Capítulo 9 - Lolla

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Devido à fragilidade de Doris, preferimos deixá-la longe do trânsito. Por esse motivo, estamos distantes do autódromo. Juntos, caminhamos pelas ruas e, a cada quarteirão que atravessamos, o número de pessoas aumenta. Em grupos, ou em pares, cada um com seu estilo e atitude. A única coisa unânime em todos é a euforia.

Uma pessoa ou outra perde tempo ao olhar-nos passar. Em sua grande maioria, são mulheres, sempre com o alvo em Felipe. Depois, ... seus olhos caem sobre mim e Júlia, e logo o deixam de encarar. Provavelmente achando que eu ou ela somos a namorada.

Isso sempre acontece.

A verdade é que nunca vimos Felipe com alguém. Não falamos sobre o assunto, porque ele não nos dá liberdade. Então para que forçar? Seja como for, o amamos e pronto.

Ao cruzarmos a rua de um lado para o outro, penso na hipótese de ele ser gay e logo me cai a consciência, a nossa criação cristã. Seria um escândalo e tanto. Encaro o meu amigo e o vejo sorrindo ao conversar com Júlia e balanço a cabeça para dissipar os meus pensamentoSem que perceba, sorrio, amando-o.

Somos controversos de qualquer jeito. Se ele for gay, ... eu já beijei uma travesti. Meu olhar desce para Júlia pensando na hipótese de ela ter um segredo tão tortuoso quanto. Afinal de contas, quem não tem um segredo guardado a sete chaves?

— Bete, que jaqueta é essa? — pergunta Felipe curioso.

Tiro meus olhos de Júlia para vê-lo.

— Ahn, ... — mexo na jaqueta, olhando-a. — Eu acabei ficando com ela ontem... — digo sem dar importância. — ... depois da sessão de fotos.

— Sessão de fotos? — quer saber Júlia com um olhar esperto.

Felipe me espera com explicações.

— Ontem, quando voltei do teste, acabei passando em frente a uma agência de moda. Eles me viram e precisavam de alguém para fotografar um catálogo. Eu acabei fazendo o trabalho... ou job, como dizem.

Os dois arregalam os olhos para mim.

— Sério?! — Camila se exalta. — Que show!

Concordo com a cabeça.

— E eles me pagaram muito bem pelas fotos — lembro.

— Quanto?! — quer saber Felipe.

— Mil e quinhentos, por quatro horas.

Felipe assovia. Júlia bate no meu braço extasiada. Encaro-a como se fosse louca.

— Precisa bater?! — reclamo conhecendo o seu jeito espalhafatoso.

Ela faz uma cara, como se eu fosse mimada, para me chacotear.

— Ahn! — exclama fazendo bico. — Desculpe, Lizze! — é irônica.

— Ai! Cala boca, Júlia!

— Bete — chama Felipe.

Olho para ele.

— Será que tem como me colocar nessa, de foto, também?

Lamento mentalmente ao sairmos da rua para subirmos a calçada.

— Puxa, Fê, eu não sei se vou ter outro contato com eles,... mas posso te explicar onde fica.

— Eu acho que você pegaria um trabalho facinho — fala Júlia para Felipe.

Susan: A história de uma travesti que se apaixona por uma mulher ((DEGUSTAÇÃO))Onde histórias criam vida. Descubra agora