Storm

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Roseanne P.O.V

Solidão. É isso que se baseia minha vida. Além de torturas e abusos.

Estou deitada em um fino colchão jogado no chão de um lugar frio, escuro, com apenas um lugar precário para fazer minhas necessidades e uma porta que vive trancada e uma minúscula janela alta demais para que eu possa ver qualquer coisa lá fora. Não sei dizer com precisão a quanto tempo esse lugar sujo, frio e sombrio tem sido o meu lar. Só sei que eu era muito criança desde que me lembro. Não sou mais assim. Apesar de não me alimentar direito e não ver meu reflexo ou até mesmo me cuidar como deveria vejo mudanças em meu corpo. Estou muito magra e fraca. Meu cabelo cresce cada vez mais chegando um pouco acima da minha bunda e estou um pouco mais alta do que me lembro.

Não lembro como vim parar aqui. Não lembro do meu nome, mas ele me chamam de Roseanne. Eu não gosto muito, mas não posso reclamar e nem sei se esse é o meu verdadeiro nome mesmo. Vivo acorrentada aqui dentro desde que posso me lembrar. E mesmo tendo pedido a memória sei que essa pessoa que me mantem aqui não é meu pai. Principalmente por causa do que ele faz comigo além de me manter acorrentada e me ferir me mantendo presa aqui dentro. Choro todas as noites e todos os dias por viver assim a tanto tempo. Não sei por que isso aconteceu comigo. Tudo que desejo é fugir daqui mesmo sem saber aonde ir ou quem são meus pais e meu nome eu queria sair, ir o mais longe possível dele. Eu já não aguento mais. Sei que estou doente e as vezes desejo morrer para assim, não passar mais por tudo o que venho passando a anos.

Não aguento mais passar fome, nem apanhar, nem ficar presa 24 horas todos os dias aqui dentro. Não quero mais ele encostando em mim. Sinto nojo de mim mesma a cada toque repugnante dele em meu corpo. Dói cada vez que ele me força a fazer o que ele quer. Eu só quero fazer tudo isso parar. Mesmo que seja através da morte. Eu já tentei me matar. Uma vez ele trouxe o que ele chama de comida para mim e em um descuido dele eu peguei uma faca e escondi, quando ele me acorrentou e saiu trancando a porta eu logo peguei a faca porque sabia que ele não ia demorar muito a sentir a falta dela e pressionei contra meu pulso perto da grossa algema. Eu só queria parar de sofrer então deixei minha mão cair ao lado do meu corpo enquanto via o chão começar a ficar vermelho do sangue que escorria por minhas mãos e esperei minha tão sonhada liberdade desse sofrimento.

Mas, quando eu já estava começando a perder os sentidos, escutei a porta abrir com força e ele me puxando do chão e me xingando por fazer isso e então apaguei. Quando acordei a primeira coisa que senti foi um tapa forte em meu rosto e meus pulsos doendo muito enrolados em uma faixa coma a algemas pressionando os cortes. Quando abri os olhos ele estava com um olhar raivoso o rosto vermelho e os punhos serrados. Ele me espancou e me deixou dois dias sem água ou comida. Disse que era por eu ter me comportado mal e ter me ferido. Depois daquele dia ele não se descuidou mais com o que ele traz para mim. Não sei quem ele é ou o porquê ele faz isso comigo. Ele só diz para chamá-lo de Leon ou às vezes de mestre. Tudo que restou da minha tentativa de liberdade foi mais um par de cicatrizes para completar minha coleção distribuída em meu corpo. Mas tenho um fio muito fino de esperança de que um dia sairei daqui. Mas a cada dia nesse inferno eu desisto um pouco mais.

Hoje estou muito mal já não como a um tempo e estou com fortes dores na minha barriga por conta do último aborto que Leon me fez ter. Ao longo desses anos já era o quarto aborto que sofria. Ele abusava de mim, depois se eu engravidasse ele me dava umas coisas para tomar. Mas dessa última vez foi pior. Não sei se por causa da fraqueza ou de alguma doença que suspeito que tenho, eu não estou me sentindo muito bem. Deitada no colchão encolhida com minhas mãos pressionando minha barriga em busca de um mínimo de conforto para as dores e chorando muito pedindo por tudo que é mais sagrado para acabar com isso que chamo de vida ouço um forte trovão.

Uma forte tempestade está caindo lá fora. Não posso ver, mas posso ouvir o barulho da chuva e os trovões cortando o silêncio do meu sombrio "quarto". Já não tenho mais forças para chorar quando escuto a porta sendo destrancada. Meu corpo fica tenso e eu não me movo enquanto o vejo entrar e encostar a porta. Ele sabe que não estou bem por isso não se preocupou em trancar a porta. Ele se aproxima e se ajoelha ao lado do colchão e coloca a mão nojenta em minha testa. Tento me afastar de seu toque e ele segura-me com força.

-- Como está se sentindo bebê? -- Ele fala depois de tirar a mão da minha testa percebendo a febre que se apoderou de mim. Não respondo e ele continua. - Não se preocupe eu tenho um remédio que vai te fazer melhorar logo.

Então arregalo meus olhos vendo-o levantar e desabotoar sua calça a tirando em seguida.

- Não por favor eu não aguento mais isso ..p-por favor...n-não faz isso eu não aguento mais. Eu acabei de abortar a dois dias e estou muito mal por favor não faz isso... - Eu imploro desesperada para não ser obrigada a tê-lo me tocando de novo, mas ele dá um sorriso maligno e cheio de malícia e puxa minha calça com força me virando de bruços e se deitando por cima de mim.

Tento me debater sem sucesso e não tenho força para gritar também pois minha voz está rouca e fraca demais. Ele segura meus braços com força e me penetra com brutalidade falando obscenidades em meu ouvido enquanto tudo o que me resta é chorar enquanto espero ele terminar e ir embora. Quando ele termina depois de torturantes minutos ele se levanta e se senta no colchão encostado na parede e eu fiquei parada na mesma posição apenas deixando as lágrimas caírem silenciosamente por meu rosto, então ouço ele me chamar enquanto veste minhas calças novamente, mas eu continuo sem me mover. Ele então me senta no colchão e me examina, mas eu não reajo a seus estímulos ou suas palavras nem aos seus toques agressivos e isso parece assustá-lo porque ele tira minhas algemas e me deixa sentada enquanto vasculha algo que ele trouxe quando entrou então vendo que ele está de costas para mim e a porta destrancada uma luz se acende em minha mente.

Eu estou mal e muito debilitada, mas é uma chance única para fugir desse inferno então se não der certo não vai acontecer nada do que eu já não esteja acostumada. Eu reúno toda as forças que eu não tinha mais em meu corpo e me levando o mais silenciosamente possível e vou até uma cadeira que ele tinha deixado ali para me esperar terminar minhas refeições vigiadas por ele e a pego indo em sua direção e batendo em suas costas e nuca com o máximo de força que consigo e quando ele cai no chão eu corro até a porta me certificando de trancá-la por fora para ele não vir atrás de mim tão cedo, já que não tenho condições de correr no momento. Vou andando sem rumo por um corredor e subo umas escadas que sai dentro da cozinha de uma casa então percebo que todos esses anos estive presa em um porão. Vou o mais rápido que as dores e fraqueza me permitem em direção a porta da cozinha e posso ver a chuva molhando o vidro da mesma. E com as mãos trêmulas por conta do frio, da dor e principalmente da emoção e alegria por estar tão perto da minha sonhada liberdade eu giro a maçaneta abrindo a porta e pisando na varanda descendo a pequena escada até sentir as gotas geladas da chuva em meu rosto e corpo sorrindo por senti-lá pela primeira vez em anos.

Então começo a correr pelo que parece uma floresta rumo a minha liberdade com muita dor, frio e fome, mas com um sorriso enorme que não tinha a muitos anos no rosto. Entro em meio a árvores altas e então me dou conta de que por isso ninguém escutava meus gritos. Ele morava afastado em meio a floresta de alguma cidade... continuo tentando correr, mas meu corpo já não aguenta mais o esforço. Há anos eu não saia daquele quarto, não caminhava então não estava mais acostumada ao simples ato de caminhar ou correr, mas eu não poderia parar agora pois tenho que continuar custe o que custar. Os raios cortam o céu trazendo alguma luminosidade para mim enquanto a chuva forte continua a cair e eu não sei onde estou ou para onde estou indo só quero ir o mais longe que eu aguentar. Depois de algum tempo andando já estava quase caindo sem forças quando olho para frente e ao longe vejo algumas luzes passando e um som de o que parece motor de carro se não me engano. Luto contra meu corpo e me obrigo a continuar a andar me aproximando do pouco movimento das luzes desviando de galhos e matos que me cortam, mas a dor desses cortes não são nada comparados ao resto espalhadas por meu corpo.

Já estou caindo quando finalmente saio da mata encontrando a pista onde os carros estavam passando, a chuva forte dificultando a visão em meio a escuridão quando eu paro na beira da pista e avisto duas luzes se aproximando e então quando está bem perto eu me entrego ao meu corpo e caio na pista molhada. Tudo o que vejo é o carro parando próximo ao meu corpo, uma sombra vir em minha direção e de repente tudo se apaga.

Close - ChaesooOnde histórias criam vida. Descubra agora