lala — Mabel respondeu, revirando os olhos de brincadeira.

Entre competições e acordes de guitarraOnde histórias criam vida. Descubra agora