XLV

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A noite estava fria e silenciosa
Verônica havia mandado providenciar roupas limpas para a nora, Luna colocou um agasalho e prendeu o cabelo

- Senhora Luna - Said bateu a porta - Está tudo bem ?

- entre Said -

- A senhora pediu que eu viesse até aqui - ele a olha um pouco confuso

- Sim, entre por favor

- A princípio quero que me diga como está o meu marido - ela tinha o rosto avermelhado e os olhos inchados

- Ele continua em cirurgia senhora - Said é rápido ao responder

Luna abaixa o olhar e caminha em direção a porta

- Vamos, eu quero estar lá quando os médicos deixarem está sala de cirurgias

- Senhora eu não sei se...

- Se eu estou preparada para o que eles irão dizer ? - Luna o interrompe - Said eu sobrevivi a perda de todas as  pessoas que amava de uma única vez, eu suportaria perder mais uma - ela caminha para fora e é seguida por Said

A cada passo Luna sentia a sensação de morte e despedidas mais perto é como se quanto mais ela se aproximasse de Gregório ele se afastasse mais da vida dela.

Ela parou por alguns segundos

- Senhora está tudo bem ? - Said a segurou o braço com delicadeza

- Luna derramou algumas lágrimas e continuo sua caminhada

Em seu interior tinha convicta certeza de que Gregorio os deixaria, mas orou silenciosamente para que isto não acontecesse.

-

Verônica estava sentada em uma poltrona na sala de espera, Luna se sentou ao lado dela e Said permaneceu de pé  sem conseguir disfarçar o nervosismo

O cirurgião responsável apareceu, sua expressão facial não revelava nada bom ou ruim.

- Então? - Verônica se levantou - Como está o meu filho ? - ela estava tensa as pernas tremiam e as mão suavam

- O paciente sofreu uma grave hemorragia, além de ter o pulmão atingido o que ocasionou uma contusão pulmonar e como consequência  o comprometimento respiratório.  Esta contusão gerou o acúmulo de líquido na cavidade pleural e obstrução da via aérea.

Luna não se sentia pronta para aquela conversa, seus pés não sentiam o chão sob eles, ela apertou uma mão na outra e fechou os olhos

- Dr. Como ele está ? - Verônica parecia ainda mais apreensiva 

- O quadro é considerado grave, mas podemos dizer que a cirugia foi bem sucedida, o paciente se encontra sedado, vamos acompanhar como ele irá reagir

- Ele corre algum risco ? - Luna finalmente consegue se levantar e dizer algo

O médico a observa tão bela, tão jovem e gestante

- É a esposa ?

- Sim sou - ela conserta uma mecha de cabelo que havia se soltado

- Sim, ele corre riscos, eu e minha equipe  médica fizemos tudo que estava a nosso alcance, mas tem algo que apenas a mãe e esposa podem fazer agora. - ele mantém voz e olhar serenos

- O que ? - Verônica se aproxima dele - O que nós devemos fazer ?

- Orar, nenhuma igreja jamais ouviu orações tão sinceras quanto as paredes deste hospital. E ninguém ora tão fervorosamente quanto uma mãe e uma esposa desesperadas.

Luna sentiu no timbre da voz, que ele estava abalado, não demostrou mas estava.

- Eu posso entrar para vê-lo ? - ela disse com os olhos esperançosos

- No momento ele está sedado, mas permitirei que o vejam por alguns minutos, peço que entrem de forma individual e que cada visita não demore mais que três minutos - ele se despede e da alguns passos, olha para trás e diz -  Vou pedir uma enfermeira para acompanhá-las até a UTI, no mais espero que fique tudo bem

Verônica o acompanha com o olhar até que desapareça de sua visão, ela parecia aérea e pouco motivada a acreditar em qualquer coisa naquele momento

- boa noite, são a família do senhor Gregório Berdinazzi ? - uma jovem enfermeira pergunta segurando uma bandeja de medicamentos

- Sim, somos a família - Said responde de imediato

- Eu irei os acompanhar até a unidade onde está o paciente, peço que  me siga um familiar de cada vez e também  peço a gentileza de  que sejam breves, foi uma cirurgia longa e exige descanso. - ela caminha devagar pelo corredor

- Verônica eu posso ser a primeira ? - Luna a lança um olhar de desespero

- Claro, eu a aguardo aqui.

Gregório estava deitado, ligado a vários aparelhos, Luna o observa ferido e inconsciente

A cena vem em sua mente, ela seria atingida pela bala lançada por Antenor, mas ele usou seu corpo como escudo para a proteger. Se por ela ou pelo filho ela não sabia, mas algo em seu interior festejava saber que ao seu lado existia um homem tão honrado que morreria pelos seus

Ela segurou a mão fria e imóvel e fez um pequeno carinho

- Oi querido, como você se sente ? - ela se abaixou para beijar a testa ralada pela queda abrupta - bom, sei que não pode me responder, mas espero que sinta a minha presença aqui e esteja confortável com ela. Eu iria dizer que queria se sentisse  seguro como eu me sintia tendo você por perto, mas isto é impossível, ninguém consegue transmitir a segurança que você exala. Espero que esteja ouvindo o que vou dizer agora, não sei se teria coragem de dizer isto a você consciente.

Luna se abaixa e sussurra ao ouvido dele

- Eu te amo, amo tanto que está sendo difícil respirar tranquilamente dentro desta sala, te ver assim debilitado me faz faltar o ar. - ela o beija o rosto - Eu me arrependo amargamente de ter fugido de você, eu queria voltar no tempo e ter passado cada segundo dos meus dias ao teu lado, nos teus braços sentindo o teu cheiro. Eu quero que você acorde, que siga sendo um homem forte, sei que quando carregar  o teu filho nos braços, ele vai se sentir tão protegido quanto a mãe dele se sente quando você está perto.

- Senhora tem mais um minuto - a enfermeira diz em voz baixa

- É um menino, o teu herdeiro, seu primogênito sua herança do senhor - Luna  sentiu o filho inquieto e fechou os olhos - Ele está me chutando acho que percebeu que está perto do pai  - Ela leve a mão de Gregório a barriga -  Por favor não me deixe Gregório, fique aqui comigo e com seu filho.

Luna toca os lábios nos dele e a enfermeira a chama para deixar a sala.
Ela limpa suas lágrimas e caminha para fora

Verônica foi a próxima visita, enquanto a sogra se mantinha ao lado de Gregório, Luna decidiu ir até a capela

-  Deus onde o senhor está ? Porque me castiga tanto ? Não há mais o que ser feito além de confiar em ti, então me mostre que devo confiar - Ela se ajoelha e faz a oração mais sincera e dolorosa que já fez na vida - aqui em meu ventre está o meu filho, não permita que ela cresça sem a presença e o amor de seu pai. O senhor já me tirou tudo, não tire do meu filho também - ela abaixou a cabeça - Se queres castigar a minha teimosia use a mim, não a ele.

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