14

19 4 1
                                    

LUANA

Na manhã seguinte, não precisei de despertador para acordar. A pouca claridade vinda da janela me dizia que ainda deviam ser pouco depois das 5:00 da manhã. Pisquei várias vezes, tentando expulsar o resquício de sono que ainda estava em mim. Aos poucos fui me sentindo mais desperta, e só quando trouxe a mão ao rosto, me dei conta de que estava, literalmente, toda encaixada no corpo de Maria Eduarda. Franzi a testa sem lembrar de como aquilo tinha acontecido, mas sem me sentir nem um pouco desconfortável. Muito pelo contrário, o calor de nossos corpos juntos era tão gostoso, que não me incomodei em me mover. Simplesmente afastei meu cabelo dos olhos, e voltei a minha mão aonde estava antes, confortável apoiada em seu abdômen por baixo da camiseta.

Uma parte da minha mente sabia que, a partir do momento em que Maria tinha se mostrado tão atenciosa e capaz de lidar e se preocupar comigo, eu entraria em uma queda. E ter pedido para que ela ficasse ontem foi o primeiro passo em direção ao abismo. Mas eu não queria encarar aquilo agora, na verdade eu só me obrigaria a lidar com seja lá o que aquilo fosse, quando o controle já estivesse muito longe das minhas mãos. E por enquanto eu estava muito bem controlada, obrigada. Movi meus dedos em círculos lentos naquele abdômen lisinho, deixando minha mente vagar para como ela tinha ficado toda nervosa sobre dormir comigo. Confesso que tive medo de que ela simplesmente fosse embora, acho que se levasse mais algum tipo de fora daquela mulher, meu ego ia ficar em cacos. Mas contrariando o que eu esperava, Maria retornou ao meu apartamento, claramente tentando controlar aquela crise esquisita. Por que será que ela tinha ficado tão nervosa? Tenho claras noções do quão linda e maravilhosa sou, mas não posso negar que ela também é uma mulher absolutamente linda, que poderia ter quem quiser e quando quiser. Então porque tanto nervosismo?

Pretendia perguntar a ela sobre isso depois, acho que na nossa atual situação, eu poderia ter a liberdade de tentar conversar com ela sobre coisas do tipo. Passei muito tempo perdida em pensamentos, enquanto estava com chegada no corpo de Maria. Quando meu celular despertou, desliguei o alarme tão rápido, que me surpreendi. Mas toda a minha pressa não foi suficiente para evitar que Madu acordasse. Encostei o queixo em seu peito para assistir aquele processo. Ela se mexeu levemente, tirando o braço que estava ao meu redor e esticando juntamente ao outro acima da cabeça, bocejou e levou a mão aos olhos, coçando-os. E então seu corpo ficou tenso. Pude perceber por estar praticamente toda em cima dela. Até aquele momento eu não tinha parado as carícias em seu abdômen, mas resolvi que era a hora. Considerando o estado em que ela tinha ficado antes de deitar, era capaz dela começar a surtar.

- Bom dia. - Minha voz saiu rouca devido o tempo sem usar. - Está tudo bem, eu não abusei de você.

- Hmm... - O resmungo foi tão rouco quanto o meu, Maria limpou a garganta, mas evitou olhar em minha direção. - Você está em cima de mim.

- Ora, ora, ora, Sherlock Holmes. - Brinquei e ela bufou, mas ainda assim eu não me movi. Estava muito confortável ali, isso não tinha nada a ver com o fato de que eu estava adorando sentir o cheiro dela.

- Não sabia que você era tão bem humorada pela manhã. - A voz de sono dela se manteve bem rouca, e meu cérebro traidor achou aquilo incrivelmente sexy. Madu pareceu esperar, finalmente me encarando, mas eu estava com um total de zero interesse em me mover. Então fiz a sonsa, voltando a acariciar sua barriga. Maria soltou um suspiro pesado, e estreitou os seus olhos para mim. - O que tá fazendo?

- Curtindo preguiça. - Dei de ombros. - Estou muito confortável aqui. - E, querendo testar os limites daquela mulher, Raspei as unhas por toda a extensão de seu abdômen. Madu estremeceu, e tão rápido quanto podia, envolveu os braços ao redor do meu tronco e me tirou de cima dela, como se fosse queimar ao me deixar tocá-la. Não consegui conter o riso travesso quando Madu pulou da cama.

- Acho melhor você não brincar comigo, bonitinha. - Apontou o dedo para mim, como quem repreendia. - Você pode não gostar de quando eu revidar.

- Olha só. - Continuei rindo, enquanto puxava o travesseiro que Madu tinha usado e o abraçava, inferno de mulher cheirosa. - Isso é uma ameaça? Cuidado que eu posso ganhar de você.

- Você é fraca, te falta ódio. - Na ora entendi a referência, e comecei a rir mais ainda. Como era possível uma mulher de 28 anos estar citando Naruto? Demorei alguns segundos para parar de rir, só para me deparar com a Maria Eduarda com as mãos na cintura, me encarando com as sobrancelhas levantadas.

