Jisoo P.O.V
Sinto a claridade entrar em meu quarto e praguejo internamente por ter esquecido de fechar a cortina a noite passada. O frio do amanhecer em Quebec adentrou meu quarto me fazendo querer voltar a dormir, mas não poderia me dar ao luxo. Levantei e me arrastei ao banheiro e fiz minha higiene pessoal e depois de pronta fiz meu caminho a cozinha.
- Bom dia Marta! - Disse para minha governanta assim que adentrei a cozinha e lhe dei um beijo na bochecha.
Marta está na minha família desde antes de eu nascer e quando terminei minha faculdade e fui morar sozinha ela quis vir comigo para "cuidar da sua menina" como diz ela. E quando aceitei trabalhar em Quebec no Canadá ela aceitou vir comigo.
- Bom dia menina Jisoo, venha tomar seu café.
- Você sempre cuidando de mim. Mas estou atrasada Marta. Tomo café mais tarde.
- Nada disso sente-se e tome um pouco do café. Você anda trabalhando muito e se alimentando mal Jis. Como médica você sabe que isso não faz bem.
- Tudo bem Marta. Tudo bem.
Tomo meu café sob o olhar atento de Marta e vou ao hospital.
O dia está frio. Muito frio e chuvoso. As ruas de Quebec estão molhadas e um pouco sombrias. As pessoas andando rumo aos seus compromissos aleias ao mundo ao seu redor. Cada um envolvido em seus dilemas, seus problemas, sonhos, amores. Alguns felizes apesar do clima representar um pouco de tristeza. Outros sucumbidos ao tempo chuvoso com suas mentes nubladas. No para-brisas do meu carro vejo os pingos descendo pelo vidro e a vista dos prédios e pessoas passando embaçados. O aquecedor ligado me protege da baixa temperatura. E uma música baixa quebra o silêncio da minha solidão. Sempre gostei de ficar sozinha. Isso em parte porque meus pais nunca foram os mais presentes ou carinhosos. Viviam para o trabalho ou jantares e festas e eu passava meus dias e noites com Marta que sempre foi a figura mais próxima de uma mãe que eu tive. Ou então ficava em meu quarto lendo e às vezes assistindo algo. Por isso a solidão não me incomodava tanto. Mas de um tempo para cá ando sentindo falta de algo, tendo uma sensação diferente.
Tenho um bom trabalho do qual amo, uma condição financeira boa. Minha independência desde nova. Mas falta algo que não sei o que é, só sei que sinto falta. Perdida em meus pensamentos envolta em um monólogo em minha cabeça chego ao estacionamento do hospital. Minha rotina diária a exatos dois anos desde que me formei em medicina. Minha paixão. Estaciono meu carro pego minha bolsa e saio rumo a entrada do hospital para mais um dia corrido com meus pacientes.
- Bom dia, Jis. - Lisa minha amiga desde a faculdade e enfermeira no hospital veio em minha direção com seu inigualável sorriso.
- Bom dia Lis. Alguma alteração com meus pacientes?
- Sabe que se algo acontecesse eu lhe chamaria dra. Kim. - Disse irônica piscando o olho. - Não teve nenhum problema, estão todos estáveis.
- Tudo bem, vou me trocar e seguir para minha ronda. Espero que hoje seja tranquilo por aqui.
Segui para minha rotina fazendo minha ronda verificando cada um dos meus pacientes e atendendo aos que davam. Alguns graves, mas a maioria sem muitos problemas. Geralmente essa correria só fazia as horas passarem rápido, mas hoje algo estava diferente. Uma angústia e ansiedade tomava meu peito. Uma sensação estranha como uma espera por algo que não imagino o que seja fez o dia se arrastar e minha concentração às vezes faltar. Me arrastei em meio a traumas e cirurgias tentando afastar esses sentimentos, mas falhei arduamente. A chuva tinha dado uma trégua, mas as nuvens escuras anunciavam uma nova tempestade vindo e parecia bem mais forte. Já era fim de tarde e dentro de poucas horas estaria em meu apartamento quentinha embaixo das minhas macias cobertas. Olhando pela janela da minha sala em um momento de trégua da correria eu via as pessoas e a cidade através do vidro me perdendo novamente em meus pensamentos. As horas passaram e finalmente iria para casa tomar um relaxante banho com uma taça de vinho e me aquecer em minha cama. Era o plano perfeito e tudo que amo e preciso depois de um exaustivo dia.
