A Falsa Verdade

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— Jin, fala alguma coisa.— Taehyung começou a ficar preocupado com o olhar perdido do irmão que estava parado no piano já fazia algum tempo. Jin havia corrido para a biblioteca e se sentando no primeiro lugar que viu, e claro, o piano lhe chamou, sempre iria chamar. — Desculpe por te contar, mas…

— Minha marca de casamento não foi atada certo.— Jin falou.

— Como é? — Jimin se levantou. — Toda marca precisa ser atada da forma correta. És o básico da vida.

— A minha não foi. — Seokjin enfiou as mãos no cabelo, tirando todas as presilhas e ornamentações. — A primavera vez que nos deitamos foi ontem.

— Mas vocês tem tanto tempo de… Ao menos ele  te marcou novamente ontem, certo? — Jimin perguntou e Seokjin afirmou. — Graças ao bom Deus.

— Não estou me sentindo bem. Me deixem ficar só. Meu corpo está estranho. Não me sinto nada bem.

— Seu cheiro está estranho, Jin. — Taehyung apertou o nariz enjoado. — Desde quando o avelã que vem de você é tão forte?

— Ele foi marcado ontem, Taehyung. É óbvio o que isso significa. — Jimin observou Seokjin soltar seus cabelos, coçando a cabeça em nervoso.

— Meu ciclo. —Seokjin falou baixo deixando algumas lágrimas caírem.— Havia esquecido.

— Deve demorar uns dois dias ainda. Eu vi alguém falando isso. — Taehyung disse.

— Me deixem só, por favor. Apenas me deixem.

Quando Taehyung e Jimin saíram, Seokjin só conseguia chorar. Estava mais sensível e tudo o que poderia sentir com todas aquelas informações, era cada vez mais intenso quando se repreendia, sem intenção, para não chorar. Estava chorando erroneamente? Ele sentia isso. Como se seu choro não fosse verdadeiro para sua realidade. Tão óbvio que não poderia se afetar sobre toda aquela situação, era claro feito preto no branco que Yoongi não poderia lhe dar um bom casamento. Como poderia? Não se amavam. Não tinham o que prometer um ao outro. Mesmo que fosse marcado, mesmo que sentisse cada pedaço de seu corpo pertencente a alguém que não lhe ama, não conseguia não chorar.

Seokjin se ergueu, esfregando o rosto. Ouviu o barulho de música, provavelmente o casamento estava começando. Tinha que se recompor. Precisava se recompor.

— Mãe, se a senhora estivesse viva, eu teria me casado mais cedo. — Seokjin falou para si mesmo, andando devagar até ao baú das partituras na biblioteca, pegou a primeira que viu. — Isso é Mozart?

Quando aprendeu a entender partituras mais básicas, sua mãe adorava saber de músicas novas, de fazer músicas novas. Ela era apaixonada por Mozart. Quando Seokjin era pequeno a trilha sonora de seus pés descalços vinha das obras de Mozart.

Se sentou, erguendo as mangas da roupa após tirar o que estava lhe incomodando. Passou os dedos na tecla notando que já tremia.

Não havia aprendido a tocar harpa. Yoongi provavelmente gostaria. Ele era bom no piano e apenas nele. A única coisa boa que ainda lhe restava, não conseguia tocar. Mas precisava tanto que chegava a doer. Precisava tocar novamente. Precisava tocar tão bem a Sonata No. 8 in A Minor que iria se lembrar dos risos banguelos de seus irmãos mais novos no meio da biblioteca tentando acompanhar os pés magros do irmão mais velho.

Namjoon, Jimin e Taehyung quando menores eram apaixonados por Seokjin. O irmão mais velho que era todo desengonçado dançando, divertia as crianças. Os pés descalços, o chão frio, na primavera e os risos felizes. Era um tempo feliz. Um tempo que adoraria voltar.

— Eu quero provar o que para ele? — Seokjin começou a tocar devagar fora do tom da música. — Mesmo que eu fosse aprendiz de Mozart, não tem sentido. Ainda seria ruim para ele.

A verdade não dita | YOONJINOnde histórias criam vida. Descubra agora