O leve vapor escapava das panelas de barro sobre a fogueira, liberando um leve frescor do cheiro da comida preparada. As mãos delicadas da cozinheira seguravam o cutelo que cortava a barriga do animal sobre a mesa. O sangue escorria como uma fonte carmesim, as mãos sujas das vísceras do animal limpavam aquilo que seria a mistura do jantar. Moira suspirou, preparar a comida não era fácil e limpar a caça que seu marido Mordred a deu se apresentava como uma difícil tarefa, sendo que seus braços cansados já não tinham a mesma pegada de outrora. Contudo, a sensação de cozinhar uma boa refeição para sua família aquecia seu coração materno.
Ela se afasta da cozinha em direção às escadas olhando para cima com um sorriso caloroso.— Nochto, vem comer! — Ela grita.
No andar superior, envolto em livros e o cheiro da madeira velha, o garoto se encontrava submerso em toda a fantasia que seus olhos absorviam das linhas amareladas dos contos.
— Já vou! — Ele grita repousando o livro de capa dura de couro desgastado sobre o piso de seu quarto bagunçado, tropeçando em algumas pilhas que dificultavam seu caminho. Nochto não queria arrumar seu quarto, achava que era perda de tempo, tudo estava onde ele sabia e às vezes ele brigava com sua mãe, que tentava trazer ordem ao caos do cômodo de seu filho.
Saindo de seu quarto e fechando a porta atrás de si, o garotinho corria pelos corredores escuros da residência em direção as escadas, correndo para mesa e se sentando alegremente.
— O que está fazendo mamãe? — Ele perguntava, curioso com o cheiro convidativo das especiarias despostas sobre a carne.
— Hum... vamos ver, porque não tenta adivinhar? — Moira se diverte com a situação, mantendo uma face alegre.
— Hum, você sabe que eu não sou bom com essas coisas. — Nochto se emburra. — Deixa eu pensar, tem cheiro de guisado, é guisado?
— Que pena, você errou. — Moira se diverte com a situação. — E como errou, vai ter que me ajudar a arrumar a mesa.
— Você sabe que não precisava disso tudo. — Nochto desce com certa dificuldade da cadeira, levantando ela e colocando sobre a despensa, onde ficam os talheres e vasilhas, tendo um pouco de dificuldade para subir e coletá-las.
— Cuidado Nochto você vai acabar se machucando. — Moira fica preocupada.
— Está tudo bem, eu sei o que estou fazendo. — A cadeira balança com os movimentos de Nochto que não se importa muito, ficando na ponta dos pés para recolher um jogo de vasilhas de madeira do fundo do armário. — Acho que peguei.
Ele segura triunfante as vasilhas, mas sua conquista não dura muito, pois logo em seguida ele perde seu equilíbrio e escorrega para fora da cadeira indo de encontro ao chão.
— Nochto! — Moira larga o que está fazendo e corre para segurar seu filho que está paralisado segurando as vasilhas enquanto lentamente cai para trás.
Sua queda é interrompida na metade por uma mão grande que segura suas costas.
— Parece que todos aqueles livros ainda não te ensinaram sobre a dádiva da gravidade, meu filho.
Mordred brinca com Nochto, que incha suas bochechas com tanta força que parecem que vão explodir de tão emburrado que ele estava.
— Eu ia ficar bem. — Nochto responde irritado.
— Todos sabemos que iria. — Mordred segura seu filho com as duas mãos o colocando no chão.
— Mas por enquanto vamos evitar, malabarismos, certo. — Ele sorri.
— Certo. — Nochto responde cabisbaixo.
— Vamos, não fique assim meu pequeno guerreiro. — Mordred bagunça o cabelo de seu filho enquanto gargalha. — Aqui, para você.
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Demônios na Tempestade (O Monarca)
FantasíaUm dilúvio negro cai sobre todo o principado de Estória, o estranho fenômeno gera dúvida em todos os residentes do império, e antes que pudessem se quer indagar sobre a tempestade, criaturas demoníacas se levantam logo em seguida devastando tudo em...