ATO V - Parte II

322 44 42
                                    

"E, levando em consideração tudo o que você me contou, qual é a sua opinião?" O terapeuta ajeitou os óculos, esperando uma resposta.

     Era sua quinta consulta e James continuava a se sentir exaurido com toda aquela análise profunda de sua psique.

"Eu não acho que o que eu penso importe muito. Ele terminou comigo, eu poderia ter sido melhor, fim." Bufou, frustrado por ter que se declarar como perdedor.

"James, a questão é justamente essa, não acha? Você precisa entender e acreditar que o que você pensa importa. Porque importa - você está todos os dias vivendo a sua vida, seus pensamentos e opiniões importam."

"Certo, doutor. Mas existem pessoas demais no mundo para eu querer me colocar acima e à frente delas."

"Você acredita que precisa dar tudo de si para as pessoas?" Perguntou cético.

"Não tudo..." Respondeu levemente envergonhado pela constatação. "Mas o suficiente."

"Suficiente para quê?"

"Para não irem embora." Algumas leves lágrimas se formaram.

"James, você precisa aprender certos limites. Dar tudo de si não é o certo quando as pessoas não sabem parar de receber."

     Após mais alguns minutos, a sessão finalmente acabou - Potter saiu exausto como sempre. Claro, o doutor está certo e ele sabia. Desde pequeno James via seus pais se amando, fazendo conceções um pelo outro, apoiando-se e dando tudo de si. Cá estava, foi o que aprendeu, que se quisesse um amor real, se quisesse ser tão amado, precisava dar tudo de si.

     Vendo agora, sentindo-se aberto em uma mesa de análise duas vezes por semana, tendo fatos escancarados para ele. Mesmo sendo fatos óbvios, ainda sim doía um pouco tê-los jogados em sua cara. O ajudou a entender um pouco as coisas, fazer as pazes com si próprio.
     Eles eram estupidamente jovens quando Regulus foi embora, e nem estiveram juntos por tanto tempo. Mas Potter acreditava que seria para a vida toda, ele sentia que seria para vida toda. Amar Regulus Black era como estar em uma montanha-russa, era algo forte e emocionante. Conseguir Regulus para si foi algum tipo de conquista. Não ter conseguido ficar com ele foi uma perda.
     Sentiu sendo um erro pessoal, não foi o suficiente, talvez não tivesse amado o suficiente, ou então não foi compreensivo ou suficiente, não lutou e defendeu o suficiente; não usou garras e partiu para o ataque como os amigos deles estavam dispostos. No fim, não foi escolhido e isso doeu, porque mesmo sem ser o suficiente, foi tudo de si.

     Hoje podia ver algo diferente, ainda com a dor de fundo, pelo menos entendia. Regulus era tão jovem quanto ele, tão idiota quanto ele. Enquanto James acreditava em um amor real e profundo por outra pessoa, Black tentava se segurar a si próprio - manter uma autopreservação e senso de unidade. Ele sempre repetia a mesma coisa: "Eu quero ser alguém."
     Potter se sentiu burro novamente, estava na cara dele que ia acabar mal. Black parecia estar melhor hoje em dia, deveria estar, levando em conta que quase uma década se passou. James precisava estar melhor também. Pelo menos agora ele era capaz de entender um pouco mais sobre o que aconteceu, é um começo.

     Chegou em casa e se deixou cair no sofá.

"Potter, é você?" Lily gritou da cozinha.

"Sim, amor." Levantou novamente, indo para a cozinha. "Achei que você estivesse trabalhando." Abraçou-a por trás, deixando um beijo em sua bochecha.

"Eu consegui sair mais cedo, só fui terminar alguns projetos." Sorriu, ainda mexendo algo em uma vasilha. "Como foi hoje?"

"Cansativo, como sempre." Suspirou, pegando a vasilha para mexer ele mesmo, sentando-se no banquinho da bancada. "Mas acho que ajuda, de verdade."

Own My Mind; StarchaserOnde histórias criam vida. Descubra agora