Capítulo 3 - Espio você

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Os cliques da câmera enchem o fundo silencioso que se instala na sala. Susan deixou de me olhar assim que fiquei perdida com as poses, deflagrando-me da pior forma possível. Agora, ela dá atenção para o celular, com o dedilhar rápido sobre a tela.

Já eu, ... não consigo deixá-la um minuto sequer. Examino seu corpo magro, com os ombros mais largos do que deveriam e músculos desenhados, que descem pelos braços. Sendo desproporcional para uma mulher.

"É um homem e não uma mulher" — praguejo internamente.

Ela se volta para mim e me pega olhando-a. Suspira pesado e cruza os braços novamente embaixo dos seios para analisar as minhas poses.

— Susan, estou terminando — avisa Luigi com a câmera no rosto. — Quer alguma pose específica? Ou montar outro look?

Susan se desencosta da parede e vem em nossa direção. Minha cabeça a acompanha. Anda como se desfilasse, com o queixo levantado, confiante sobre o salto que usa.

Ela é linda.

"Meu Deus! O que está acontecendo comigo?!" — desespero-me.

Assim que para atrás de Luigi, olha dentro dos meus olhos, com aqueles méis amarelados indecifráveis. Nervosa, comprimo os lábios molhando-os.

— Me dá a câmera — pede em tom impaciente.

Luigi tira a alça do pescoço e a passa para Susan.

— Já volto — avisa Luigi. — Preciso beber água e esticar o corpo um pouco — diz antes de seguir para a porta e sair.

Endireito-me sobre a poltrona, descendo os pés para o chão.

Engulo a seco enquanto observo Susan atenta à câmera. Um vinco surge no meio da sua testa. Ela levanta os olhos para mim e me encara por um tempo, tirando o ar dos meus pulmões.

"Será que alguma foto ficou ruim?"

Volta-se para a tela da câmera.

— Acho que temos o suficiente — diz ao abaixar a câmera.

Entendo a deixa e me levanto. Susan me olha de volta.

— Espero que tenha ficado como queria — digo.

Ela concorda com a cabeça.

— Na verdade, ... estou surpresa — diz levantando as sobrancelhas.

A última palavra de diz arranha meus ouvidos. Porque, por mais que eu veja uma mulher linda, enxergo o homem dentro dela.

— Você fez um belíssimo catálogo — completa sorrindo cordialmente para mim.

Não é bem isso que eu imaginei sobre pessoas como ela. Achei que as travestis fossem maliciosas, depravadas, bocas sujas e baixas. Esquadrinho seu rosto e sorriso perfeito.

— O cliente vai ficar satisfeito — diz trazendo-me de volta dos meus pensamentos.

Sorrio tímida e aperto uma mão na outra.

— Isso é bom — digo sem prestar atenção no que falo, perdida no rosto de Susan.

Ela perde o ar de tranquilidade e sua expressão contrista.

— É sim — concorda parecendo tão aérea quanto eu.

Pensa algo encarando-me.

Susan: A história de uma travesti que se apaixona por uma mulher ((DEGUSTAÇÃO))Onde histórias criam vida. Descubra agora