04. Flocos de isopor rosa e mau pressentimento.

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Surpresa
fato inesperado, repentino, não anunciado previamente; imprevisto.

***

A palma da mão de Mabel percorreu pelo tecido da camiseta pariforme verde escuro com a palavra ''Save'' impressa na parte frontal. Ela ajeitou a postura, colocando os ombros para trás, analisando sua aparência no espelho pendurado na parede do banheiro.

Mabel inclinou a cabeça levemente para o lado, observando a calça jeans e a camiseta verde. Atrás, a logo estava impressa com uma pata de cachorro interligado, assim como a cidade e o estado da ONG escritos logo abaixo. Para completar, havia também um número de telefone.

Quando saiu do banheiro, Mabel teve mais um vislumbre das faixas penduradas que havia visto quando chegou vinte minutos adiantada. Sua língua ainda tinha a lembrança do gosto do café que tomou no caminho, cenas recentes de quando ela descartou o copo plástico com seu nome rabiscado de forma corrida na primeira lixeira que viu perto das árvores.

Os balões que formavam um aro se alternavam entre as cores verde e branco, e o sol batia no topo da cabeça de Mabel e esquentava seus braços e sua nuca desnudas por conta das duas tranças boxeadoras que Samantha fez em seu cabelo antes de sair do dormitório.

Mabel, instintivamente, procurou por algum rosto conhecido, encontrando Thomas pela segunda vez no dia. Ele usava a mesma camiseta verde e olhava confuso para uma prancheta.

Os pés dela se moveram até ele, uma tentativa de entender como funcionaria as coisas por ali.

Enquanto ela se move, o lugar está se enchendo de pessoas gradativamente. Hoje é a inauguração da ONG que ela havia se inscrito ontem e, mesmo que Mabel tenha chegado cedo e enviado uma mensagem para Thomas noite passada perguntando o endereço do local, ela não sabia o que deveria fazer.

— Estamos esperando os outros chegarem para gente fazer uma reunião com todo mundo — Thomas explicou.

— Mas não tem nada que eu possa fazer antes deles chegarem? — ela perguntou. Mabel odiava ficar parada e sentir como se fosse inútil — Eu poderia ir adiando alguma coisa — ela sugeriu.

Os olhos dele vagaram pelo local, procurando por alguém, Mabel supôs.

Thomas fez um movimento com a mão para um garoto que passava, que mudou a sua rota, indo até eles.

Fones de ouvido grandes estavam em cima dos seus ombros, se fechando em volta do seu pescoço.

Quando ele se aproximou, com o mesmo uniforme verde, seus passos eram calmos. O olhar dele recaiu sobre Mabel por alguns segundos enquanto ele se aproximava, e seus lábios se ergueram em um sorriso quando ele estendeu a mão para cumprimentar Thomas, e então, ela.

Seus dedos encostaram nos de Mabel e o aperto de mão durou poucos segundos.

— Theo, você pode levar ela para ajudar o pessoal lá atrás? Eu estou um pouco ocupado agora.

Theo assentiu, fazendo com que os cachos castanhos do seu cabelo se movessem com o movimento. O garoto possuía olhos castanhos, pele parda e cachos de cabelo que iam até a altura de suas sobrancelhas, cobrindo a ponta da orelha e um pouco das sobrancelhas.

— Vamos? — ele perguntou. Mabel concordou com um menear de cabeça e se despediu de Thomas com um aceno de mão.

Ela permaneceu quieta por boa parte do caminho, observando o lugar com atenção, na intenção de memorizar e não correr o risco de ficar perdida.

— Qual é o seu nome? — o garoto questionou, estourando a bolha de silêncio. — Eu sou Theodore, mas todo mundo me chama de Theo.

— Mabel.

Entre competições e acordes de guitarraOnde histórias criam vida. Descubra agora