Ele foi bom e delicado
Mas era mau e era tão mal-educado
Foi tão gentil e tão cortês
Por que será que não notei nenhuma vez?
Alguma coisa acontece; A bela e a fera***
Quando Mabel tinha catorze anos, em agosto, ela perdeu o primeiro lugar na feira de ciências.
Bem, na época, não havia primeiros, segundos ou terceiros. Somente o melhor trabalho vencia e ganhava a pequena medalha de ouro falso em uma fita azul e o medíocre buquê de flores amassadas. A multidão agitada e a sinfonia de vozes que ecoavam como sussurros flutuavam pelo imenso auditório de altas e grandes janelas. O restante dos participantes permaneciam com seus projetos em mãos, mesmo que às vezes o peso fosse demais para a idade e a força dos jovens alunos.
A pequena Mabel tinha o uniforme bem passado, a postura rígida e os olhos opacos que sempre iriam refletir o que ela sentiu enquanto segurava sua enorme maquete de fios elétricos e observava a garota de tranças ganhar a medalha.
Mabel a conhecia; ela era uma das garotas da sua classe, alguma coisa com L, mas todos a chamavam de Lily. Ela tinha as madeixas de cabelo castanhas, enroscadas em duas tranças e aquela curta franja que pairava sobre os olhos.
Mabel estava feliz por Lily. Ela havia visto sua empolgação e o quanto ela trabalhou duro. Da classe, Lily era uma das únicas que Mabel se simpatizava, mesmo que mal se falassem.
Quando Mabel a parabenizou naquele dia, os espinhos perfuraram sua garganta e falar era difícil. Ela sentiu o rosto pegando fogo, mas sorriu e foi educada.
Naquele dia, às dez da manhã, Mabel jogou a maquete fora nas latas de lixo do colégio.
Os cachos presos num rabo de cabelo elegante de repente estava apertado demais, o tempo parecia muito quente e o peso no seu coração era assustadoramente sufocante. Ela passou as mãos pelo rosto quando viu as peças soltas e caídas com a força da queda e pensou nos meses que passou, todos os dias, colocando um pedaço de si naquela maquete estúpida.
Não era justo.
Ela havia se esforçado tanto. Mabel já havia perdido a conta de quantas vezes havia imaginado como seria quando ganhasse, da sensação de quando chamassem o seu nome. Mas não aconteceu. E não era justo.
Quando voltou para casa, sozinha, Mabel se culpou por invejar Lily. Pensou que fosse uma má pessoa por se sentir triste e frustrada, e deixou aquele pequeno monstrinho em sua cabeça criar raízes. Era uma culpa amarga e grudenta, ácida e pesada como metal que a esmagou.
Era um ciclo sem fim de questionamentos nebulosos.
O que havia feito de errado para não ganhar?
O que decretou o ganhador?
O que ela poderia ter feito para ser melhor?
E, naquele dia, escondida atrás da cômoda da cama, Mabel chorou pela primeira vez em muito tempo. E se sentiu uma boba por isso.
No ano seguinte, depois de fazer uma maquete de um metro e passar quase quatro meses trabalhando no projeto, Mabel ganhou a feira de ciências e sua tão sonhada medalha de fita azul.
— Você tem certeza? — questionou Ethan, seu irmão mais velho, pelo telefone. Mabel caminhava pelos corredores da faculdade com o celular pairando ao redor do ouvido, a mochila nas costas e uma bebida na outra mão.
— Eu tenho — ela disse, pela segunda vez, quando disse a ele que a havia visto na internet o trailer da continuação do filme favorito dele.
Mabel levou o canudo até os lábios e sentiu o gosto de caramelo e chantilly na língua. Os cachos dourados variam um pouco abaixo dos seus ombros, começando a crescer, e a blusa preta de manga que ela usava possuía golas que estavam perfeitamente arrumadas.
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Entre competições e acordes de guitarra
RomanceMabel Campbell, a garota mais inteligente de toda a faculdade - de acordo com a lista dos cem melhores do ano - possui uma pedra no sapato. Ele se chama Oliver Cooper, o garoto de argolas pratas, sardas no rosto e um inconfundível ego. O maldito lo...