O Menino que Nasceu da Chuva

57 7 15
                                    

Cinco mil anos antes do encontro com o Príncipe da Lua.

Era época das monções na Índia, numa noite de chuva impiedosa próximo à floresta do tão poderoso Clã das Matas. 

Clã este que havia sido recém fundado, seguindo os ensinamentos de um homem misterioso que surgiu à noite e desapareceu ao amanhecer. Estes seguidores jamais se esqueceram das filosofias, perpetuaram-na para todo o sempre. 

Naquela noite como todas as outras, um trovão estrondou no céu.

Alguns anciões meditavam diante do altar dos mortos quando mais um trovão estremeceu o céu e a terra, o clarão dos raios atravessaram a porta e as janelas, iluminando o templo... Algo fez um dos anciões abrir os olhos e sair do estado meditativo, vendo a silhueta de uma criança na parede, projetada pelo clarão do raio. Se virou para a porta que dava para a rua, se deparando com um menino encharcado da cabeça aos pés, ele carregava um pequeno tambor em formato de ampulheta nas mãos, estava nu e ofegava, parecia estar cansado de uma longa corrida.

O ancião interrompeu a meditação dos outros devotos sem tirar os olhos do menino que permanecia imóvel, olhando no fundo dos olhos de todos eles. 

Mais um trovão estremeceu o céu, o clarão do raio iluminou as costas do menino, todos testemunharam os olhos de safira dele cintilarem, a aura azul intensa emanando. 

-Ele está entre nós agora. -O ancião sussurrou, gesticulando para o menino, que respirou fundo e entrou no templo. 

Caminhou lentamente até os braços do ancião.

-Bem vindo ao seu lar, príncipe. -Sussurrou o ancião. -Seu nome é...

-Shankar. -Respondeu o menino, se virando para olhar para os outros anciões. -Filho de Lalita, filho de Rudra. 

-Príncipe Shankar, herdeiro dos deuses. -O ancião corrigiu a si mesmo. -Bem vindo.

-De onde você veio, amado Shankar? -Outro ancião perguntou, se aproximando.

-Da floresta... Da chuva. -Respondeu Shankar.

-Alguém o deixou ali? -Perguntou.

-Meus pais me deixaram lá. -Respondeu Shankar, passando as mãos pelos cabelos lisos e compridos.

-E já partiram. -Deduziu o ancião.

-Sim. Voltaram para a morada dos deuses. -Shankar respondeu. -Vim à terra para viver como vocês. 

-Temos muito a aprender com você, príncipe. 

-E eu tenho muito a aprender também. 

Cerca de mil anos depois.

Shankar lidera o Clã das Matas com sabedoria, uma criança com a maturidade de um homem adulto, ele já renasceu algumas dezenas de vezes. 

Os boatos de que um novo clã havia surgido próximo ao templo o deixaram curioso. Um território antes desocupado agora se encontrava construindo moradas e aldeias. Um grande templo estava sendo erguido próximo dali.

Durante as suas meditações ele consegue visualizar a cor âmbar muito nítidamente, como se aquela cor fosse o anúncio de algo importante que estava por vir. 

Ele já tem quinze anos nessa nova vida, está na estrada com seu cavalo, numa região a seis quilômetros do território de seu clã quando ele avista um enorme tigre à beira da estrada, próximo às árvores.
Seu cavalo se agita, Shankar segura as rédeas com mais firmeza nas mãos, assovia baixinho para acalmar o animal. O tigre percebeu o som e se virou para olhar nos olhos de Shankar.

O Lótus e o TridenteOnde histórias criam vida. Descubra agora