Capítulo 31

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dias depois...

Emma Moser

— In my life, there's been heartache and pain.
(Na minha vida, houve mágoa e dor) – ri rouca com meu peito vibrando, encarando Thomas completamente bêbado cantando junto com Ethan, Benjamin e Liam, os homens com seus braços passando um pelo ombro do outro enquanto cantavam I Want To Know What Love Is de forma enrolada pela bebida.

Estávamos em uma área reservada do cruzeiro por Benjamin, onde apenas nós estávamos juntos e bebendo, já eram três horas da manhã, e estávamos todos bêbados por aqui.

— I don't know if I can face it again
(Eu não sei se posso enfrentar isso de novo) – Thomas aponta em minha direção, a garrafa de cerveja em suas mãos sendo usada como seu microfone improvisado e gargalho com as meninas, negando com a cabeça.

— Ele é tão idiota, céus – digo, bebendo meu drink e ignorando as risadinhas das meninas ao meu lado.

— Talvez seja – Merlia murmura, me olhando de soslaio.

— I wanna know what love is
(Eu quero saber o que é o amor)
– gargalho com os homens bêbados cantando alto, Thomas gira pelo navio com os braços abertos e arqueio uma sobrancelha quando chega até mim, agarrando minha mão e me puxando até ele, colando nossos corpos enquanto dançavamos lentamente.

— Você não acha que já bebeu demais? – pergunto, ainda sorrindo e passando meus braços em seu pescoço.

— Não estou bêbado! – ele diz, e depois começa a sorrir — Talvez.. Talvez eu esteja! mas.. eu quero dançar com você agora, então faz silêncio.

— Mas...

— Emma, cala a boca – eu me calo, e Thomas volta a cantar, gritando e acompanhando os caras.

— Eu quero sentir o que é o amor
(I wanna feel what love is).

— Achei que fôssemos apenas dançar, não achei que era para fica–

— I know you can show me
(Eu sei que você pode me mostrar) – ele me gira entorno de mim mesma, puxando meu corpo de volta e segurando nosso olhar.

E lá estava ele, os olhos castanhos escuros, quase pretos, brilhando como o céu estrelado acima de nós, me olhando como se pudesse se deitar sobre a minha pele e ler a minha alma, que estava tão desesperada por um conforto, e céus, a ideia de que talvez o tivéssemos encontrado me deixava tão apavorada.

Eu tinha medo.

— Não pense demais – Thomas se inclina até a minha orelha e sussurra, beijando minha bochecha e fecho meus olhos, com meus batimentos cardíacos descontrolados, minhas mãos estavam tão suadas e minha garganta estava seca, eu estava em pânico.

— Apenas dance comigo..

— Thomas, eu não sei se..

— Em, respire.

— Eu preciso ir para o meu quarto – digo, me afastando dele e saindo dando um breve tchau para todo mundo sem olhá-los.

Eu ignoro os passos de Thomas atrás de mim e continuo andando, minha respiração desregulada e minhas pernas meio trêmulas. Eu inspiro o ar fresco da noite e expiro, caminhando até sentir uma mão tocar a minha, a sua mão.

Aquilo estava tão errado, o fato de que seu toque me acalmasse tanto era tão errado.

— Emma, o que há com você? – seus olhos analisam todo meu rosto.

— Preciso terminar de arrumar minhas malas, amanhã estamos voltando e também...

— Eu quero a verdade, Moser.

— Eu preciso ficar sozinha um pouco – digo baixo, puxando minha mão de volta da dele e ignorando a forma como estava quente, a forma como seu toque a deixou formigando, e como me senti vazia ao afastá-lo.

Thomas aperta as sobrancelhas, confuso, mas decide não entrar em uma discussão comigo agora. Ele vem até mim dando-me um beijo em minha bochecha e tenta encarar meus olhos, mas eu desvio meu olhar para os cantos do cruzeiro, não querendo olhá-lo, não querendo deixá-los ler a minha alma e a minha aflição no momento.

