QUAL SANTO VAI OUSAR - NOVE

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9.

Três meses era tempo o bastante para sentir desespero. A peneira do AFC estava cada vez mais perto, João não sabia como não pensar naquilo. As coisas com Pedro estavam diferentes, de um jeito muito bom.

Uma amizade pura, cheia de sentimentos que o jogador não sabia explicar. Uma coisa ele havia percebido, às vezes, ele pensava muito sobre como seria beijar Pedro. Não que isso seja ruim, ele só não sabia se estava errado em pensar aquilo. Sentia coisas tão boas com ele, e não parecia ser errado como falavam por aí. Na aula o menino era sério, didático e apenas informativo.

Fora delas eles assistiam filmes, nadavam na piscina, iam à praia, a museus, Carlos convidava Pedro para jantar quase em todas às noites, eles soltaram pipa e João aprendeu com o outro que um saquinho de batatas não custava vinte reais, que a passagem do ônibus e do metro eram caras e que eles eram muito diferentes um do outro, e nada daquilo importava, conheceu um menino que gostava da cabeça aos pés e nunca tinha se importado de quem era filho, nas outras vidas, ele quer encontrar com ele, e nada disso seria igual, apenas o sentimento.

O dia anterior era feriado, uma segunda-feira sem ver o menino depois de três meses seguidos seria complicada, ou não, mas era uma ótima desculpa. Quem iria ousar, dizer que ele estava pecando?


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Do outro lado da cidade, a temperatura parecia até mais alta. Tófani não sabia o que se dava de presente a alguém tão rico. Como o amigo ousava não ter contado ser seu aniversário? Aquilo deveria ser proibido por lei. Ele daria uma festa surpresa se soubesse antes, mas lembrou que o outro já havia mencionado que não gostava muito de festas, um pouco contraditório para alguém mais extrovertido, porque Pedro era reservado, mas amava aniversários.

Avistou muitas coisas relacionadas a futebol, porém, sabia que João odiava o que fazia, mesmo que ele nunca tivesse dito em voz alta Pedro visualizava sua reação de exaustão quando o assunto da peneira e de futebol estava presente. Por outro lado, ele amava desenhar.

Entrou em uma loja de artes e pediu instruções, engraçado, quatro meses atrás jamais acharia que estaria gastando seu salário com um cara mimado. A questão era essa, ele não estava. o cara, mimado que João costumava ser escondia o cara estranho que ele fingia não ser. Estranho, exausto e às vezes triste.

Muitas vezes se pegou pensando no outro, ele gostava de pensar a pesar daquilo o assustar bastante.

Não demorou muito para chegar, o metrô estava em um ritmo normalizado aquele dia. Ficou um pouco nervoso coma ideia de entregar aquele presente. Não era só sobre um amigo, era alguém que ele sentia que poderia ser muito intenso. Aquela intensidade era o que ele precisava e não sabia. Ou não queria admitir.

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