Capítulo 4

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Pega desprevenida em plena segunda de manhã

Júlia Araújo

Acho que poderia esperar tudo de Namjoon, menos isso. Voltar sem nenhum aviso prévio. Não tinha nem seis meses que o vi bem à vontade na Suíça. Alguma coisa estava errada. Ele não faz as coisas sem pensar, exceto pelo nosso primeiro beijo, no resto do tempo sou eu quem age impulsivamente.

- Quer ajuda senhorita? -a voz de Se-won, nosso estagiário quebra meu raciocínio.

- Com o quê?

- Vai acabar se queimando desse jeito. -ele se apressa em agarrar a jarra de café da minha mão e só então percebo que estava errando a boca da caneca e derramei quase tudo, desperdiçando a jarra recém feita.

- Que ódio! -dou um tapa na bancada.- Não acredito que depois de tanto tempo ainda faço esse tipo de idiotice.

- Relaxa, eu limpo para você. -é simpático e solícito, sempre foi, não é à toa que conquistou todos por aqui em poucos meses.- O filho do chefe é um pouco intimidador não é mesmo? -Solto um riso nasalado, coitado não conhece Namjoon, a pessoa mais calma e fofa desse escritório. Essa foi uma das coisas que me fez me encantar por ele.

Lembro que logo que começamos a nos envolver, os olhares para cima de mim mudaram da água pro vinho. Primeiro gostavam de mim e me tratavam normalmente. Depois era como se fosse uma aproveitadora qualquer, quando na verdade eu só tinha me apaixonado. E quando Namjoon foi embora, foi o pior de tudo. Estavam começando a aceitar nós dois juntos, afinal iriamos completar três anos juntos, mas ele saiu do país e eu fiquei. Os olhares de pena e julgamento por ter priorizado algo que não fosse o meu relacionamento, me doeram mais que os outros.

Ver o olhar inocente de Se-won em mim agora, me faz querer preservar ao máximo. Não tem mais ninguém além de Seokjin e o Sr. Kim que saibam de nós. Desde o dia que Sr. Kim decidiu diminuir a sua carga horária, já louco para se aposentar e deixar tudo nas mãos dos filhos, muitos funcionários se demitiram e outros foram demitidos. Confesso que agora com a equipe pequena, prefiro assim, menos fofoca.

- Namjoon não é intimidador, pode ser muitas coisas, menos isso. -e como um vício que não consigo largar, estou mais uma vez, defendendo ele.

- Tem certeza que estamos falando da mesma pessoa? Porque a voz grossa daquele homem me fez tremer inteiro. -rimos juntos enquanto ele arruma a besteira que fiz.- Às vezes esqueço o quão bom é conversar com a senhorita.

- Deixa de ser puxa saco! Nem trocamos mais de vinte palavras!

- Mas mesmo assim é um recorde desde o... -a tosse seca e forçada de Namjoon o interrompe. Posso ver a curiosidade no que Se-won iria falar e uma pitada de ciúmes em seu olhar.- O senhor também quer café? Posso preparar, melhor assim para não termos mais acidentes. -Se-won me dá uma cotovelada de leve me fazendo rir enquanto tento enfiar minha cara na caneca.

- Não bebo café. -é ríspido, me pergunto se ainda pensa no que houve entre nós no dia do casamento e no que descobriu.

- Ele só bebe café gelado, com mais leite que café. Use o leite que costumo deixar na geladeira para o Sr. Kim. Eles são bem parecidos. -sussuro para Se-won aproveitando que Namjoon está longe e não irá ouvir.

Como Se-won mesmo disse as vezes ele esquece que sou legal, afinal passo a maior parte do tempo trancada na minha sala. Sendo salva pelas vezes que ele vai até lá conferir se estou viva e me leva um café, normalmente faz isso a mando de Seokjin. Mesmo sendo instruído a fazer essas coisas, percebo que gosta de cuidar das pessoas. Sendo assim, é bem capaz de se desdobrar em mil para poder agradar e virar amigo de Namjoon. Não custa nada ajudar um pouco.

Nosso segredo sujoOnde histórias criam vida. Descubra agora