Shankar se sentou no jardim do templo, embaixo do antigo craveiro, respirou fundo e se concentrou, com seu fio de contas de sementes na mão direita, ele girou uma, duas, três contas na mão.
O vazio o envolveu.
-Minha criança. -A voz de sereno aparentava estar preocupada.
-O sonho que tive tem tirado minha tranquilidade. -Shankar confessou. -O que os deuses planejam?
-Algumas vias de aprendizado sao duras porém são necessárias. -A voz de sereno respondeu. -É importante que entenda que não há culpa aqui.
-Culpa?
-Nem sua, nem de ninguém. -Continuou a voz. -Minha criança, muitas coisas acontecem por um propósito maior no futuro, você sabe.
-Minha família... Eu temo por meus filhos... Por minha esposa. -Shankar sussurrou.
-Nossos demônios internos não podem ser alimentados quando nós nos privamos de nutrir a nós mesmos. -A voz disse.
-Vou me esforçar para entender isso. -Shankar disse.
-Sei disso. -A voz balbuciou. -Sempre foi um filho excepcional.
-Obrigado.
Shankar abriu os olhos, ainda era noite, Chandra estava parado perto da entrada do templo, observando a mata.
-Meu príncipe, venha aqui. -Shankar chamou.
Chandra olhou para ele e caminhou na direção do craveiro, se sentou de frente para o pai.
-Você tem observado muito essas matas... -Shankar comentou. Chandra desviou os olhos, olhando para as mãos. -Você está sentindo que há algo se aproximando, não é?
Chandra ergueu os olhos para encarar seu pai.
Mesmos olhos azuis, como um espelho.
-Pai... Sinto que algo avança em nossa direção... Algo hostil... Não é benevolente, é avassalador... -Chandra confessou. -Não consegue sentir?
-Eu sinto tudo, meu filho. -Shankar suspirou.
-Se sente, por que não comunicou à mamãe? -Chandra fez uma careta.
-Sua mãe já tem muitas preocupações. -Shankar sussurrou.
-E como vamos estar preparados para algo assim? -Chandra indagou. -Não podemos omitir...
-Meu príncipe, você tem dezessete anos, é o guerreiro mais forte do clã apesar das grandes guerreiras. -Shankar sorriu para ele.
-Sou o mais forte por ser homem. -Chandra fechou a cara.
-Sim, você é homem. Bem observado... -Shankar riu.
-Pai, não acho muito vantajoso ser mais forte apenas por ser homem. -Chandra disse.
-Céus, você se parece muito comigo quando era jovem. -Shankar riu, fascinado. -Mas você é bem mais bonito.
-O que isso tem a ver?
-Você é muito sábio, garoto. -Shankar estendeu a mão para tocar o rosto do filho. -De fato, não há vantagem em ser o mais forte apenas por ser homem... Mas o ponto não é esse.
-Então qual é o ponto?
-O ponto é que você é mais forte por ser meu filho, por ser filho de sua mãe, por ser um guerreiro esforçado e dedicado. -Shankar respondeu. -É uma união de fatores que te favorecem, afinal. Mas você também é sábio, pode ser prepotência dizer que é o mais forte por seu tamanho e força física... Mas você também é forte mentalmente.
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O Lótus e o Tridente
FantasyNeste romance vamos explorar o passado de Shankar e Jaya, personagens inportantes da minha história anterior: Dança da Morte. É importante ressaltar que esta é uma sequência com muitos flashbacks dos personagens, então por boa parte da trama nós va...