I Wanna Be Yours

Quarto 166

Yoongi estava terminando de colocar as suas coisas dentro da caixa de mudança, quando escutou o inconfundível som da buzina  idiota dos irmãos Jeons do lado de fora da sua casa. Ele rolou os olhos com impaciência, largando uma caixa que dizia Livros de Informática e então se aproximou da janela.

Jungkook colocou a cabeça para fora da janela do carro, enquanto Seokjin voltava a buzinar.

—O que aconteceu?

—Eu já estou descendo, idiota, para de ficar me mandando mensagens! — Yoongi gritou para o melhor amigo que assentiu, fazendo um gesto de joinha para ele. — E manda o Jin parar de buzinar, caralho!

—Ele disse que se você demorar mais dez minutos, você vai ficar aqui. — Jungkook avisou.

Ele recebeu apenas um dedo médio como resposta, seguido por incontáveis palavrões pronunciados pelo moreno com jaqueta de roqueiro e rindo, Jungkook voltou a encolher-se dentro do carro, ajeitando-se no banco do carona.

♫ ♪

A Universidade Kyung Hee sempre foi o grande sonho da vida de Min Yoongi, desde que estava na sexta série, além de ser uma das mais importantes e prestigiadas universidades coreanas – internacionalmente premiada, onde diversos artistas, políticos e filósofos estudaram – era uma das pouquíssimas que tinha um programa excelente de pós-graduação, ou seja, ele não tinha a necessidade de se mudar do país assim que terminasse o seu curso de Engenharia de Computação.

Os seus melhores amigos, Seokjin e Jungkook também tinham grandes expectativas por conta disso. A KH oferecia bolsas para os melhores alunos da universidade, e a dupla já tinha um histórico escolar invejável. Não seria diferente na universidade.

Ele sentou-se no banco do passageiro, ajeitando a jaqueta preta e colocando o cinto de segurança.

—O que os seus pais disseram quando você disse que iria se mudar? — inquiriu Kook, que tinha recentemente colocado dois piercings na sobrancelha esquerda e estava bastante charmoso. Ele já tinha cara daqueles personagens bad boys típicos de filmes da netflix, e aqueles piercings iriam levar os alunos e as alunas da KH à loucura.

Mesmo durante o ensino fundamental e o ensino médio, quando Jungkook se vestia de um jeito alternativo – para não se dizer esquisito e sem graça, como Yoongi – ele já chamava a atenção dos alunos do colégio. Ele era bonito, mas se tornava irrelevante pela sua total falta de coordenação motora, língua presa e mania de arrotar sempre que ficava muito nervoso. Além do mais, ele tinha uma picape – que na verdade era de Seokjin e depois foi dada a ele como "estimulo" para continuar sendo um excelente aluno durante o primeiro ano do colegial – extremamente velha, que insistia em chamar de Bella Swan. Aquela picape sem sombra de dúvida foi uma das principais razões para ele ter continuado virgem até metade do terceiro ano.

Seokjin, diferentemente do irmão mais novo – e de Yoongi – sempre foi um cara inacreditavelmente lindo, gostoso, desejável e popular. E como se isso já não fosse o suficiente, Jin também era um exímio lutador. Gostava de brigar para defender o seu irmão caçula, o que fazia com que alguns populares tivessem certa raiva e até mesmo medo dele.

—Eles devem ter esquecido. O que não seria nenhuma novidade. — Yoongi disse despreocupadamente, passando as mãos pelos cabelos pretos. Sua relação com os pais não era das melhores. Eles queriam que ele fizesse medicina ou direito, algo que estivesse diretamente relacionado a status na sociedade, mas ele não se interessava por nada disso. Sempre gostou de números e da magia que a matemática poderia proporcionar a vida das pessoas. Engenharia da computação sempre foi sua primeira escolha.

—Típico. — respondeu Jin, concentrado na estrada a sua frente. — O que vocês dois pretendem fazer assim que chegarmos ao campus?

—Descobrir se tem alguma maneira de impedir que eu fique no mesmo corredor que você. — murmurou Jungkook, enfezado. O irmão mais velho o olhou de esguelha, reprimindo a vontade de estapeá-lo e continuou a dirigir velozmente pelas ruas da cidade.

—Eu já disse que eu não vou fazer vocês dois passarem vergonha, inferno.

—E nós não confiamos em você. Ponto. — Yoongi bocejou, espreguiçando-se no banco passageiro. — Será que vocês poderiam colocar em uma estação de rádio que toque musica indie, por favor?

Estava tocando a música de alguma diva pop que ele jamais saberia nomear, e era um refrão irritante e sem graça que ele acreditava ter escutado várias vezes antes em outras músicas.

—Você e essas suas músicas de amargurado intransavel. — Jin fungou uma risada mas não discutiu, porque ainda teriam muitas horas pela frente e ele poderia tentar convertê-los a religião Ariana Grande.

Ele colocou em uma emissora que só tocava k-indie e pareceu ser mais do que suficiente para o Min, que sorriu e fechou os olhos, relaxando ao som da música.

♫ ♪

Finalmente no campus da universidade, os amigos se separaram para descobrirem em que prédio ficariam pelos próximos anos. Tudo o que Yoongi sabia era que seu quarto estava localizado no prédio A, ou seja, onde os dormitórios eram exclusivamente masculinos. Ele avançou pelo campus, cantarolando uma das suas músicas preferidas do the academic, até chegar a secretaria, onde perguntou a simpática aluna/estagiaria que prontamente o entregou o mapa com a localização de todos os lugares essenciais para os calouros, incluindo a classe de aula, os horários dos intervalos, onde ficava o refeitório, etc. Era um mapa extremamente minucioso, cheio de detalhes e siglas traduzidas para o idioma "calourês".

Em seguida, ele decidiu ligar para os responsáveis pelo caminhão de mudanças, instruindo-os a levar as suas coisas até o quarto 166, onde deveria dividir com outro cara pelos próximos cinco anos.

Assim que ele finalmente abriu a porta do quarto, Min teve uma surpresa e tanta.

Sentado na cama, retirando distraidamente os seus tênis, estava justamente a razão para todos os seus traumas, medos e sua fobia de compromisso: Kim Taehyung.

—Yoongi? — o outro o chamou, parecendo tão chocado quanto ele. Ele se levantou da cama apressadamente, de um jeito desastrado e Yoongi recuou instintivamente, sem entender o que diabos estava acontecendo ali.

Não era possível. Não era justo que dentre milhões de coreanos no país, o seu colega de quarto tinha que ser justamente aquele canalha insensível. Mas que inferno!

—Merda! Porra! Não acredito nisso! Eu não acredito! — grunhiu, afastando-se do Kim com nítido desespero.