- Vou te mostrar o quão fraca sou, bonitinha. - Larguei o travesseiro e me levantei, esticando a coluna. Assim que passei por Maria, encarei bem dentro de seus olhos. -  Que os jogos comecem, e que a sorte esteja sempre a seu favor. - Maria riu tanto quanto eu, e me aproveitando disso, deixei um leve beijo na maçã do seu rosto antes de virar as costas e caminhar para o banheiro. Estava na hora de cutucar o vespeiro com um palito de dente.

Tomei meu banho tranquilamente, sem me preocupar em ter deixado Maria Eduarda sozinha. Se ela realmente estava me desafiando em brincadeiras de sedução, aquela maldita ia sofrer na minha mão. Pelo menos essa era a minha esperança, já que precisava admitir que tendo a ter uma pequena queda por ela. Nada com que eu não consiga lidar. Depois de pronta, cedi a Maria algumas roupas minhas e disse que se ela quisesse, poderíamos ir juntas para as gravações hoje. Meu dia no estúdio de filmagem não seria longo, gravaria uma cena somente, e depois teria de partir para outro lugar, a fim de gravar uma publi de uma marca da qual era a parceira.

Só não esperava que, ao dizer que poderíamos ir juntas, Maria assumisse que ia ser na antiguidade dela. Eu já não tinha tanto medo de andar naquele carro, mas ainda assim não me sentia totalmente confortável, mas a condição que ela deu era a de ser no carro dela, ou cada uma com o seu. Não preciso dizer que fiquei de bico o caminho todo por não ter o que queria, preciso? Madu não pareceu se importar nem um pouco, fez até piadinhas, o que me deixou com muita vontade de agredi-la. Mas como sou melhor que isso, tirei meu celular da bolsa e resolvi checar minhas redes sociais. E qual não foi minha surpresa, ao ver esses malucos que chamo de fãs dando Ibope para várias cenas de Maria me carregando para casa. Era um surto atrás do outro, nunca vi seres humanos tão capazes de cuidar do relacionamento alheio como os fãs de casais LGBT conseguiam ser.

- Qual é a merda da vez? - Maria perguntou, enquanto parava no sinal vermelho. Virei o celular para ela.

- Você virou o príncipe no cavalo branco desse nosso grupo muito inconveniente de fãs. - Madu estendeu a mão para pegar o celular, mas tirei de seu alcance, pois o sinal tinha aberto. - Eles estão surtando, dizendo o quão fofa você é, que você é a meta de tipo de namorada para eles, meu Deus! - Revirei os olhos, ao continuar lendo os comentários. - Até os meus ferrados estão te amando agora.

- Realmente chama seus fãs assim? - Ela riu, incrédula. - E relaxa, estrelinha, não é culpa minha se sou tão perfeita que eles nem te notaram. - Abri a boca, indignada com a audácia daquela filha da puta.

- É impressão minha ou você está insinuando que eu sou menos do que perfeita? - Minha voz saiu estridente demais até para mim, Maria me olhou de canto de olho.

- Jamais seria capaz de blasfemar uma deusa como você. - O tom provocativo me fez querer bater com a cara dela no volante. - Quem é Afrodite perto do mulherão da porra que você é, Luana? Eu nunca pensaria...

- Ai, cala a boca.

Depois de Maria Eduarda rir até não se aguentar mais, ela parou de me provocar. Meu cérebro continua voltando para o quão diferente estava sendo a nossa relação. E fico me perguntando se fui responsável, sozinha, por aquilo não ter acontecido antes. Sinto que de certa forma, tínhamos perdido boas risadas enquanto estávamos ocupadas demais tentando arrancar os cabelos uma da outra, não literalmente, é claro. Mas de certa forma, sinto que eu tinha conseguido derrubar todas as minhas barreiras, o suficiente para deixá-la entrar. Nunca quis tanto que alguém entrasse na minha vida como quero que Maria o faça, mas eu não admitiria aquilo nem que minha vida dependesse disso. Uma coisa era eu ceder e deixar de ser uma fedelha, outra coisa era abandonar o meu orgulho, que atualmente era o que conseguia manter a minha dignidade. Mas aparentemente, Maria estava disposta a foder com a tal dignidade que eu achava que tinha, acho que ela havia falado sério quando disse que eu me arrependeria de brincar com ela. Mal ficamos perto uma da outra, mas a desgraçada dava sempre um jeito de me encontrar, soltar uma provocação digna de uma grande pervertida, me deixar corada e saía. Meu Deus cadê meu cropped? Preciso reagir, eu vou acabar morrendo por causa daquela desgraçada.

Você leu todos os capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Jul 31 ⏰

Adicione esta história à sua Biblioteca e seja notificado quando novos capítulos chegarem!

por trás das cenasOnde histórias criam vida. Descubra agora