NORTE A SUL - TRÊS

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3.

Após o intervalo, Pedro caminhou até o pátio e ficou meio perdido. Não era seu primeiro dia, mas a única amizade que tinha não estava lá. Resolveu tirar fotos de algumas coisas só para matar o tempo. O lago, os patinhos e alguns pardais que encontrou em árvores do jardim.

Estava tão distraído, se abaixou para tirar foto de uma joaninha que encontrou ali, mas quando iria se levantar com o pequeno inseto em mãos, esbarrou em alguém, ou melhor dizendo colidiu, pois, o impacto foi tão forte que os dois corpos foram ao Chão com a mesma intensidade.

– Tinha que ser um esquisito pra sujar toda minha roupa, como é que eu vou aparecer assim no clube? Você não olha pra onde você anda não? É um mau educado mesmo, olha o tipo de gente que estou estudando era só o que me faltava 

Pedro olhava suas mãos um pouco arranhadas, ele reconheceu a voz que reclamava tanto.      pior não eram os arranhões que ardiam, e sim sua câmera que estava com o visor quebrado.

– olha o que você fez – ele disse baixinho, está triste, mal sabia quando haverá hipótese de ter outra igual.

– Eu fiz? Você que levantou com tudo do chão sendo esquisito, cara – João respondeu se levantando, mas agora pode visualizar quem estava ali.

– droga, eu não pensei que fosse você, foi sem querer – olhou a câmera. – de qualquer forma posso te dar... outra – João parou de falar quando Pedro lhe deu empurrão para sair de sua frente, ele estava com os passos tão firmes, que o outro poderia jurar que se ficasse levaria uma surra.

Agora era inevitável, ele não sabia o que estava acontecendo, mas que o motivo era o filho do motorista. João já havia pesquisado de tudo, primeiro se era normal achar meninos bonitos, segundo procurou o Instagram de Pedro que infelizmente era privado, terceiro sobre a câmera que quebrou para devolver a Pedro, e sua cabeça ficou o resto da aula toda repetindo aquele nome, ele não sabia mais parar.

A professora de matemática não parava de falar, João pediu licença para ir ao banheiro, mas apenas foi ao jardim e iria embora daquele lugar.

Do outro lado da escola, Pedro se concentrava na matéria que havia perdido por estar antes em uma escola mais atrasada, mas ele era bom em matemática e conseguia acompanhar. Por um minuto conseguiu avistar a janela, João saindo pela entrada do Jardim. Ele nunca tinha conhecido alguém tão fútil e patético quanto o mais novo.

                                                             :):

O metrô não estava tão cheio, pelo menos não quanto Pedro julgava que estaria. O trajeto até o clube foi longo, mas ele chegou menos triste do que mais cedo, pois, se lembrou que Carlos queria o chamar na sala dele.
Assim que chegou e passou pelo zelador, Pedro foi almoçar no restaurante do clube onde estavam outros funcionários. Sua pequena refeição foi rápida, agora estava ansioso demais.

Sua função era um tanto divertida, ele era o assistente de fotógrafo do clube infantil e se divertia muito com os pequenos. Eles eram muito alegres e cativaram o dia difícil de Pedro. Estava caminhando até a sala de Carlos bastante nervoso, o que será que aquele homem queria? O demitir? Será que o mauricinho do seu filho reclamou dele? Se ele fosse perder a bolsa, seus pais o emprego e tudo porque ele empurrou o filho do patrão, droga.

Estava sentindo suas costas pesarem mais que o normal que até se esqueceu que empurrou João depois da chamada de Carlos. deu leves batidas na porta e quando foi chamado entrou.

– Pedro, certo? – assentiu com a cabeça e se sentou quando o mais velho pediu.
– Sei que o assunto que tenho para falar com você não tem nada a ver com seu cargo aqui, é sobre o João Vitor, meu filho. Nesse momento todos os pelos do corpo de Pedro estavam arrepiados como um felino assustado. Ele sentiu seu coração errar as batidas – 'que merda - pensou baixinho.

– Senhor, juro que não esbarrei nele de propósito eu preciso muito dessa grana por favor!– se embalava em todas as suas palavras.

– do que está falando, Pedro? – Carlos sorriu de lado com o nervosismo do menino. João ficava do mesmo jeito quando estava na presença de sua mãe.

– É que... não é por isso? Hoje na escola esbarrei nele sem querer e 'a gente' acabou se desentendendo. – Pedro explicava ainda nervoso com a situação, mas um pouco aliviado.

– o meu filho pode ser bem difícil, não é? Um garoto irresponsável e mimado como ele, imagino como deve ser difícil conviver – Carlos riu, ele falava com tanta naturalidade daquela forma sobre o filho, era um tanto triste.

– Não é por isso que te chamei, seu pai e eu estávamos falando sobre você e João, ele me contou sobre como é aplicado e infelizmente essa não é a situação daquele ser humano. 

 deu uma pequena pausa para respirar fundo.

– queria que desse aulas para ele, sei que não são do mesmo ano e é mais velho, sendo assim você conhece a matéria e obviamente eu te pagaria por isso, a minha proposta é boa. Andei pensando e vocês garotos costumam ouvir mais uns aos outros, se eu contratar um profissional adulto esse menino só vai me fazer perder tempo e dinheiro, o que me diz?

– é... claro senhor – Pedro aceitou sem ao menos pensar em recusar, e o mais velho apertou sua mão com um sorriso bem desenhado.

Eles combinaram sobre os horários entre as aulas e o estágio de Pedro, no caso, quando João tivesse que estudar às terças, quartas e sextas Pedro não iria ao trabalho. O valor que ganharia pelas aulas era realmente significante para ele, nada comparado ao seu salário de estagiário. Ele não aceitou apenas pelo dinheiro, queria que seu chefe soubesse que poderia sempre contar com ele, mas não sabia como faria para suportar alguém tão complicado.

Camisa Dez - pejãoOnde histórias criam vida. Descubra agora