Com nossos olhares fixos uma na outra, terminei de beber mais uma dose daquela bebida. Deixei o copo com um cara que passava com uma bandeja.
Levantei os ombros para visualizar melhor a cena de uma moça se aproximando da mulher, a qual tinha o rosto de Samantha. Ambas começaram a dançar sensualmente uma para a outra, como se elas se conhecessem a muito tempo. Eu só podia estar ficando louca, o quê raios a Samantha estaria fazendo aqui? Isso não é a sua cara.
— Puta merda, eu só posso ter perdido a noção. — Dizia para mim mesma, passando a mão pelo meu cabelo.
Um rapaz alto, barba por fazer e o corpo tatuado se aproximou. Me entregando uma bebida.
— Quer dançar, gatinha?
— Obrigada! — Levantei a mão mostrando minha aliança de compromisso.
— Eu não sou ciumento.
— Mas ele é. — Dei um sorriso sem humor. — Pode sair da minha frente agora? — Empurrei o seu corpo mais para o lado, visualizando a imagem da provável Samantha. O cara se foi resmungando. Ignorei, estava mais interessada na mulher logo enfrente que ainda se encontrava dançando com aquela moça.
Elas não se desgrudam nunca?
Em geral eu não tinha esse costume de ficar reparando nos outros, mas agora é inevitável. Fora que tudo o que ela fazia, cada movimento, cada expressão... Tudo parecia ser direcionado para mim. Parecia uma provocação. Se caso eu estivesse enlouquecendo, sei que esse era o meu destino por ter roubado a sua vida. Ter roubado uma história que não era minha. Eu não costumava falar para ninguém sobre o ocorrido na cabana e isso era o que mais me sufocava.
Aquele momento se prolongava. Não queria ser só uma espectadora do que estava acontecendo, então avancei uns passos na sua direção. Cutuquei o ombro da moça que dançava com ela, atraindo sua atenção.
— Me permite? — Me refiro a uma dança com a sua "parceira."
— Ela já está comigo.
— Acho que ela é grandinha o suficiente para responder por si própria. — Olhei na sua direção. — Podemos? Só uma dança.
Deu de ombros, indiferente. A moça que outrora estava com ela, se foi.
Quando ficamos sozinha, senti uma sensação estranha. Algo desconhecido. Seja o que for, estava gostando da sensação de vê-la novamente após cinco anos.
— O quê faz por aqui, Samantha?
A mulher franziu a testa meio confusa.
— Como me chamou? — Ouvir sua voz também foi bem arrebatador.
— Samantha.
A mesma inclinou a cabeça para o lado.
— Nunca ouvi esse nome na minha vida. — Contou me fazendo rir. — Qual é a graça?
— É que não faz o menor sentido, está na cara que você tá mentindo. — Literalmente na cara.
A mulher continuou dançando, mas dessa vez me ignorando.
Segurei seu braço e ela me encarou.
— Olha, não faço ideia de quem você está falando e também vou pedir para que me solte!
— Para, Samantha, isso não tem a menor graça!
— Você que precisa parar de me chamar assim! — Elevou o tom de voz me afastando.
Fui atrás dela de novo.
— Samantha, é sério!
— Será que eu vou ter que chamar alguém para te tirar de perto de mim?!
Tomei um susto quando ela gritou, atraindo a atenção de várias pessoas da boate. Olhei para os lados e falei calmamente:
— Olha, eu sei que foi errado o que fiz. Não deveria ter escrito aquele livro e muito menos te exposto daquela forma, você deve ter descoberto e agora está agindo assim para me punir.
O queixo da mulher caiu me ouvindo dizer aquelas coisas. Parece que sua falta de paciência só aumentava. Ela não queria me dar ouvidos de jeito nenhum. Alguns segundos depois, Dylan surgiu ao lado de Naomi e Brian.
— Finalmente a gente te achou! — Naomi proferiu, mas vendo o clima pesado entre mim e aquela senhora, perguntou: — Alguma coisa de errado?
— Sim, sua amiga está me importunando! — Reclamou. — Essa mocinha fica me chamando de Samantha, ela age como se me conhecesse.
Mocinha? Estreitei os olhos.
— Era assim que você me chamava na cabana!
— Coitada, ela só pode estar bêbada. — Posicionou as mãos na cintura.
Dylan me abraçou por trás.
— Vamos embora, amor. Essa mulher não é quem você imagina. — Dizia no pé do meu ouvido.
— É ela! A mulher do meu livro! — Apontei. — Essa é a verdadeira Samantha Crawford!
Todos ao redor me olhavam como se eu fosse louca. Não era para menos, ninguém nunca chegou a ver ou ter uma imagem concreta de Samantha, apenas idealizava o que meu livro descrevia. Para ocultar ainda mais a sua existência, nem a sua aparência eu fui fiel ao descrever. Então era a minha palavra contra a dela.
Abaixei a cabeça derrotada.
— Sinto muito, senhora. — Dylan pedia. — Isso não voltará a acontecer.
— Espero. — Dito isso, ela se foi da nossa presença sumindo entre a multidão.
A atenção de todos se voltou novamente para mim.
— Acho melhor você ir descansar, Melinda. — Brian sugeriu. — Amanhã você pensará com mais clareza.
Concordei contragosto.
— Eu te levo embora e te faço companhia.
— Não precisa, Dylan. — Me afastei. — Vocês já fizeram muito por hoje.
— Tem certeza, amiga?
Fiz que "sim" com a cabeça, me despedi de todos e fui correndo para o lado de fora da boate. Samantha já havia desaparecido. Mas se ela acha que vai ficar por isso mesmo, está muito enganada.
Amanhã eu partiria o mais cedo possível para encontrar aquela cabana e provaria para todos que ela não é apenas um "fruto" da minha imaginação.
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Cabana
RomanceMelinda Kingston é uma universitária com um sonho "quase" falido de ser escritora. Com as aulas se encerrando, seus livros sendo rejeitados por todas as editoras e sem nenhuma outra perspectiva para o que vem depois, a garota resolve tirar uma seman...