AURORA - Twilight ✔️

Extra 2

A dor no peito dele era excruciante.

Parecia que alguém enfiara a mão dentro de si e lhe arrancara o coração, rasgando pele, despedaçando osso, tirando-lhe o fôlego. Fora gradual, a dor espalhando-se pelo seu corpo à medida que ela se afastara. Agora, o lobo transformara-se em humano e caíra de joelhos na neve, a mão pressionando o peito cuja ferida invisível aos olhos doía como nunca nada doera.

- Anda, Jake. - disse Bella, envolvendo-lhe o torso - Temos de ir, não vão eles mudar de ideias.

Jacob não conseguia pensar. A sua mente estava ocupada com as imagens dos instantes anteriores, repetidas num looping infinito. Não era a sua dor que o preocupava. Não era o seu desamparo ou a sua perda.

A única coisa que o preocupava... era Tessa.

Sempre pensara que ela era a mulher mais forte que conhecera. A mais corajosa.

Enquanto ela caminhava ao encontro de Aro Volturi, tivera absoluta certeza disso. Quando a vira erguer o queixo ao ter o braço dele sobre os seus ombros, soubera que esperaria por ela a eternidade se tivesse de ser.

No entanto, via a dor nos seus olhos. O sofrimento à medida que deixava a família para trás. As lágrimas silenciosas que lhe escorriam pela cara ao ouvir Renesmee chamar por ela, debatendo-se com os braços de Edward para alcançar a tia.

As íris douradas de Theresa Cullen pousaram nele antes de desaparecer no horizonte e a dor espalhar-se pelo seu peito.

- Tio Jake.

A voz de Renesmee fê-lo soltar um suspiro estrangulado, encarando a criança ao seu lado sem realmente a ver. A pequena Cullen chorava copiosamente sem fazer um único ruído, num gesto de maturidade que não encaixava na idade que tinha. Jacob engoliu em seco. Alguém colocara um casaco sobre o seu corpo nu pela transformação e fez menção de se cobrir melhor antes da criança o abraçar, afundando o rosto na curvatura do seu ombro.

- Ela vai voltar, não vai? - perguntou a menina, num tom triste.

Jacob Black assentiu, fechando os olhos.

Ele precisava que ela voltasse.

**

         Por dias, Jacob não fora capaz de pronunciar uma palavra.

         Dormia na cama de Tessa, acordando aos gritos com pesadelos e a virar-se à sua procura, esmurrando a almofada ao aperceber-se que ela não estava ao seu lado. Não comia. Não dormia. Afundava a perda no álcool, enchendo a casa de Tessa de garrafas vazias. Se ela o visse, ficaria destrocada, dizia Leah numa tentativa de trazê-lo à realidade.

         Ela não o iria ver nos próximos dez anos... se voltasse ao fim desse tempo. De que adiantava ele preocupar-se?

          Família e amigos visitavam-no. A única pessoa para quem se esforçava em tentar agir da melhor forma era com Renesmee, cujo rosto abatido o deixava destroçado.

          Quando Alice o visitava, era uma tortura. Ficava imediatamente com esperanças de que ela lhe dissesse alguma coisa sobre Tessa, sobre o seu estado, o seu regresso... qualquer coisa. Alice nunca via nada, embora tentasse todos os dias.

            Eram tempos sombrios para todos.

            Dias viraram semanas, que viraram meses, que facilmente se tornou um ano.

             Então, Jacob Black recebeu uma visita inesperada.

              Estava de ressaca, como sempre. Dormia de boca aberta no sofá, a garrafa de whiskey vazia ainda na mão, sem camisa. Era um sono agitado, mesmo com o sangue entupido de álcool.

            Quando uma mão fria o esbofeteou, Jacob ergueu-se sobressaltado, arreganhando os dentes num gesto defensivo.

- Olá. - saudou Jane, numa voz fria - És o Jacob Black, certo?

- Jane Volturi. - cuspiu Jacob, fazendo menção de ataca-la - Onde é que ela está?! - berrou, cambaleando tropegamente - Vieste dizer-me que está morta?!

- O que? Não, que disparate. - retorquiu Jane, empurrando-o bruscamente contra o sofá - Pela conversa dela, estava à espera de mais.

          O corpo de Jacob retraiu-se, subitamente atento.

- Como é que ela está? - perguntou, num sussurro.

        Jane endireitou os ombros, ajeitando a postura e erguendo o queixo.

- Viva. É forte e pediu-me que te trouxesse uma mensagem. Não terei muitas possibilidades como esta, cachorro. Aro está atento a cada um dos meus movimentos e matar-me-á se souber que estou aqui.

- Então porque estás aqui?

          A vampira não respondeu. Ao invés, estendeu-lhe um pequeno envelope, cuja caligrafia familiar fez o coração de Jacob falhar uma batida.

            "Querido Jacob,

              Lembra-te de quem és e de tudo o que conquistaste. Quando regressar, iremos para o mar novamente. Comeremos doces e ler-te-ei todos os livros que desejares.

             O que é que há, pois, num nome? Aquilo a que chamamos rosa, mesmo com outro nome, cheiraria igualmente bem.

               Regressarei. Prometo.

               Com amor,

                                                                    A tua Tess"

- Romeu e Julieta. - Jacob esboçou um pequeno sorriso, os olhos brilhantes de lágrimas.

            Escondeu o rosto nas mãos, assoberbado. O seu coração palpitava, ainda dorido, a ferida nunca cicatrizando.

- Ouve. - Jane Volturi remexeu-se, num gesto rápido e quase humano - Ela está a sofrer mas é forte. Ela precisa que sejas forte por ela, está bem?

          Jacob engoliu em seco. Acariciou o papel na sua mão com nostalgia, pensando no rosto delicado de Tessa, no seu olhar determinado, nos caracóis cor de bronze do seu cabelo. De olhos fechados, assentiu, ganhando força nas palavras da sua melhor amiga, da sua companheira, da vampira que virara o seu mundo de cabeça para baixo.

          Com um sorriso frio no rosto, Jane Volturi desapareceu, esperando que o lobisomem fosse capaz de ser forte por Theresa Cullen.

           No interior da casa da vampira britânica, Jacob Black começou a apanhar as garrafas.