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12.

Alerta — Ansiedade. Se você é sensível a este tópico, por favor, pule esta página.


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Cinco de dezembro, o dia da peneira.


Alberto Sanches estava cercado de crianças do clube infantil esportivo, o olheiro mexicano parecia se sentir em casa com aqueles pequenos sorrisos o chamando a atenção. Um embrulho no estômago de João, o vestiário parecia ser uma prisão naquele momento, seu pai se aproximou de Alberto com um enorme sorriso.

Futebol nunca foi seu lance. Ele odiava correr por horas, assistir jogos e todas as coisas relacionadas. O que compensava, era Carlos. Eles passavam mais tempo juntos, treinando ou vendo jogos e seu pai sempre dizia que ele estava melhorando. Ele sabia ser mentira, ele era horrível no campo. Carlos sempre odiou seu fracasso no colégio, mas nos campos ele tentava ajudar, deveria ser pela (fato) daquele ser seu trabalho.

Mas era a hora da verdade, ele treinou sua vida toda para aquele momento, gostando ou não. Quando a peneira começou, apenas Renan e seu pai assistiam. Sua mente parecia estar em turbulência em meio a tantos pensamentos, tanto medo. De início foi tranquilo, mas havia caído uma vez. Aquilo era frequente, mas nesse dia em especial João descontou todas as suas frustrações e toda raiva. Ouviu um apito, seu pai parecia frustrado. Mas algo chamou atenção, alguém.

Após um mês, desde três de novembro aquele alguém não parecia mais querer contato algum. João tentou insistir com medo do outro achar que ele havia desistido, mandou enumeras mensagens pedindo desculpas e perguntando se estava tudo bem. Pedro não respondeu, mas tinha prometido ir naquele dia, ele disse ser fiel as suas palavras.

"- Olha, você sabe que sou contra fazer algo que não quer, mas eu vou te apoiar. - Tófani confirmou, enquanto fechava seus livros.

- Não é fácil, eu queria dizer que não quero, mas esse é o sonho dele sabe?

- É o sonho dele, não é sua obrigação realizar"

Sua mente não tinha o direito, Pedro não se importava. porque seus pensamentos e conselhos pareciam gritar agora, se ele não se importava? As coisas pareciam girar, a Pressão, o formigamento sobre sua espinha. Sua cabeça parecia ter um peso de muitas toneladas, e um tropeço, ele caiu, e dessa vez quando se levantou correu de volta ao vestiário. Não demorou muito, e as batidas na porta começaram. Seus soluços eram altos suficientes para serem ouvidos do lado de fora, O homem mais velho bateu novamente.

- você ta machucado? É a perna, o joelho? Precisamos ir ao médico. João abre isso. - O homem disse em um tom instável tentando esconder seu desespero. João tinha saindo mancando do campo em quando demonstrava que iria explodir. Ele continuou a chorar, mas agora baixinho. Sabia que não poderia estar ali para sempre, mas o quanto durasse seria bom.

- Filho, eu vou ter que abrir essa porta, o que tá acontecendo? - O barulho das chaves. João prontamente se revirou no banco que estava em desespero.

A porta se abriu, a figura se aproximou, só dava para ver a sombra.

- Cacete João, isso ta feio - Carlos disse apontando para a lesão. a batida foi forte ao cair, seu joelho estava escurecendo cada minuto mais.

- Pai, eu não quero voltar pro campo - ele disse baixo, parecia forçar para sua voz sair.

- Claro que não, você precisa se recuperar disso aí, tenho certeza que o Alberto vai entender. Alberto, tinha até esquecido a presença do orador.

- Pai - Antes que fosse completar a frase, Pedro e Renan apareceram na porta do vestiário. Tófani carregava uma bolsa de gelo, ele se aproximou entregando a Carlos, que colocou sob o joelho do filho, aliviando a dor.

- Eu vou chamar o enfermeiro, é melhor - Pedro se afastou, Renan olhou o primo como se perguntasse se estava bem.

- Eu não to morrendo não precisa desse exagero - João se recompôs, passando o gelo na área.

- Não seja orgulhoso, ele quer ajudar - Renan respondeu, fazendo Romania mais novo revirar os olhos.

Por mais que Pedro fosse um idiota, na visão de João. Ele estava certo sobre algo. João pediu água ao primo, que saiu em instantes.

- pai, eu não - suspirou, ele não conseguia nem olhar para o homem. Não queria ver seu olhar decepcionado.

- eu odeio futebol, eu sei que é seu sonho..., mas eu nunca vou suprir as suas expectativas, eu quero, eu vou ser. - limpou a garganta.

 Pedro havia visto um de seus desenhos escondidos alguns meses atrás, ele disse com os olhos brilhando "Porra, você é um artista inteiro, fez isso tudo com um lápis?" É, com seu presente de aniversário, os pinceis e a tinta aquarela, ele aprimorou muitas de suas técnicas. Junto ao presente estava escrito "Para meu artista favorito, espero que saiba tudo o que você significa"

Ele sabia, agora ele sabia.

- Eu sou um artista, eu odeio futebol e eu não quero ser como você - jogou todas as palavras.

Carlos se abaixou. Por um minuto via aquela criança, parecia tudo tão claro. Como ele não havia notado? Se sentia horrível por não reconhecer o que a pessoa que mais amava queria, João fez todos aqueles anos de treinos em sua pressão, todos os anos fazendo o que odiava por sua causa. Quando a mãe do outro foi embora, seu mundo entrou em grande desespero. O que ele faria sozinho? Não havia um manual de como criar um filho após perder o amor da sua vida. Mas ele havia falhado com o seu maior e verdadeiro motivo, o seu filho.

- me desculpe por não ser tudo que você sempre quis, eu queria conseguir ser melhor que isso. - A voz de seu filho voltou ao tom de antes. - eu não queria estragar seus sonhos, me perdoa pai.

- João, o meu sonho - O mais velho se sentou no chão ao lado do banco. - Meu sonho era ser pai de um menino saudável, feliz e bondoso. Isso foi realizado no momento em que você me escolheu pra ser seu pai.

As lagrimas de João se sentiam cada vez mais livres para aparecerem.

-Ser jogador era um sonho do passado, um sonho meu. Eu sei que te criei com a ideia de que seria um jogador, eu tinha a certeza de que você amava esse clube tanto quanto eu, mas eu jamais quero que você perca a sua vida. Eu queria que você estudasse, descobrisse todas as coisas que você precisa pra ser a melhor versão de você - O mais velho se levantou.

" Eu não sei o que teria feito se não tivesse você, no momento em que sua mãe foi correr atrás dos sonhos dela eu percebi que eu não precisava chorar, eu nunca estive sozinho, eu sempre te quis na minha vida e esse foi o meu maior acerto, meu filho'

João estava errado quando disse que o abraço de Pedro era o melhor do mundo, só perdia para o de seu pai. Ele era forte e acolhia o mais novo como se ele pudesse sentir que sempre teria aquele lugar pra voltar, os braços de seu pai eram sua verdadeira casa.

Camisa Dez - pejãoOnde histórias criam vida. Descubra agora