05; Confissões e Despedidas

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LO#ERTOWN

Com a volta de Jeno ficando cada vez mais próxima no calendário, algumas coisas começaram a fazer barulho na cabeça de Jaemin.

Jeno estar de volta só significava que seu tempo estava acabando, e que em algumas semanas seria a sua vez de sumir por dois anos. Ir para um quartel não era lá a melhor das experiências, mas de fato, não era com isso que Jaemin se preocupava toda vez que deitava a cabeça no travesseiro. Suas preocupações tinham nome e sobrenome, e por vezes, elas apareciam em dobro em seus sonhos - e até em alguns pesadelos - para lembrá-lo incansavelmente de que ele era e continuaria sendo um covarde.

Limpando seu armário para sua iminente viagem, ele se deparou com algo que não deveria estar naquele apartamento, com algo que ele deveria ter jogado fora há anos. Jaemin era bom em descartar memórias que não foram digeridas tão bem quanto ele gostaria que fossem, como quando seus irmãos faziam questão de tirar qualquer atenção parental que um dia ele desejou ter, ou quando Renjun e Jeno escondiam um ou outro segredo de si, ou quando ele mesmo fazia alguma escolha que o fazia se arrepender amargamente todos os dias. Ele era bom em engolir o que, por vezes, machucava.

Por isso não compreendeu o que aquele maldito par de cachecóis feitos a mão por um infantil e tolo Jaemin fazia ali no seu armário.

Escondida atrás de suas malas, Nana suspeitava que sua mãe fora a responsável por colocá-la ali, a sacola que ele havia comprado no colegial continuava a mesma, um pouco mais empoeirada do que ele normalmente deixaria, mas quase sem nenhum amasso por fora. E mesmo que fosse atacar sua alergia, ele ousou enfiar a mão no pacote, tateando no fundo o que ele sabia ser um envelope, dois para ser sincero.

Pegando-os para, de uma vez, encarar a realidade e um de seus demônios, Nana sentiu um bolo se formar no topo de sua garganta. Passando os olhos pelas palavras cuidadosamente desenhadas no papel que uma vez foi perfumado, ele lembrou-se das horas que havia gasto para treinar sua caligrafia, só para poder escrever como via nas novelas de época que tanto gostava, se lembrava das folhas desperdiçadas e do tempo que havia investido para elaborar um texto que, como ele próprio pensava na época, não soasse como uma confissão juvenil boba.

Já haviam se passado sete anos desde que escrevera aquelas confissões para Jeno e Renjun. Sete anos desde que resolvera colocar seus sentimentos em uma gaveta muito bem escondida e esquecida de seu coração. Sete anos desde que havia decidido não perder a amizade que tinham por um ato egoísta seu.

- Tão inocente... - ainda que se sentisse engolido por um buraco de constrangimento e remorso, Jaemin sorria para as palavras na carta, que se repetiam na outra. Havia escrito o mesmo texto para ambas, sempre usando o plural para se referir a quem estava lendo e claro, mudando os nomes no início e no final. Foi difícil não se deixar levar pelo tornado de emoções que havia se formado ao encontrar aquele tesouro esquecido. E sem muita surpresa, Nana limpou os cantinhos dos olhos, fungando e engolindo o choro que teimava em escapar.

Havia guardado aquele segredo por tanto tempo... por que ele tinha que aparecer logo quando ele estava prestes a dar um tempo para seu coração descansar?

Odiava ter que lidar com as rachaduras de seu peito, odiava quando se permitia cair naqueles momentos de fraqueza, quando ficava vulnerável sem realmente querer estar exposto. Era ruim, machucava o que já estava machucado. O mais difícil era aceitar que aquela sensação de impotência só aparecia quando o assunto era Jeno e Renjun.

Eles eram os únicos que conseguiam dar estruturas ao seu coração e também eram os únicos que conseguiriam quebrá-lo por inteiro.

Com sua saída da cidade programada para menos de um mês, Jaemin, com aquelas malditas cartas em mãos, com aqueles malditos cachecóis empoeirados incomodando seu nariz, se deu conta de que havia um cronômetro ali. O tempo dele estava acabando.

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