Capítulo 14

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  Joel dirigiu o caminho todo atentamente, enquanto eu esperava a qualquer momento vagalumes surgindo até mesmo de bueiros para tentar nos parar. Mas seja lá o que eles tentassem, eles não conseguiriam me parar dessa vez.
  Por sorte a estranha calmaria que estava na estrada, foi tudo o que recebemos depois de milhares de balas e bombas.

  Olhei pelo retrovisor para ter certeza de que Ellie estava bem, e a garota parecia dormir em um sono profundo e pesado, que não a faria despertar tao cedo.

— Quando ia me contar que você fez uma limpa de vagalumes a quatorze anos atrás? — As mãos dele rodeiam o volante e o apertam com força.

— E o que importava isso? — Pergunto irritada.

— Eu vi uma versão sua que você não mostrou durante um ano inteiro, aquele ódio todo que você estava sentido, eu nunca pensei que a veria assim.

— Aquela é a versão de uma mãe que foi traída por todos a sua volta, Joel, eu não tinha ideia de que a Ellie era minha filha, você consegue entender isso?

  Ele respira fundo e balança a cabeça concordando.

— Então você era filha do único médico cirurgião dos vagalumes, e ele claramente estava disposto a matar a neta dele sem nem pestanejar. — Ele continua.

— Infelizmente sim, e quanto ao nome, por favor nunca me chame de Anna. Tudo sobre meu passado morreu, exceto ela, Ellie é a única coisa que eu quero manter viva. — A olho mais uma vez pelo retrovisor.

— Como vai contar isso para ela?

— Não sei, tenho medo dela não reagir tão bem, precisamos planejar uma mentira para que nenhum dos dois erre.

— A mentira sobre os vagalumes é o de menos, o que vai arrancar o chão dela vai ser descobrir que você é a mãe que ela tanto acredita estar morta. — Ele continua sem tirar os olhos da estrada.

— Vai demorar, mas ela vai conseguir superar.

— Acho que sim, até porque muito antes de você entrar nessa loucura, ela já falava sobre você, mas sempre pensando que estava morta.

— O que ela dizia? — Pergunto curiosa.

— Que gostaria de ter te conhecido, que tudo o que ela ouviu da Marlene era que você era muito corajosa, mas geniosa e infelizmente a vida foi cruel com você. — Joel suspira.

— Ao menos isso não foi uma mentira, mas ela poderia ter me entregado a Ellie, o que custava ter me procurado? — Meus olhos voltaram a ficar marejados.

— Seu pai não deve ter deixado, o homem ia matar a neta dele sem contar a verdade, quem garante que ele não ameaçou a Marlene?

— Você pode estar certo. Quando cheguei em Boston, ouvi pela cidade que meu pai tinha conseguido seguir a vida dele, que sua filha mais nova tinha muita saúde e era uma garota muito dócil. Eles não sabiam quem eu era, me tornei uma daquelas lendas macabras que ninguém queria contar.

— Quem é o pai dela? — Joel perguntou parecendo temer a resposta.

O olho por alguns instantes hesitando tocar nessa história.

— Era um dos treinadores dos vagalumes, ele era importante, e eu era muito jovem, engravidei porque vivia dando um jeito de fugir no meio da noite com ele. Meu pai o odiava, achava que ele tinha atrapalhado a minha vida e quando descobriu que eu estava grávida da Ellie, pediu para que eu a tirasse.

— Meu Deus. — Ele sussurra. — E o que você fez para conseguir manter isso durante nove meses?

— O ignorei, e ignorei o pai da Marlene. Eu era uma das melhores agentes dos vagalumes, ágil, uma mira impecável e... ah, o pai dela parecia me adorar demais para ser só mais um deles.

— Você acha que ele gostava de você?

— Tenho certeza que sim, as propostas indecorosas eram frequentes. Quando ele soube que eu estava grávida, parecia que eu tinha o traído, fez e pediu de tudo pra que não continuasse a gravidez com a desculpa de que os deixaria desfalcados.

