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Antonio Figueiredo Jr.

- Antonio, você deveria vir! Sabe que papai sente sua falta. – ouvi a voz de Carol tentando me repreender do outro lado da linha.

- Eu não posso ir, tem ideia de como sou ocupado?

- Você sabe o estado dele, além de que já tem meses que não vem nos visitar.

- Carol, por favor. Não é fácil para mim, e você sabe.

- Você precisa aprender a lidar com isso Antonio, nos aprendemos e você pode aprender também.

- Eu não posso!

- Você pode, cala a boca. E venha esse final de semana, nós vamos fazer a festa de aniversário dele, e tenho certeza que ele gostaria de ter você aqui.

Respirei fundo tentando me acalmar. Já fazia meses que não os via, não que eu não sentisse vontade de estar com minha família. Mas era um tanto complicado ficar com eles, e, além disso, tinha muitos compromissos para cuidar, o que era uma boa tática de fugir desses encontros. Mas pelo visto, dessa vez eu não escaparia, Carol estava decidida a me fazer ir.

- Eu vou pensar ok? Quem sabe final de semana eu apareço ai. – falei me rendendo a sua insistência.

- Pense com carinho, ou não. Mas venha. Farei seu bolo favorito.

Sorri ao lembrar o quanto Carol e eu éramos unidos, apesar de mais nova, minha irmã sabia muito bem da vida. Sempre foi uma garota madura, e centrada.

- Vai mesmo fazer? – perguntei sorrindo.

- Sim, estou com saudades de você, Antonio. – seu tom de voz foi melancólico, me provocando um aperto no peito, em saudade de estar junto dela.

- Eu também estou com saudade, pequena. – ouvi a respiração dela do outro lado da linha, compassada e calma – Eu preciso desligar está bem? Pode me ligar quando quiser.

- Tudo certo, vou esperar você aqui esse final de semana.

- Tenha uma boa noite, Carol.
- Boa noite, Juninho – sorri ao lembrar a forma como ela costumava me chamar.

Desliguei a ligação, deixando o aparelho de lado.

Ligações ou encontros com minha família sempre me deixavam meio melancólico. O que eu odiava, era complicado se sentir tão frágil, não era de minha natureza, não mais. Fechei os olhos me encostando no estofado de minha cadeira, tentando fazer os músculos de meu corpo relaxar, o que não aconteceu.

A essa hora eu já estava sozinho no prédio, apenas os ruídos dos carros e do movimentado trânsito em Las Vegas preenchiam minha sala aquele instante.

Levantei-me, me servindo de um copo de uísque, meu companheiro de todos os dias, caminhando para a enorme vidraçaria no qual eu poderia ter uma linda visão da cidade completamente iluminada àquela noite.

Em certos momentos eu poderia me sentir sozinho, e achar ruim. Mas em outros a solidão se preenchia com a calmaria que me fazia tão bem, era no mínimo reconfortante se sentir fora do mundo onde se tem tantos problemas e deveres. Às vezes eu apenas precisava esquecer de quem eu era, ou de quem seria.

"Oh céus Antonio, você está sozinho demais" – pensei tomando um gole de meu uísque.

Olhei para o relógio, vendo que já estava mais do que na hora de sair, e me perder por alguns instantes no corpo da mulher que eu mais desejava.

Em menos de meia hora eu já estava estacionando meu carro na garagem da Imperium. Ajeitando alguns fios do meu cabelo, vesti meu sobretudo, e segui rumo ao prédio.

The Night Dancer - DocshoeOnde histórias criam vida. Descubra agora