A chuva veio com força, um verdadeiro e forte temporal caía me fazendo diminuir consideravelmente a velocidade do meu carro. O trânsito estava um caos por conta da chuva então resolvi ir por outro caminho. Era mais longe, mas exatamente por isso deveria estar mais tranquilo e foi exatamente isso que encontrei no caminho quase deserto. Dirigindo devagar pela estrada escura e deserta eu seguia tranquila ao som de minhas músicas preenchendo minha mente, até que vi na beira da estrada algo que se mexia mais a frente e diminui a velocidade ainda mais. A chuva era forte e dificultava minha visão para decifrar o que estava na beira da estrada até que ao parar o carro a poucos metros eu pude ver... era uma pessoa? Uma garota?
- Meus Deus. - Sai do carro o mais rápido que pude sem me importar com a chuva e corri até a garota.
- Moça você pode me ouvir? Meu Deus, o que houve com você?
Ao me aproximar da jovem desacordada no chão encharcado eu pude ver vários hematomas cortes e sangue seco. Ela estava muito debilitada magra e desnutrida. Não imagino o que poderia ter acontecido para essa pobre menina chegar a essa situação e tinha até medo de pensar. Seu pulso estava fraco. Não daria tempo de esperar a ambulância chegar aqui e ela ficar nessa chuva toda só pioraria sua situação que com pouco já se notava que era crítica. Então resolvi fazer o possível nessa situação. Com um pouco de esforço consegui pegá-la no colo e colocar deitada no banco traseiro e segui para a direção voltando ao hospital olhando sempre que podia para a garota desacordada e tremendo no banco do meu carro. O que quer que tenha acontecido com ela com certeza ela sofreu muito até chegar aquela estrada naquela condição. Ao parar na frente do hospital sem me preocupar em estacionar direito, sai correndo já chamando enfermeiros enquanto abria a porta de trás do meu carro. Os enfermeiros ao me reconhecer vieram correndo com uma maca e retiraram a frágil menina do carro correndo para dentro e eu a seguindo. Eu não queria me separar dela. Eu iria atendê-la. Indiquei os procedimentos a serem feitos com urgência e fui me trocar rápido para atendê-la melhor.
Ao voltar para a garota já com as roupas cortadas pude ver que seu estado era mais grave do que imaginei. Hematomas por todo seu corpo e rosto. Cortes recentes. Cicatrizes de várias formas tamanhos espalhadas por seu corpo magro demais. Os batimentos e sua respiração estavam fracos demais. Me juntei a equipe que atendia a jovem e a cada exame feito eu me surpreendia mais.
"O que aconteceu com você pequena?" Pensei enquanto a examinava.
- Não sei como ela ainda está viva. Como e onde você a achou? - Perguntou Diana outra enfermeira da minha equipe e minha amiga. Assim como eu ela estava chocada com o que via na situação da menina debilitada em nossa frente.
- Ela estava caída na beira da estrada. Não sei como ela chegou lá naquela estrada deserta e nessa chuva. Depois chamaremos a polícia, ela tem hematomas por todo o corpo e sinais de estupro também, e marcas nos pulsos e tornozelos que são sinais de tortura.
Falei para outro enfermeiro que assentiu positivamente. Ela estava fraca demais sua pressão caindo e eu só queria salvá-la. Ajudar de alguma forma. Não sei se por conta do seu estado ou se por conta das marcas de abuso e violência que essa garota pode ter sofrido sabe Deus a quanto tempo, já que algumas marcas e cicatrizes são antigas eu sentia uma grande vontade de cuidar dela. Não só como estava cuidando, como médica, e sim de protegê-la e a segurar em meus braços para que nada de mal a aconteça novamente. E mesmo que não tenha visto seus olhos, ou escutado sua voz ao olhá-la ali deitada naquela maca eu percebi que a angústia que senti o dia todo agora não existia mais. Que algo nela era diferente e despertava algo em mim diferente dos outros pacientes. E apesar de todas as cicatrizes e marcas e do corpo maltratado ela era linda. Extremamente linda.
Eu me aproximei do ouvido da menina e falei baixinho como um segredo.
- Eu não sei o que houve com você menina, mas vou cuidar de você, eu prometo. Você vai ficar bem. Você está segura agora. Comigo. Vai ficar tudo bem. Você vai ficar bem.
Assim que falei essas palavras seu coração parou.
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Close - Chaesoo
FanfictionA vida de Roseanne Park é marcada por algo terrível. Sequestro, abusos sexuais, violência e tudo de ruim que ela nunca imaginou passar. Mas quando estava prestes a desistir e acabar com seu sofrimento tudo muda. Kim Jisoo sempre teve conforto, bom e...