Capítulo 21

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Xeque-mate

Júlia Araújo

- Mas que merda! -reclamo recusando a quinta ligação de Seokjin.

Talvez eu sorrateiramente, depois de ler algumas das mensagens afrontosas de Matthew, tenha roubado o celular do meu namorado. Implorado que Seokjin fizesse um backup da conversa dos dois e pedido que ele mantivesse o irmão ocupado enquanto fazia a merda do século. Do tipo que Namjoon nunca concordaria se por acaso soubesse.

Respiro fundo e encaro o enorme prédio branco em minha frente, com vidros tão brilhantes que seriam capazes de cegar alguém. Um dos mais caros de Seoul, as pessoas que entram e saem daqui exalam dinheiro. Entro, me identifico na recepção e espero que o elevador demore todo tempo do mundo para chegar no décimo quarto. O que infelizmente não acontece.

Desço no andar com três clínicas médicas renomadas e vou em direção a que conheço bem. O consultório de Matthew. Sei que hoje não é um dia cheio para ele, julgando pelo estado que ficou seu rosto e a sua vaidade, me surpreende que esteja atendendo. Quase não acreditei quando a sua secretária confirmou. Estou prestes a bater quando ele abre a porta para mim com um sorriso no rosto. Provavelmente a recepção o avisou e deve ter me visto através da porta de vidro.

- Ao que devo a honra, querida? -me comprimenta com um abraço enquanto dou o meu maior sorriso, falso.

- Precisamos conversar sobre o que aconteceu. -digo com tapinhas em seu peito para que se afaste e fugindo de receber um beijo seu.

Passo pela sala de espera em silêncio e posso ouvi-lo comunicar algo à secretária. dentro da sua sala, me sento em sua cadeira, fazendo o mesmo que fez com Namjoon. Jogo minha bolsa sobre sua mesa de vidro e espero, de pernas cruzadas, que entre na sala.

Não sei o que se passa naquela cabeça louca, mas posso ver um certo fogo ao me ver em sua cadeira. Lentamente ele fecha a porta, tentando controlar a sua respiração. Passa os olhos em mim de cima a baixo, houve um tempo que isso me deixava excitada, por estar sendo desejada. Agora não mais. Fico em silêncio esperando que diga algo, mas tudo que faz é encostar na porta e cruzar os braços.

- Vou te dar a chance de me contar o seu lado da história e mudar o rumo da nossa conversa. -me manifesto balançando o pé.- Você tem dois minutos.

Se tem uma coisa que Matthew não gosta é de receber ordens, por isso hoje vou dar a eles todas as ordens necessárias. Para que entenda de uma vez por todas que não o quero mais em minha vida.

- Meu amor, não vale a pena falar sobre passado. -suspira se mantendo resistente.- Eu sou um novo homem, é isso que importa.

- Então me diga exatamente o que disse para Namjoon ontem. -exijo batendo com os dedos em sua mesa e o deixando inquieto.

- Se ele não te disse as palhaçadas que me falou não vejo porque eu dizer. -se remexe colocando a mão nos bolsos.- Meu amor. -da a volta na mesa.- Esse tempo longe de você, me fez perceber que gosto de você mais do que poderia imaginar. -muda de assunto debruçando seu corpo sobre o meu e ficando apoiado nos braços da cadeira.

- É mesmo? -debocho.- Foi rejeitado e descobriu milagrosamente que me ama? -arqueio as sobrancelhas.

- Na verdade... Acho que foi quando começou a me evitar depois do casamento, eu só não quis admitir para mim mesmo. -Sorri e eu me pergunto se é sincero.

- Aí você tomou o chá da coragem e resolveu além de admitir, lutar por mim? -monto minhas suposições irônica e brincando com a sua gravata pendurada.

- Está tão engraçadinha hoje. -posso sentir amargura em seu comentário.

Dou um sorriso forçado deixando que ele me analise bem. O silêncio toma conta do lugar. Nunca tinha reparado no quanto essa sala branca e fria se parecia com ele. Como um lobo solitário. Ela não é muito grande, tem o espaço necessário para um dentista trabalhar. O que era irônico, Matthew fazia questão de esbanjar seu dinheiro para quase tudo, menos para isso. Lembro vagamente de ter dito uma vez que o seu consultório só precisava de forma clara e objetiva mostrar que ele é um bom profissional. O que fazia sentido, quando mesmo sem ter um espaço enorme, tinha os melhores equipamentos de trabalho e era elegante.

Nosso segredo sujoOnde histórias criam vida. Descubra agora