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LUANA

Estranhamente, Madu me deu paz durante o resto da semana. Toda manhã eu pisava nos estúdios de filmagem esperando que ela viesse com suas desculpas esfarrapadas, ou que voltasse ao normal, debochando de mim o revirando os olhos a cada palavra que saía da minha boca. Mas ela não o fez. Contracenamos diante das câmeras, e por trás delas, quando necessário, fingimos que aquele relacionamento estava sendo maravilhoso, só para cada uma seguir seu caminho depois de todo o teatro. No camarim, se tinha que me dizer algo, Madu era extremamente educada, tão educada que me dava até nos nervos, mas não reclamei. Maria estava respeitando meu espaço, e por mais que fosse estranho não estarmos sempre uma cutucando a outra, me deu tempo para por meus pensamentos em ordem.

Depois da última discussão que tivemos, fiquei em casa de cabeça cheia. O fato de ela ter assumido que eu tinha um interesse por ela tinha me deixado extremamente incomodada. A ponto de ela ter conseguido alugar um triplex na minha cabeça, mas o que eu esperava? Tê-la beijado deve ter passado o sinal errado, pelo menos era do que eu tentava me convencer. Eu não poderia estar nem remotamente apaixonada por Maria Eduarda, porque se eu estivesse, a minha vida iria se tornar um inferno na terra. Então passei aquela noite em claro, esmiuçando cada uma das conversas que tivemos, toda a atitude que tomei e cada resposta que dei a ela, e me convenci de que não tinha nada a ver. Eu só gostava muito, muito mesmo, de ver Madu irritada, isso era tudo.

Hoje, por ser sábado, íamos gravar poucas cenas. As demais seriam referentes a personagens secundários da novela, logo eu estaria livre para sair mais cedo e relaxar relendo o último lançamento da minha atual escritora preferida. Era a forma que eu tinha de suprir a necessidade de novos livros dela, já que a editora se negava a me ceder cópias da nova trilogia antes do lançamento. Pediu o contato da escritora, prometi todo o dinheiro da minha conta, mas eles insistiram que aquilo não seria possível já que violava cláusulas do contrato entre eles. Eu poderia muito bem ir atrás dela por conta, se aquela maldita não usasse um pseudônimo. Quem ela tava pensando que era, Emily Brontë? Quem é que fazia isso hoje em dia?

Estendi minha toalha na areia da praia, posicionada bem embaixo da sombra do guarda-sol, e me emergir no livro. A personagem principal era a típica garota atrapalhada, que tinha uma paixão pela colega de trabalho. O desenrolar da história era engraçado, leve e extremamente safado. Acho que era aquilo que mais me atraía na escrita daquela autora. E foi entretida na leitura de uma dessas cenas, que fui literalmente atacada por um serzinho de quatro patas. A princípio pensei em gritar e sair correndo, mas quando reconheci o cachorro, apertei-a em meus braços e recebi muitos lambeijos. Depois que o ataque de carinho de Meg acabou, ela parou ao meu lado, latiu duas vezes e tentou abocanhar o babado da parte de baixo do meu biquíni.

- Hey menina! - Chamei a atenção dela, tentando fazer com que parasse, mas não aconteceu. Só me faltava Meg consegui me deixar nua no meio da praia. Vendo que não teria sucesso daquele jeito, ela tornou a latir, e como se soubesse o que estava fazendo, trotou até um embrulho a menos de um metro e meio de onde eu estava e cutucou com o focinho, latindo de novo. Antes de caminhar até Meg para saber o que era, olho ao redor procurando por sua dona, mas até onde meus olhos alcançavam, eu não a estava vendo. - O que é isso, garotinha?

Peguei o embrulho que, se eu estivesse certa, era Meg quem tinha trazido, e voltei a me sentar embaixo do guarda-sol. Me surpreendendo, a golden se esparramou ao meu lado, depositando a cabeça em cima da minha perna, em um pedido claro por carinho. Sorri com a fofura daquela cachorra, e novamente olhei ao redor, procurando por Maria Eduarda. Era muito estranho ela ter deixado Meg sozinha, mesmo que soubesse que eu estava por perto, achei aquilo bastante imprudente de sua parte. Mas deixei esse problema para depois, focando minha atenção no embrulho. Achei pesado e me perguntei como é que não tinha perdido isso muito antes de me encontrar. Quando rasguei o pacote, meu queixo caiu assim que coloquei os olhos em cima do conteúdo. Eram a porra dos livros que eu tanto queria, Mas como...?

por trás das cenasOnde histórias criam vida. Descubra agora