— Me procure se você precisar de mim.

— Não irei precisar – digo cética, o sentimento intenso raspando pela minha garganta — Mas obrigada.

Me viro indo para longe sentindo meus olhos meio marejados, eu apenas sabia que tinha que afastá-lo o mais rápido possível, mas Thomas estava tão perto de mim, do que eu realmente sou, ele chegou sem que eu percebesse e agora, somente agora, havia notado como eu queria tê-lo nos meus dias, vê-lo quando chegar do trabalho, ouvi-lo contar sobre sua infância, como aprontava no orfanato, sorrir ao vê-lo interagindo com Denver... eu queria tudo.

O pensamento me faz prender o ar, e eu paro completamente de respirar pelo medo, tudo aconteceria novamente, ele me daria flores, me daria um de seus poemas, falaria que estava apaixonado por tudo em mim, e então, as brigas iriam começar, e com elas, os insultos, eu começaria a viver por chorar, os machucados pelo meu corpo começariam a surgir, idênticos aos que Daniel deixava em meus braços quando o apertava demais, ou então minha garganta durante uma discussão que ele perdia totalmente seu controle.

Ele me pediria para mudar meu jeito, e eu não saberia mais como fazer, ou eu gritaria e o mandaria embora, ou eu mudaria por estar apaixonada por Thomas Lynch.

Seus toques, suas brincadeiras.. sua voz, a forma como sua risada era divertida e me fazia aquecer por dentro, os mínimos detalhes que foram crescendo ao longo dos dias em que passamos juntos, a forma como ele me fazia me sentir tão livre...

Não.

Ofego baixo, me engasgando em minhas próprias lágrimas quando me lembro de anos atrás, da forma como Daniel me xingava e me odiava pelo simples fato de eu ser eu. Em como as coisas mudaram drasticamente tão rápido que não pude raciocinar, e quando ele me agrediu pela primeira vez, me empurrando contra a parede e me enforcando enquanto gritava comigo, eu surtei, eu me encolhi e abaixei minha cabeça por medo de morrer naquele dia enquanto ele tirava todo meu ar.

Eu não queria viver nas sombras de alguém novamente, regrando meus movimentos por medo.

Entro em uma das pequenas cabines do cruzeiro, deslizando até o chão e deixando as lágrimas rolarem por minhas bochechas, eu estava tão desesperada e com tanto medo, a forma como um simples olhar de Thomas me deixa mexida por ele, como eu fico esperando que ele cuide de mim e me olhe daquela forma outra vez.

Como, involuntariamente, naquela tarde dias atrás no cassino, por um instito de cuidar dele, eu limpei o canto da sua boca, como eu não conseguia e nem queria soltar sua mão, e o desespero que senti quando Daniel esteve perto dele, o medo e o pavor dele ser tirado de mim por causa daquele homem que me machucou tantas vezes de diversas formas..

Como pude ser tão cega e deixar que as coisas chegassem nesse nível?

Fecho meus olhos, respirando devagar e sabendo exatamente o que eu tinha que fazer se não quisesse terminar com meu coração machucado outra vez. Mas se essa era a melhor saída, por que eu sentia meu peito apertar ao ponto de perder o ar quando pensava em não tê-lo mais nos meus dias?

Por que, lentamente, eu estava cogitando a ideia de deixá-lo entrar apenas para não vê-lo partir?

— Céus – sussurro no breu da cabine, uma mão no peito sentindo meus batimentos cardíacos perderem seu controle aos poucos.

Eu estava tão apaixonada por Thomas, e não sabia dizer quando exatamente havia começado, eu apenas.. o queria muito. Um querer muito além de sexo, um querer além de toques suados e suspiros, eu queria tudo dele, todos os seus lados, até os mais sombrios que um dia já os vi.

E eu estava com medo, com tanto medo disso tudo.

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Boa leitura! ❤

HERDEIROS #6 - Sex and Love Onde histórias criam vida. Descubra agora