Os Quietinhos São Os Mais Terríveis...

Epílogo

4 Meses Depois...

Era uma terça-feira plácida no início de setembro. O verão ainda tem um mês de duração antes de o outono chegar, substituindo os dias de Sol quente por chuvas geladas e as cores vibrantes nas árvores. No entanto, as férias de verão já ficaram para trás e os estudantes das escolas já regressam ao seu primeiro dia de aula, inclusive os estudantes da Escola Cherryton.

Neste momento, Gouhin está de pé em sua sala admirando o grande e verdejante parque de suas enormes janelas. Ele tomava um copo de chá gelado de bambu com duas rodelas de laranja e limão enquanto aguardava a chegada de um dos seus pacientes mais especiais.

Gouhin é um dos melhores terapeutas que se pode encontrar por aí. Quando tem pacientes que são estudantes, ele costuma dar umas férias para eles no mesmo tempo em que acontecem as férias escolares, afinal ninguém vai querer ficar livre da escola em férias de primavera, verão e inverno, mas ainda ter que ficar indo a terapia a cada semana. O próprio Gouhin não gostava disso, mesmo porque ele também tem seus planos para esses tempos de liberdade, assim como muitos de seus pacientes estudantes.

É claro que Legoshi é um problemático à parte porque nem sempre ele conseguia aceitar tirar férias de Gouhin quando tirava férias da escola, principalmente porque quando a pessoa é um adolescente maluco e cheio de safadezas mirabolantes na cabeça que finalmente consegue um terapeuta que o entende e o ajuda em vez de julgá-lo como a maioria dos adultos chatos de sua vida isso seria tão difícil quanto se despedir do seu melhor amigo de infância pra pegar o trem e seguir uma nova vida.

E Gouhin era praticamente isso para Legoshi, ele jamais o julgou, mas sempre entendeu como funciona sua mente maluca que pensa cada safadeza de arrepiar qualquer cauda.

Felizmente, este ano Legoshi conseguiu se desgrudar de Gouhin pra tirar férias dele também quando sua escola libertou todos os adolescentes no cio para o verão. E decididamente, o grande panda terapeuta estava curioso quanto a isso. Durante todo o mês de agosto seu paciente canídeo não deu nenhum sinal de vida, não enviou mensagens nem fotos de como andavam suas férias e isso era muito intrigante.

Será possível que Legoshi estava se divertindo tanto assim que esqueceu completamente do seu terapeuta? Psicologicamente falando, seria uma grande evolução interna o paciente estar tão feliz e vivo assim, o que mostraria que a terapia rompeu com todos os seus grilhões e ele não precisasse mais dela.

E como psicoterapeuta, Gouhin deseja isso para todos os seus pacientes mais birutas e fantásticos. Felizmente, o paciente das 17h cancelou devido à um imprevisto e Gouhin deixou que Legoshi viesse mais cedo, o que provavelmente aconteceria em breve.

O grande panda entornou o restante do seu chá enquanto ouvia o trânsito tranquilo lá embaixo do prédio e observava os vultos de crianças distantes correndo pelas fontes e chafarizes refrescantes do enorme parque verdejante de frente para seu consultório.

Mas em algum momento essa admiração toda é interrompida quando o telefone de audioconferência de Gouhin começa a tocar. Ele suspira e sai de perto da janela. Chegando à sua escrivaninha em forma de magatama preto, Gouhin deixa seu copo vazio ali e aperta o botão do telefone.

-Gouhinsan, seu paciente, Legoshi, acaba de chegar.-responde a voz de Akane, a secretária de Gouhin.

-Mande-o entrar.-pediu Gouhin ao sentar em sua cadeira atrás da escrivaninha.

-Mas o que eu faço com os outros?-Akane questionou, a voz parecendo ansiosa.

-Que outros?-Gouhin questionou de volta, um tanto confuso.

-Ah, deixa pra lá.-e Akane encerra a ligação.

Em seguida, a porta se abre e Legoshi entra.

Gouhin o olha na hora ao perceber como o marmanjo lobo parecia um tanto diferente desde a última vez que o viu.