Sentado na cama, vestindo apenas uma cueca boxer preta, Nico dedilhava o violão perdido em pensamentos e sentimentos que insistiam em o acompanhar. O sol da manhã em Belo Horizonte entrava pela janela do quarto, sinalizando que o dia estava começando para muitos, enquanto para ele a noite estava terminando. Viu Vitória, que conheceu na festa após o show, sair do banheiro já vestida e prendendo o cabelo em um rabo de cavalo. Ela o olhou e se aproximou sentando na beira da cama ao seu lado.
— Sabe que ainda posso ficar mais tempo — disse, ajeitando o cabelo de Nico com os dedos. — Não tenho pressa e nenhum compromisso.
— Não, preciso ficar sozinho agora.
— Tem certeza? Nos divertimos tanto, poderíamos continuar...
— Eu realmente preciso ficar sozinho — disse, interrompendo-a.
Ela concordou percebendo que não o convenceria e anotou seu telefone em um pedaço de papel. Em seguida, tentou dar um beijo em Nico, mas ele disfarçadamente desviou o rosto. Vitória ficou sem entender e se sentiu rejeitada, ele já não era mais o mesmo do início da noite. Antes estava empolgado, com algumas doses de vodca fazendo efeito, e a levou para o quarto do hotel com abraços calorosos e beijos urgentes.
— Desculpe — disse ele, olhando-a.
— Poderia ser menos babaca, sabe disso, não sabe?
Ele ficou em silêncio vendo-a pegar a bolsa e sair do quarto sem olhar para trás, batendo a porta com força. Babaca, não conseguia discordar. Nico sabia que tinha sido um babaca com Vitória e que só ficou com ela porque lembrava Ari fisicamente. Agora, culpava a vodca pela ilusão e pela decepção. Toda vez se arrependia na manhã seguinte, depois da bebida fazer estrago em seu corpo e colocar seus pés no chão de novo. Levantou e colocou o violão em cima de uma poltrona antes de fechar as cortinas e deixar o quarto escuro.
O sol já o incomodava quando deitou novamente e enviou uma mensagem para William não acordá-lo antes das duas da tarde. Estava mais que exausto, estava esgotado e não conseguia parar de pensar em Ari. Era sempre assim, achava que já teria se acostumado depois anos, mas seu coração ardia lembrando dela durante e após os shows. Por mais que tentasse deixar o passado para trás, ele vinha e puxava seu pé até ter atenção.
— Merda... — murmurou, fechando os olhos. — Que maldição você jogou em mim, Ari?
Tentando desacelerar a mente e dormir, o vento soprou mexendo a cortina e ele sentiu o aroma de verbena que Ari costumava usar no cabelo. Achou que estava enlouquecendo e sorriu, porque, se estava mesmo, pelo menos se sentiu feliz por um instante. Porém, o aroma o levou para lembranças daqueles dias em Curitiba.
— Nico, levanta! — disse Ari, tirando o travesseiro de cima da cabeça dele. — Vamos nos atrasar assim.
— Só mais cinco minutinhos — resmungou, segurando o travesseiro. — Você ainda nem secou o cabelo.
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Escute Antes de Partir [Completa!]
Romans🏅 Finalista do Prêmio Watts 2023, let's rock! 🏅 Nico tem talento para a música e para tomar decisões ruins. A pior de todas foi terminar com Ari em Curitiba antes de ir para São Paulo com a sua banda de indie rock. Tentou reverter a situação, mas...