Capítulo 37

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Thomas Lynch

O teste havia dado positivo.
Célia era mesmo a minha mãe.

Olho para a mulher sentada na minha frente, o vestido limpo e novo que eu havia lhe dado para se vestir, o cabelo limpo e preso em um coque mais elegante, a deixando mais viva e mais juvenil, sua pele bronzeada como a minha e seus olhos escuros me encarando em silêncio no quarto de hotel.

Estávamos nisso há horas, desde o momento que abrimos o teste e soubemos a resposta. Célia Lynch, mãe de Thomas. A mulher que me abandonou, a mulher que me fez me odiar por anos, a mulher que me causou uma profunda carência em meu peito por afeto, seja ele qual for.

Engulo o nó em minha garganta, olhando para a foto rasgada e suja em minha mão e encaro ela novamente, com meus olhos marejados e com meu coração doendo.

O momento da verdade havia chegado, essa era a minha chance de ter todas as minhas perguntas respondidas, mas agora, eu sentia medo. Medo de ser banhado pelo choque da realidade, a ansiedade estava me corroendo por dentro e a única coisa que eu queria fazer era me sentar e chorar, chorar muito, chorar como o pequeno Thomas criança fazia todas as noites na rua, em cima de um pedaço de papelão, com suas pernas encolhidas e tremendo por causa do frio, implorando por clemência e por ajuda quando quase foi morto por homens de rua quando quisera pegar deles um pedaço de pão.

Eu estava coberto de sangue, mal respirava e mal conseguia sentir meu coração batendo, ele estava fraco, tão fraco quanto a minha esperança em voltar para os braços dos meus pais. Mas ainda sim, enquanto apanhava, eu me perguntava se era pecado ser um bom menino, se era pecado e errado ainda amar a minha mãe mesmo depois dela me deixar sozinho e passando por tudo aquilo.

As mães não deveriam amar seus filhos?
Então por que a minha não me amava?

"Os bons meninos recebem coisas boas da vida." Aquilo era mesmo verdade? então por que eu havia suportado tanta coisa quando eu sempre fui bom?

— Por que? – pergunto para ela, molhando o pedaço de foto com minhas próprias lágrimas, somente agora, sentindo a dor do tamanho que ela era, como se eu estivesse anestesiado dias atrás.

— Thomas..

— Você vai me dizer por que me deixou? – olho para ela, com meu peito arfando e tentando enxergar por debaixo da névoa por conta das lágrimas — Eu era só uma criança... como você pôde?

— Eu sinto muito, Thomas.. – ela sussurra, abaixando a cabeça e apertando suas mãos.

— Guarde suas desculpas para depois, é melhor você começar falando, eu preciso de respostas, e você me deve ao menos isso, leve o tempo que precisar.

— Quando eu estava grávida de você, foi a primeira vez que seu pai havia me agredido – ela diz baixo, me fazendo travar e encará-la com meus batimentos cardíacos acelerados — Ele não fez isso de novo, não até você finalmente nascer.. ele mudou completamente depois que fiquei grávida de você, e eu juro que não queria, mas na época, acabei culpando você por estar passando por tudo aquilo com seu pai, e quando você finalmente teve idade para entender um pouco e ver quando ele me batia, ele parou, mas as traições começaram, e eu estava tão cansada dele... de todas as coisas que ele me tinha feito passar, e você, Thomas, apesar dos traços semelhantes à mim, você me lembra muito seu pai, eu não conseguia olhar em seus olhos, eu não podia... não quando me trazia tanta dor..

— Você me deixou..

— Assim que seu pai morreu em um acidente, ficando apenas você e eu, eu me afundei nas drogas e na bebida, frustrada e com raiva da vida que eu tinha para mim mesma... e então.. eu..

— Você me deixou – repito as palavras, tão amargas e vazias que saem da minha boca devagar, quase como um suspiro rouco.

— Eu te deixei na rua, eu abandonei você e fui embora.

— Eu sempre estive certo, você sempre me odiou, não foi? – ela me olha com seus olhos marejados e abaixa a cabeça, com vergonha — Há quanto tempo você me persegue?

— Há alguns anos... quando vi uma foto sua em uma revista em uma banca, e eu soube que você era meu filho, eu te procurei e fiquei olhando você de longe por um tempo.. você mudou, Thomas.

— É, e isso não foi graças à você – digo ríspido, enxugando as minhas lágrimas e me levantando.

— Eu sei.. eu não estou aqui para me justificar sobre tudo que eu causei em você, eu quero pedir perdão, como mãe, como uma mulher que já não tem mais nada na vida, eu quero pedir seu perdão, Thomas.

— Meu perdão? e quanto há tudo que você me fez?

— Thom.. eu sei..

— COMO EU FICO? E TODAS AS PESSOAS QUE ME MAGOARAM POR CAUSA DAS MINHAS ESPERANÇAS EM ENCONTRAR O AMOR QUE VOCÊ NÃO ME DEU?

— Me desculpe, Thom...

— Sei que é muito tarde para isso, mas eu quero pedir que me deixe por perto da sua vida, se for demais para você, eu posso entender e ir embora apenas com seu perdão.

— Eu.. eu não sei! – ela se levanta, passando as mãos pelo vestido impecável e caminha até mim, meu corpo inteiro congela quando ela segura minhas mãos na sua, o simples gesto me fazendo entrar em um leve pânico.

— Eu não sou a mulher mais correta que existe, meu pequeno Thom.. mas eu ainda quero ser sua mãe e fazer parte da sua vida! e eu conheço você, você sempre teve um coração tão bom.. não me tire isso, por favor, me perdoe, me deixe reparar meus erros com você e ficar perto, filho!

— Você quer ficar perto... de mim? – pergunto, com as últimas palavras quase sumindo da minha boca.

— Eu prometo nunca mais sair.

Encaro os olhos idênticos aos meus.
Esse seria o momento que eu esperei durante toda a minha vida? o momento em que minha mãe me amaria? ela vai cuidar de mim como todas as outras mães fazem?

— Eu estou confuso – digo baixo — Você pode estar mentindo e vai me machucar outra vez, todo mundo sempre me machuca e no final de tudo ninguém nunca fica! sempre sou eu, sozinho! e sozinho!

— Não! não, é claro que não, meu filho! eu quero ser sua mãe, eu quero... eu quero cuidar de você!

As lágrimas rolam em minhas bochechas enquanto eu choro, tentando acreditar em suas palavras.

— Não confio em você – sussurro fraco, sua mão toca meu rosto gentilmente, afagando meus cabelos e fecho os olhos com seu carinho, deixando ela me abraçar e me cercar com seus braços, meu rosto na curva do seu pescoço enquanto eu choro, me agarrando mais à ela com meu coração machucado — Não confio.. não confio em você.

— Eu sei... meu pequeno Thom.. eu sei – ela sussurra, me acalentando — Mas eu vou cuidar de você, eu prometo! eu vou ficar, eu não vou mais embora... nunca, nunca mais!

— Como posso acreditar em suas palavras? como?

— Sei que não tenho direito de pedir isso, mas me dê esse voto de confiança!

— Você promete? – pergunto, com o medo pairando sobre mim.

— Eu prometo, Thom.. prometo ser sua mãe como você sempre mereceu, eu prometo cuidar e amar você como o bom menino que você é.. vamos ficar juntos! vamos ficar bem!

— Ficar.. juntos – sussurro, olhando pelas janelas do quarto de hotel para o céu azul e limpo — Me amar... me amar...

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Boa leitura! ❤

HERDEIROS #6 - Sex and Love Onde histórias criam vida. Descubra agora