— E você fez o que diante de toda essa merda?

— Passei os meses planejando como iria matá-los, mas o pai da Ellie parecia mais preocupado do que precisava estar. Eu sabia que ele me traia com a Marlene, e que haviam motivos suficientes para o pai dela mandá-lo para aquela merda de missão.

   Joel pareceu incrédulo com tudo o que eu disse.

— Está explicado, vocês viviam como animais dividindo a carne, entendo porque você não aguentou.

— Eu nunca fui como eles, sempre fui pior, não tinha paciência para hipocrisia, e quando chegou o dia que eu pude matar o pai da Marlene, foi um dos momentos de mais alívio da minha vida. Eu não consegui derrubar muitos vagalumes, mas devo ter matado uma quantidade significativa, depois disso fiquei meses presa até a Ellie nascer.

— Acho que não tivemos uma vida fácil, mas podemos ir para Jackson e começar tudo do zero.

— Podemos ter uma história romântica e bonita. — Brinco — Nos conhecemos em um restaurante, você derrubou seu vinho em mim, eu corei e depois disso não preciso dizer o que aconteceu.

  Agora era vez de Joel ficar sem graça.

— Engraçadinha. — Ele me olhou com um leve sorriso em seus lábios — Vocês foram a coisa mais importante que aconteceu na minha vida, e eu não vou deixar nada acontecer. Seu segredo está seguro comigo, vamos fingir que o passado nunca aconteceu, principalmente depois de hoje.

— Seremos uma família, com um passado sombrio, mas uma fazia feliz.

— Todos nós temos coisas de que não nos orgulhamos, o importante é deixar apenas as coisas boas sobressair.

— Espero que ela possa nos perdoar um dia, por tudo o que fizemos. — Suspiro tentando não voltar a chorar.

— Ela vai.

  Notamos que Ellie se mexeu no banco e ficamos em silêncio no mesmo instante.
  A observei atentamente, a anestesia podia deixá-la enjoada, então eu já estava preparada se algo acontecesse.

— Onde estou? — Ela perguntou tentando abrir os olhos.

— No carro, estamos indo para casa.

— Jackson? — Ela tenta se levantar mas cai deitada.

— Ellie, vai com calma, você ainda está com o efeito da anestesia. — Joel a alerta.

— Anestesia? Por que me deram anestesia?

— Fizeram alguns exames, tinha um grupo, assim como você eles também eram imunes. — Joel respira fundo — A questão é que não sabem como isso funciona em vocês, então não tem como ter uma cura.

  Ellie apenas se virou e ficou em silêncio durante algum tempo.

— Aonde estão minhas roupas?

— Fomos atacados quando estávamos lá, tive a sorte de conseguir te tirar enquanto Stella conversava com a Marlene. — Ele continua.

  Joel contar toda a mentira apenas pra conseguir fazer com que eu não tivesse que lidar com tudo sozinha, era algo que tirava um peso terrível das minhas costas.

— A Marlene está bem? — A voz da garota parecia triste com tudo o que ouviu.

— Acho que sim, é difícil saber, os militares fizeram um estrago dos grandes.

   Permaneci em silêncio durante toda a conversa dos dois.

— Stella, você está bem? — Ela finalmente me questiona.

  Eu sabia que ela gostaria de perguntar se tudo isso que Joel falou era verdade, e para o bem dela eu iria até o inferno com essa mentira.

— Sim, estou bem e feliz que você também tenha saído sem nenhum arranhão. Tivemos sorte de sermos rápidos.

— Ótimo. — Ellie suspira.

  Essas são as únicas palavras da garota.
  Joel e eu apenas trocamos olhares, era o melhor a se fazer e era tudo o que podíamos fazer.

  E eu faria tudo de novo se fosse preciso.

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