Epílogo

948 50 5
                                    

              As ondas tocavam gentilmente nos seus pés descalços, saudando-a. O odor a maresia preenchia-lhe os sentidos, envolvendo-a num abraço de conforto. Sobre a sua cabeça, as gaivotas sobrevoavam os céus, numa liberdade que tanto invejara.

           Despiu lentamente o manto negro que a cobria, deixando-o cair pesadamente na areia molhada. Soltou os cabelos firmemente presos num coque delicado, deixando os caracóis caírem pelas suas costas, selvagens. Deu um passo em frente, sentindo a água entranhar-se no tecido do vestido branco que usava. Outro passo.

           Cerrou os punhos, metade do corpo dentro de água, metade fora. Fechou os olhos e abriu a boca, soltando mim grito gutural. Esmurrou a superfície cristalina, trazendo uma pequena tempestade ao mar calmo daquela madrugada. Sentiu os joelhos cederem, embatendo bruscamente no fundo, a água gelada sem provocar qualquer choque na sua pele de marfim.

             Gritou e gritou e gritou, desejando sentir a garganta arranhar do esforço, desejando sentir a respiração falhar-lhe com o esforço, desejando um fragmento da sua vida humana.

           As lágrimas escorriam pelo seu rosto abaixo, os soluços misturando-se em agonia com os seus gritos. A dor no seu peito era avassaladora e tentava expulsa-la, em vão.

               Desta vez, ninguém lhe tinha partido o coração... ela partira-o. Rasgara-o em pedaços. Pela sua família, era certo. Ainda assim, o preço fora muito alto.

             Dez anos depois, estava livre e na praia de La Push.

            Os gritos foram lentamente substituídos por soluços violentos. Ficou imóvel, apenas sentindo as lágrimas escorrerem, a água parada à sua volta, o céu da noite a começar a ter tons de laranja e rosa.

           Uma brisa fria envolveu-a.

           Ela sentiu-o antes de o ver.

            Reconheceria a sua presença em qualquer lado. O ritmo do seu coração. O calor do seu corpo. O seu odor.

           Braços envolveram-na por trás, abraçando-a fortemente, a respiração descompassada na sua nuca.

- Eu esperei por ti. - disse a voz ao seu ouvido, num murmúrio terno e rouco - Não esperarei mais.

             Girou-a gentilmente na sua direção, os olhos castanhos fitando-a com adoração e saudade. Jacob tinha olheiras no rosto, estava mais velho e parecia desgastado com o tempo, com a distância, com a dor... E ainda assim ele sorria, acariciando a sua bochecha com o polegar.

- Olá, Tess. - saudou, a voz num sussurro.

            O seu nome dos lábios dele trouxeram de rajadas todas as memórias que tinha dele. Soluçou, sentindo que tempo nenhum passara entre eles.

- Jake. - murmurou ela, enterrando o rosto na curvatura do seu pescoço - Senti tanto a tua falta.

- Vim aqui todos os dias. - ouviu-o dizer, sentindo o seu coração bater acelerado contra o seu peito - Era o único lugar onde te sentia. Quando fechava os olhos, quase podia escutar a tua risada. Eu...

A voz falhou-lhe, estrangulada pelo nó na sua garganta. Tessa fechou os olhos, inspirando profundamente, deixando-se envolver pelo odor dele, pelo calor do seu corpo, pela sensação familiar de ter os seus braços ao seu redor. Afastou-se dele apenas para ficar a observá-lo por entre a visão turva, as lágrimas escorrendo livremente pelas suas bochechas.

Jacob envelhecera. Quando o deixara, dez anos antes, era um jovem tempestuoso de mau feitio e gargalhada fácil apenas para ela. Agora, um homem encarava-a, os cabelos cortados rentes, os músculos dos braços mais trabalhados, a maturidade vincada nas suas íris escuras.

AURORA - Twilight ✔️Onde histórias criam vida. Descubra agora