Relutância

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Três mil e trezentos anos antes do encontro com o Príncipe da Lua.

Jaya caminhou até a varanda de sua casa nas montanhas, olhando para elas fixamente no horizonte, a grossa camada de neve cobria o topo das montanhas cinzentas, o dia estava ensolarado, uma brisa agradável soprava.

Ela tinha dezenove anos, sonhava com flashes de sua vida passada desde criança, ela se lembrava de algumas coisas mas não conseguia encaixá-las de maneira coesa.

-Jaya, vamos, precisamos partir antes do anoitecer. -Sua mãe chamou.

-Por que você não pode ficar no templo comigo? -Jaya se virou para olhar para ela.

-A Senhora das Armas ordenou dessa forma. -Sua mãe respondeu.

-Está bem... -Jaya respirou fundo e seguiu para dentro, ajudando sua mãe com seus pertences e levando-os para a carruagem. -Como saberão que sou eu?

-Elas saberão, minha filha. -Sua mãe sorriu. -Você é exatamente como as histórias antigas contam, é a face mais bela de nossa Fundadora.

Jaya respirou fundo e subiu na carruagem com sua mãe.

-Vou sentir falta daqui... -Jaya murmurou. -Mas algo me faz querer voltar para a floresta...

-Sei que será uma líder sábia. -Sua mãe acariciou o rosto de coração da filha.

Jaya olhou pela janela, vendo as montanhas se diminuírem conforme a carruagem seguia pela estrada rumo ao sul.

Uma essência azul paira sobre as núvens, observando a carruagem avançar, como se saltasse de núvem em núvem, cada passo fazia uma gota cair no chão diante da carruagem, como se abençoasse o caminho. Jaya encarou as gotas caindo no chão, olhou para o céu, pareceu enxergar uma pessoa lá encima, arregalou os olhos e puxou o braço de sua mãe.

-Está vendo aquilo??? -Jaya arquejou sem tirar os olhos das núvens.

Sua mãe seguiu seu olhar, mas não viu nada.

-Não vejo nada, minha filha. -Sua mãe sussurrou.

Jaya se encolheu e baixou os olhos.

-Deixa pra lá... -Jaya murmurou.

A jornada era longa, Jaya chegou no Templo das Armas dois dias depois, exausta da viagem, sua mãe retornou para as montanhas, Jaya foi acolhida pelas guerreiras que até então estavam pouco lapidadas em suas táticas, iniciantes.

-Saudações, minha senhora. -A capitã das guerreiras fez uma breve reverência. -Me chamo Kiri, sou eu quem lidera o clã em sua ausência.

-Eu... -Jaya olhou no fundo dos olhos da garota por um momento. -Eu me lembro de você.

-Sim, minha senhora. -Kiri deu um sorriso tímido. -É bom tê-la de volta conosco, finalmente.

-O templo me é tão familiar e ao mesmo tempo tão estranho... -Jaya olhou para o teto do templo, para a estátua de sua mãe, o altar repleto de velas.

-Estamos em outra era, minha senhora. -Kiri sussurrou. -Alguns costumes mudaram, as meninas do vilarejo são diferentes, a mentalidade é outra...

-As minhas memórias são tão distantes... -Jaya fitou o vazio. -Algumas coisas estão cobertas de uma névoa densa em minha mente e outras são tão claras e cristalinas...

-Em breve tudo se encaixará perfeitamente, minha senhora. -Kiri assegurou. -Seria bom meditar.

Jaya a encarou.

-Meditar...? -Jaya murmurou, um flash de memória passando por sua mente, um lindo jovem sob uma árvore no jardim, olhos de safira.

Jaya arquejou e andou até o jardim, Kiri se demorou mas foi atrás.

O Lótus e o TridenteOnde histórias criam vida. Descubra agora