Sensations (HIATUS)

Uma chuva de sentimentos

A chuva escorria por toda estrutura física do azulado, seu corpo ainda jazia tenso, seu punho estava dolorido pelo golpe mal dado no queixo do Metkayina caído, seus olhos se encontravam nublados pela raiva, ainda tinha a imagem nítida em sua mente; a aproximação perigosa, as mãos dele na face de Aonung, seu corpo tenso mal se movia, era como uma estátua, quando viu o selar de lábios, por mais que a escuridão dificultasse sua visão, nos breves tempos em que os raios iluminavam o local conseguiu se fixar na expressão contorcida do menor, as lágrimas grossas escorrendo pelas bochechas esverdeadas; não soube como seu corpo se moveu tão rápido, quando tomou consciência já estava com seu punho erguido e tudo foi feito em fração de segundos.

"N-Neteyam?" Aonung o chamou receoso, sua voz estava fraca e rouca, ofegava pelos acontecimentos recentes, não queria pensar em nada, era tudo muito confuso, estava com medo, abraçou o próprio corpo e apertou os olhos contendo suas lágrimas.

O chamado quase não fez efeito no Omatikaya tudo era como um grande zumbido. Caminhou lentamente até Ateyo com uma expressão dura cobrindo seu rosto. O Metkayina estremeceu e em um ato de medo se arrastou para trás afim de ficar o mais longe possível daquele ser de olhos cor de âmbar. Neteyam não tinha pressa, toda vez que aquela cena vinha em sua mente parecia que tudo ao seu redor era um grande buraco negro que sugava sua sanidade, não deixou o garoto se levantar, se agachou para ficarem cara a cara.

Ateyo riu de nervoso, mais uma vez sentindo o gosto de sangue com a ponta de sua língua, assim que fez menção de se levantar, sentiu sua fila ser agarrada com violência, seu corpo se arrepiou, sua respiração descompassou, era evidente como estava aterrorizado. O azulado não piscou nenhuma vez. 

O grande Metkayina sentiu um puxão forte e seu rosto foi de encontro com o joelho musculoso do seu agressor, a dor de cabeça foi dilacerante. Neteyam não parou, se levantou ainda com a trança do jovem em suas mãos, os levantou, tendo o outro um pouco encurvado pela diferença de tamanho entre ambos, sua mão livre se fechou deixando o punho rígido que foi rapidamente em direção ao rosto do outro novamente; uma, duas, três, depois da quarta se perdeu nas contas, a chuva forte abafava os gritos entrecortados de Ateyo. 

O aperto em sua fila não o deixava reagir, estava preso pelas mãos daquele demônio azul.

"NETEYAM!" Dessa vez a voz do herdeiro saiu um pouco mais desesperada. Aonung estava em prantos, tinha suas mãos em sua cabeça como se aquilo fosse parar os barulhos horrendos. Estava perto demais e conseguia ouvir tudo. "Por favor..." Soltou em um fio de voz.

As orelhas de Neteyam se viraram para o chamado, finalmente saindo de seu transe, não sabia que tinha prendido a respiração por tanto tempo, a soltou com certa força e tudo pareceu clarear agora, soltou a trança do garoto desacordado e o deixou cair, se virou para o herdeiro e a visão que teve quase o quebrou por inteiro, ele estava de joelhos com a face preenchida de grossas lágrimas, seus olhos vermelhos pelo choro forte, sentiu um aperto em seu âmago, apenas queria envolve-lo em seus braços e tirar aquela expressão de seu lindo rosto. Correu até ele e o abraçou forte, achou que seria rejeitado, mas seu coração se acalmou quando Aonung o abraçou de volta, suas mãos grandes o agarraram fortemente como se precisasse daquilo para viver.

"Me desculpe Nung... Eu deveria ter chegado antes." Sussurrou seu doce apelido afim de acalma-lo.

"Me tire daqui..." Sussurrou de volta.

Se levantaram juntos, Neteyam segurava a mão dele carinhosamente. Caminharam lentamente para dentro da floresta, não queriam voltar para suas casas. Acharam uma raiz grande o suficiente para fazer de abrigo da chuva e ali ficaram. Se sentaram lado a lado, mas sem se tocarem de fato, tendo a chuva como companheira para não deixarem o silêncio ser ensurdecedor.