Capítulo 4 - Belle

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Eu estava preenchendo aos poucos o buraco que havia em meu peito com esperança. Eu não me deixaria pensar nos últimos meses, pelo menos não agora. Eu preciso reconstruir minha vida, preciso seguir meu próprio curso e ser mais forte e capaz. Eu sei que sou capaz, eu cheguei até aqui, não? Eu me pergunto pra onde foi o orgulho da mulher que trabalhava para sustentar a si e ao seu pai. Como pude ser tão tola?

Começo a andar pela cidade que ainda estava dormindo. Não era uma cidade grande, não haviam edifícios ou uma rua movimentada a noite. Faltavam algumas horas para amanhecer, eu perambulei pelas ruas em busca de uma loja de conveniência, mas não tive sorte, haviam apenas casas muito espaçadas umas das outras. Eu estava cansada, e a dor ainda me assombrava, essa era a dor de um laço partido? Me pergunto se um dia irei superar essa dor. 

A chuva começou a cair, não podia ser em um momento pior. Eu precisava encontrar um lugar para passar a noite, ou eu certamente adoeceria, e não posso me dar esse luxo. Olhei em volta mas tudo o que pude ver eram casas e mais casas ao longe, não havia um lugar para ficar. Continuei andando pela rua sob a chuva, até que me vi sem esperanças de encontrar um lugar e me abriguei em uma marquise de uma casa distante que parecia estar vazia há algum tempo, eu esperava estar certa sobre esse palpite.

Uma fraca luz me despertou, eu não percebi que havia dormido ontem a noite. Abri os olhos devagar, ainda não querendo voltar a realidade. Me virei na cama apertando mais o cobertor, ele tinha cheiro de lavanda, esse cheiro me lembrava meu pai, respirei fundo guardando-o na memória.

Minha nostalgia foi interrompida quando me dei conta de que não deveria estar em uma cama, não deveria ter um cobertor sobre meu corpo, e sim uma marquise acima de mim. Levantei em um pulo olhando em volta. Onde eu estava? Fui até a janela em um dos cantos do quarto para me localizar, mas ela dava para uma floresta. Tentei abrir a janela e me surpreendi por ela não estar trancada. Quem quer que fosse, ou era muito ingênuo ou não tinha intenções de me manter presa ali.

Ouvi um barulho de porta atrás de mim, automaticamente peguei a cadeira que estava ao meu lado e a ergui firme em minhas mãos, pronta para atacar o que quer que passasse por aquela porta. Vi uma panela com uma toalha branca pendurada em sua borda, e uma mão marcada pela idade entrar primeiro, logo após uma senhora com um sorriso sutil no rosto passou, fechou a porta e se virou pra mim. 

- Ah! Vejo que você acordou minha querida. - A senhora disse, sem demonstrar qualquer reação de surpresa ao me ver apontando uma cadeira para ela.

- Está tudo bem criança, sente-se para que eu possa ver sua febre, sim?

Abaixei a cadeira e a pus no lugar, mas permaneci imóvel em frente a janela.

- Onde estou? - Perguntei com a voz engasgada. 

- Não esperava que perdesse a memória querida. Você adormeceu em frente a minha casa ontem a noite. Não havia mais ninguém com você então não sei o que te trouxe aqui. 

Então estou dentro daquela casa, eu poderia jurar que ela estava vazia.

- Desculpe por isso senhora, eu pensei que a casa estivesse vazia, estava chovendo a noite e eu não tinha mais para onde ir. - Disse ficando ruborizada pelo meu palpite falho e por ser uma sem teto mais uma vez.

- Não se preocupe criança, você não precisa se envergonhar ou se desculpar. A casa estava realmente vazia, eu estava em uma viagem e retornei esta manhã, foi quando a encontrei na porta. - Ela disse tentando me acalmar. - Você estava com febre e com frio, então a trouxe para dentro para que pudesse tratar isso. 

Eu não conseguia imaginar essa senhora me carregando para dentro e me pondo na cama. Mas seja lá como ela fez isso, eu deveria agradecer. Eu ainda estaria lá fora no frio se ela não tivesse aparecido.

Sequestrada Por Um Alfa (Livro 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora