Capítulo 7 - Olhos Fechados

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O leve vapor escapava das panelas de barro sobre a fogueira, liberando um leve frescor do cheiro da comida preparada. As mãos delicadas da cozinheira seguravam o cutelo que cortava a barriga do animal sobre a mesa. O sangue escorria como uma fonte carmesim, as mãos sujas das vísceras do animal limpavam aquilo que seria a mistura do jantar. Moira suspirou, preparar a comida não era fácil e limpar a caça que seu marido Mordred a deu se apresentava como uma difícil tarefa, sendo que seus braços cansados já não tinham a mesma pegada de outrora. Contudo, a sensação de cozinhar uma boa refeição para sua família aquecia seu coração materno.
Ela se afasta da cozinha em direção às escadas olhando para cima com um sorriso caloroso.

— Nochto, vem comer! — Ela grita.

No andar superior, envolto em livros e o cheiro da madeira velha, o garoto se encontrava submerso em toda a fantasia que seus olhos absorviam das linhas amareladas dos contos.

— Já vou! — Ele grita repousando o livro de capa dura de couro desgastado sobre o piso de seu quarto bagunçado, tropeçando em algumas pilhas que dificultavam seu caminho. Nochto não queria arrumar seu quarto, achava que era perda de tempo, tudo estava onde ele sabia e às vezes ele brigava com sua mãe, que tentava trazer ordem ao caos do cômodo de seu filho.

Saindo de seu quarto e fechando a porta atrás de si, o garotinho corria pelos corredores escuros da residência em direção as escadas, correndo para mesa e se sentando alegremente.

— O que está fazendo mamãe? — Ele perguntava, curioso com o cheiro convidativo das especiarias despostas sobre a carne.

— Hum... vamos ver, porque não tenta adivinhar? — Moira se diverte com a situação, mantendo uma face alegre.

— Hum, você sabe que eu não sou bom com essas coisas. — Nochto se emburra. — Deixa eu pensar, tem cheiro de guisado, é guisado?

— Que pena, você errou. — Moira se diverte com a situação. — E como errou, vai ter que me ajudar a arrumar a mesa.

— Você sabe que não precisava disso tudo. — Nochto desce com certa dificuldade da cadeira, levantando ela e colocando sobre a despensa, onde ficam os talheres e vasilhas, tendo um pouco de dificuldade para subir e coletá-las.

— Cuidado Nochto você vai acabar se machucando. — Moira fica preocupada.

— Está tudo bem, eu sei o que estou fazendo. — A cadeira balança com os movimentos de Nochto que não se importa muito, ficando na ponta dos pés para recolher um jogo de vasilhas de madeira do fundo do armário. — Acho que peguei.

Ele segura triunfante as vasilhas, mas sua conquista não dura muito, pois logo em seguida ele perde seu equilíbrio e escorrega para fora da cadeira indo de encontro ao chão.

— Nochto! — Moira larga o que está fazendo e corre para segurar seu filho que está paralisado segurando as vasilhas enquanto lentamente cai para trás.

Sua queda é interrompida na metade por uma mão grande que segura suas costas.

— Parece que todos aqueles livros ainda não te ensinaram sobre a dádiva da gravidade, meu filho.

Mordred brinca com Nochto, que incha suas bochechas com tanta força que parecem que vão explodir de tão emburrado que ele estava.

— Eu ia ficar bem. — Nochto responde irritado.

— Todos sabemos que iria. — Mordred segura seu filho com as duas mãos o colocando no chão.

— Mas por enquanto vamos evitar, malabarismos, certo. — Ele sorri.

— Certo. — Nochto responde cabisbaixo.

— Vamos, não fique assim meu pequeno guerreiro. — Mordred bagunça o cabelo de seu filho enquanto gargalha. — Aqui, para você.

Demônios na Tempestade (O Monarca)Onde histórias criam vida. Descubra agora