Capítulo 8 - A tola magia.

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Os passos pesados criavam valas nas ruas lamacentas. As botas de couro negro manchavam-se da mistura que a chuva criava no solo, dificultando a marcha dos soldados da comitiva de Behemmot. Os rifles sujos apontados para baixo, liberavam uma fraca luminescência, segurados firmemente na mão calejada de um atirador que mantinha olhos cansados após testemunhar o próprio inferno. A tempestade não perdoava ninguém, e a moral estava baixa depois de quatro dias de marcha incessante.

E Behemmot percebia isso. Ele marchava junto a seus homens, não podia se dar ao luxo de permanecer no vagão com Nochto. O clima de suas tropas não estava bom devido ao cansaço. Passos largos e sons de metal, a espada pesava em seu ombro, olhando ao redor ele podia observar a distância os destroços de algo que uma vez já foi uma vila, agora era apenas um aglomerado de casas abandonadas. Não era muito, mas era o suficiente para seus soldados descansarem antes de uma última caminhada até chegarem à capital.

— ALTO HOMENS! — Behemmot fala em alto e bom som. — Temos um teto à frente, levantem as barracas e armem as trincheiras, ficaremos de prontidão por um dia.

Os soldados acataram as ordens em silêncio, se apressando para armar o acampamento. Entretanto, por dentro de cada homem e mulher naquela divisão, a alegria de um breve descanso era algo deleitável.

Nochto assistia de longe no vagão junto ao general, ele via os soldados indo de um lado a outro carregando tendas e um artefato em forma de haste luminosa. Seus olhos não possuíam brilho, mas ainda assim carregavam certa curiosidade. O general dava ordem aos seus homens, sua voz estridente se sobressaia mesmo com o alto som que a chuva fazia ao se chocar contra o chão. Behemmot notou o olhar do garoto e se aproximou do mesmo.

— Como está, garoto? — Ele tenta iniciar uma conversa.

— Bem. — Nochto não fala muito.

Behemmot estava desconcertado, ele não sabia como conversar com uma criança, ele nunca foi muito bom com elas, mas Nochto o respondia, e dado as circunstâncias ele tinha que fazer algum esforço para o garoto não ser envolto pelo luto novamente.

— Curioso sobre algo? Acredito que nunca saiu para o exterior alguma vez. — Behemmot tenta animar o garoto. — O exterior tem muitas coisas que podem ser estranhas para você. Eu lembro de que seus pais falaram que você era bem curioso sobre o que tinha do lado de fora da muralha.

— Meus pais? — o general havia pisado em uma mina terrestre, o rosto do garoto voltava a ter um semblante sombrio. Behemmot rapidamente tenta mudar o assunto.

— Está vendo aquilo? — Ele aponta para os soldados que carregam hastes luminosas, eles se distanciam um pouco do centro do acampamento e fincam os artefatos no chão fazendo uma espécie de pentágono com as cinco hastes presas.

Elas brilham fortemente logo após serem instaladas, soltando um som que reverbera e ondas de choque de forma rítmica, então elas levantam uma coluna de luz para o céu formando uma espécie de campo de força ao redor das barracas.

O brilho reflete nos olhos de Nochto que se vê absorto.

— Aquilo e chamado de campo arcano antidemoníaco (C.A.A.D), ou trincheira como chamamos, tem a função de manter afastado os demônios circundantes, gerando uma parede de energia arcana conflitante com a Bruma que cobre o corpo das criaturas. Não funciona com demônios de nível superior a três, mas dá para dar um jeito quando são criaturas fracas como Imps. Cria um lugar seguro para encostar a cabeça.

— Arcano? — Nochto fica confuso. Ele costumava ouvir bastante essa palavra de seus pais, mas ele não sabia muito bem o que ela significava.

— Sim, arcano. Acredito que você não chegou a aprender ainda sobre os três círculos, né? — O general se vira para alguns soldados. — Higgs — Behemmot chama um soldado que estava um pouco longe. Ele corre até seu general o reverenciando.

Demônios na Tempestade (O Monarca)Onde histórias criam vida. Descubra agora